Vamos abolir os estágios profissionais
(Imagem retirada daqui)
Durante os anos em que estudei apenas vi vantagens nos estágios curriculares. Estávamos em contacto com a profissão que viríamos a ter e estar no terreno era uma das maiores vantagens que poderíamos ter. Sem dúvida alguma que os estágios me ensinaram muito mais do que alguma vez poderia aprender sentada numa cadeira. No meu curso, tive estágios desde o primeiro ano de faculdade, nem sempre fáceis, por vezes com orientadores complicados, mas a verdade é que aprendi imenso com cada um deles. Via nos estágios todas as vantagens e mais algumas. Agora já não tenho essa perspectiva.
Terminei o meu curso há cinco anos e apesar de trabalhar há dois, a tempo inteiro, fora da área em que me formei, a verdade é que nunca deixei de procurar um lugar para fazer aquilo que realmente gosto. À noite, já sentada no sofá, rara é a vez em que não vou ver os anúncios de emprego e é aqui que aumenta um bocadinho a minha revolta contra o mercado de trabalho na área da saúde (ou até nas outras áreas, como se tem verificado). A procura incessante por candidatos para estágios profissionais é absolutamente ridícula. Raros são os anúncios, de profissões para licenciados ou até para pessoas com cursos profissionais, em que as palavras "estágio profissional" não estejam associadas. Se me dissessem que são empresas que querem novas pessoas, que querem primeiro ensinar e depois enquadrar a pessoa na empresa, eu aceitaria a opção. Pareceria-me mais que lógico, mas a verdade, é que com tanta procura para estágios profissionais a única coisa que me vem à cabeça é a descartabilidade dos profissionais. Os estágios profissionais não são propriamente bem remunerados (quer dizer, se for a pensar bem eu até ganho apenas isso), mas a uma primeira vista pareceria normal, afinal é alguém que ainda vai aprender, que vai entrar no mercado do trabalho. O problema é quando as empresas usam e abusam deste termo e a culpa está também no nosso sistema e no próprio IEFP que os deixa abusar de uma forma desmedida no enquadramento de estagiários. As empresas têm recorrido a este título absurdo para conseguirem trabalhadores empenhados, com qualificações, mas a baixos custos e quando um termina outro entra. E como sei? É fácil, basta acompanhar diariamente os anúncios de empregos para compreender que de tempos a tempos as mesmas empresas procuram candidatos com as mesmas características que nove meses antes o tinham feito. A minha área de trabalho é bastante reduzida e isso ainda é mais notável.
Nunca fiz o estágio profissional, no meu primeiro emprego essa era a promessa, mas o patrão não podia aceder a essas ofertas do IEFP e andei meio ano de olhos tapados e ilegal. Depois disso nunca mais me surgiu essa oportunidade, passei pelos recibos verdes durante mais tempo do que o esperado e depois fui 'obrigada' a abandonar a minha área se queria ter um salário (mesmo que próximo do mínimo), mas com um contrato. O ridículo surge quando, ao fim de cinco anos de estar no mercado do trabalho, ainda ver anúncios para estágios profissionais e que ainda pedem a experiência! Ainda há dias me ligaram a perguntar se era legível para estágio profissional, ao fim de cinco anos! Se os estágios profissionais surgiram como uma boa forma de levar os jovens para o mercado do trabalho, neste momento podemos ter até quarenta anos que ainda achavam que deveríamos ser legíveis para estágio profissional. O que poderá algo ter começado como uma boa iniciativa tornou-se rapidamente num uso excessivo das entidades patronais para conseguirem contratar a baixos custos e sem qualquer tipo de preocupação com vínculos com a empresa.
Isto torna-se de tal forma ridículo, absurdo e até abusivo que sou completamente a favor da abolição dos estágios profissionais. Se o IEFP não tem a capacidade de controlar as empresas, se o estado não protege os profissionais e se as empresas apenas utilizam esses recursos para pouparem uns trocos, não consigo encontrar vantagem nenhuma nestes estágios profissionais. Os estágios profissionais fizeram dos recém chegados ao mercado do trabalho em profissionais descartáveis que deixam de ser necessários após o primeiro estágio, fizeram do mercado do trabalho uma procura incessante por pessoas que possam realizar os estágios profissionais e todos os outros, por muito bons que sejam, não compensam os custos. Por isso: ABAIXO OS ESTÁGIOS PROFISSIONAIS! Talvez assim conseguisse um emprego a tempo inteiro na minha área...