Terei nascido para lutar?
(Imagem retirada daqui)
Por vezes ponho-me a pensar se esta será a minha sina, lutar por tudo e por nada. Desde o início da minha adolescência que virei uma lutadora, até lá tinha tido a infância (quase) perfeita que qualquer criança poderia ter. No início da adolescência, quando a empresa particular dos meus pais faliu tudo começou a ruir (ou terá começado a ruir uns anitos antes?). Passamos por grandes dificuldades financeiras e tive de crescer de um dia para o outro, preocupando-me com questões financeiras que não seriam apropriadas para a minha idade, mas com o pai emigrado, a irmã e o irmão a trabalhar fora não havia muitas opções. Desde então a minha vida tornou-se numa luta constante, não só com os cêntimos contados na carteira, mas por tudo o que tenho conseguido na minha vida e por todas as conquistas que tenho alcançado. Foi uma luta para entrar na universidade e conseguir ter médias numa altura em que a minha família mais dificuldades passava, não só financeiras, mas principalmente emocionais por um pai que ao fim de trinta anos de casamento com a minha mãe se viu obrigado a partir. Foi uma luta para conseguir estudar e manter uma bolsa de estudos, a minha vida começou a rodar em volta da universidade para nem sequer haver a mínima hipótese de perder a bolsa, hoje apercebo-me que, apesar de ter tido muitas coisas boas, vi a universidade com um só objectivo: terminar o curso com a bolsa e nunca deixar uma cadeira para trás. Lutei para conseguir a minha carta de condução, lutei contra injustiças durante o percurso académico (o que me penalizou em várias coisas) e no fim de tudo, lutei continuadamente para conseguir entrar no mercado de trabalho. Entre todos esses momentos não me lembro de nada que tenha vindo parar à minha vida de mão beijada. Tive sempre de lutar por tudo e mais alguma coisa e por vezes, naqueles dias em que me sinto cansada, em que as esperança parece estar mais desmoronada, questiono-me se a minha vida será assim uma luta constante.
Vejo à minha volta pessoas atingirem as coisas de um dia para o outro, sem darem voltas e voltas, sem se questionarem sobre isto e aquilo, sem terem tantos percalços aqui e acolá, sem realmente se aperceberem da sorte que têm. Já eu, de cada vez que quero algo o percurso é sempre cheio de buracos, com blocos de pedra que necessito de furar ou de contornar. Nunca tive um caminho em alcatrão novo, que seja sempre em recta ou que me permita parar para descansar um bocadinho. Desde que me lembro de ser gente que sempre tive de lutar pela mínima coisa. Seja por um emprego, por uma nota ou até por um miminho para mim.
Será que há pessoas que nasceram para lutar eternamente e outras que nasceram para receber as coisas caídas do céu? É que isto parece-me totalmente injusto… Sei que damos mais valor às coisas quando sou lutadas, suadas, mas uma vez por outra era perfeito que a coisa surgisse de mãos beijadas, ou pelo menos planeadas como sempre estiveram. Acho que o meu destino tem escrito ‘lutadora’ e nada mais.