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justsmile

21
Jan21

Uma apatia que mal consigo expressar...

(Imagem retirada daqui)

       É o que sinto neste momento.

       Estamos a breves momentos de vermos, novamente, o encerramento de todas as escolas e só me passa pela cabeça "o que vai ser destes miúdos?". Eu sei que é um mal necessário, que neste momento precisamos de controlar esta força invisível que tem consequências catastróficas na saúde e na nossa sociedade, mas não consigo tirar da minha cabeça estes pensamentos. Comecei a trabalhar em Novembro numa realidade diferente da que trabalhei nos últimos dois anos, deparei-me com uma pobreza maior, com um absentismo na escola enorme, com a falta de motivação para o contexto escolar e até para novas aprendizagens. Gostei do desafio que me veio parar às mãos, queria colocar o mais rápido possível 'as mãos na massa' e começar a trabalhar com os miúdos. Na minha mente tinha um plano bem traçado, um elevado número de tarefas e actividades para realizar, mas a verdade é que só em Janeiro consegui ter esse primeiro contacto. E as coisas estavam a correr bem, consegui captar a atenção da maioria dos alunos em intervenção, logo nas primeiras sessões e estava motivada para trabalhar, mas agora tudo volta a encerrar e volto a questionar-me, "o que vai ser destes miúdos?". A maioria não tem internet, nem computador, alguns nem electricidade têm em casa, o que irão eles conseguir acompanhar? Muitas vezes nem os próprios pais demonstram interesse nesses miúdos e muito menos nas aprendizagens que eles precisam de fazer, quanto mais a intervenção de uma Terapeuta da Fala.

        Sinto uma apatia no peito, por eles e até, de um modo um tanto ou quanto egoísta, por mim. Queria demonstrar a importância da minha profissão, demonstrar que tenho muito para dar e que é possível fazer a diferença com esses miúdos, mas tenho a sensação que me tiraram o tapete dos pés. Sei que terei de encontrar alternativas, encontrar novas formas de me envolver, de demonstrar que estou aqui para trabalhar e que não me importo de fazer seja o que for, mas tenho na boca aquele sabor amargo da desilusão.

      Sei que é extremamente necessário este confinamento, sei que as escolas têm sido lentamente afectadas e que neste momento não há margem de manobra, compreendo-o e nem é isso que me revolta. O que verdadeiramente me incomoda é a falta de noção da nossa sociedade para a realidade, a falta de consideração pelo esforço que os profissionais têm feito neste (quase) último ano e continuarem a fazer uma vida normal como se não houve-se uma guerra invisível lá fora. Custa-me imenso ver pessoas a fazerem ajuntamentos de amigos e familiares em casa, a continuar a ir passear para a marginal como se fosse um domingo como todos os outros e argumentarem-me que as pessoas estão cansadas de tudo isto não me convence e sabem porquê? Porque também eu estou cansada e continuo a fazer todos os esforços para me proteger e proteger os meus. Aliás, já passei a fase do 'estar cansada', estou neste momento 'esgotada' de tudo isto, mas não sou egoísta ao ponto de colocar tudo em risco. Estou só esgotada.

           Eu sei que deveria estar mais positiva, mas hoje sinto-me assim, apática.

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