Vamos desmitificar Tolstoi?
(Imagem retirada daqui)
Há vários anos que desejava ler os livros de Tolstoi, mais para matar a curiosidade das várias referências aos livros do autor em filme e reportagens do que outra coisa qualquer. A curiosidade aguçou-se mais um bocadinho quando vi o filme ‘A última estação’, uma espécie de biografia do autor. A gota de água foi definitivamente o filme que saiu em 2012 de Anna Karénina, o qual me fez apaixonar imediatamente pela história. Assim que tive oportunidade numa promoção comprei o livro.
A palavra ‘Tolstoi’ por si só impõe respeito, pensa-se logo em palavreado complicado, cheio de analogias e conversas filosóficas. Pelo menos era o que tal me surgia. O grande escritor Russo, reconhecido a nível mundial como um dos melhores autores de sempre com o livro ‘Guerra e Paz’, sempre me impôs um certo receio. Arrepiava-me só de pensar que um dia que pegasse no livro não o conseguisse ler e me fosse sentir a maior das ignorantes. Adiei a sua leitura, até que cai na tentação.
De modo a atenuar os receios decidi não começar pela sua maior obra, mas sim por um romance, a paixão por Anna Karénina já estava presente por isso era a leitura ideal. Li, devorei e adorei o livro. Tudo o que imaginava de complicação a ler Tolstoi desapareceu assim que me perdi nas páginas daquele romance, negro, doentio e apaixonante. A critica à sociedade, os circunlóquios filosóficos sobre um mundo ideal, estiveram sempre presentes, mas nada disso complicou a minha leitura do livro. Aliás, o maior problema foi mesmo entrar no ritmo de leitura do livro devido a tantos nomes e locais semelhantes, tirando isso o vocabulário não é demasiado complexo e é bem mais simples que o de Saramago.
Depois de perdido o receio em 2015 decidi aventurar-me na leitura de Guerra e Paz I e II. Admito que foi ligeiramente mais complicado entrar no seu ritmo, não sei se pelos nomes, ou se pelo maior número de personagens e situações familiares, mas tirando isso depois de entrar no contexto foi difícil de o largar. As críticas dos finais do século XIX eram adequadas para a época, mas nunca deixaram de ser actuais. Os seus ideais de evolução ainda estão presentes no nosso dia-a-dia, apesar de não serem os utilizados e os idealizados para uma sociedade corrupta. É claro que as críticas mantiveram-se nas suas palavras, mas surgiram também soluções que nunca foram colocadas em prática e que poderiam ter melhorado tanto a nossa qualidade de vida.
Hoje, ao saberem que li Tolstoi perguntam-me se realmente é tão difícil quanto o dizem ser e nego. Nego plenamente a afirmação, não é difícil é simplesmente necessário ter-se gosto, nada mais. Conheço muitas pessoas que não o leram pelos mesmos receios que eu tinha (comprar livros caros e ainda por cima não vir a conseguir lê-los é dose!), mas aqui estou eu a desmitificar Tolstoi e a sua complexidade de leitura. Tolstoi é de ideias complexas, avançadas para a época em que estava e de uma mente tão genial como não me lembro de ler, mas não é difícil de ler. É acessível a quem estiver disponível a entrar no seu mundo de romance, nobreza, guerra e idealismos.
Quem ficou agora curioso em ler Tolstoi?