Esta distância que mói
(Imagem retirada daqui)
Esta distância começa agora a pesar-me na alma.
Admito que não sou uma pessoa de grandes festas, de andar sempre em bares e cafés com amigos. Sou uma enorme apologista dos jantares caseiros com amigos e família, sou mais dada ao conforto da casa e aos serões com uma boa bebida e muita conversa. Sou daquelas pessoas que cada vez se foi ligando mais à família, aos sobrinhos, irmãos e primos. Sou uma fã incondicional da vida 'caseirinha' e sempre a apreciei, assim como continuo a apreciar. No entanto, esta coisa do distanciamento social começa a nutrir os seus efeitos, começo verdadeiramente a ficar cansada.
No início de toda esta pandemia, quando ainda não sabíamos bem o que nos esperava, não senti na pele o distanciamento. Estive três meses em teletrabalho e, apesar de sentir a falta dos colegas de trabalho e da família, as coisas levaram-se muito bem. Durante o verão ainda estive uma ou outra vez, sem grandes abusos e sem grandes proximidades, com os meus familiares. Ainda tive oportunidade de aconchegar os meus sobrinhos, de ter o mais novo lá em casa a passar alguns dias e, apesar da vida não ser como era dantes (com agenda cheia para churrascos e para jantaradas), aceitei bem este distanciamento. Compreendia e ainda compreendo, mas agora a saudade começa a custar mais com estes afastamentos forçados. O sobrinho que nasceu em Agosto só conhece o colo da mãe e do pai, toda a restante família apenas através de um ecrã, estive com ele duas vezes e numa das vezes toquei-lhe num pé. Tenho saudades dos meus outros sobrinhos, de brincar com eles, de os esborrachar com mimo e de andar com eles à 'guerra' no sofá. Tenho genuinamente saudades dos almoços de família, com os meus irmãos, pais e sobrinhos. Tenho saudades de deixar as minhas primas entrarem em minha casa à vontade e de me sentar no sofá com elas a brincar. E dos jantares com os amigos em casa? Tenho saudades dessas noites que se prolongam nas horas e que trazem gargalhadas. Tenho saudades desse calor humano, desse convívio sem receios, sem consciências pesadas e de simplesmente estar bem com as pessoas que gosto.
A verdade é que realmente começamos a valorizar ainda mais as coisas quando nos vemos privadas delas. Sempre gostei destes convívios com os amigos próximos e com a família, mas agora? Agora desejo-os como nunca, não sabemos como será o natal, não sabemos qual será a próxima vez a estarmos juntos e muito menos quando poderemos dar aquele verdadeiro abraço. É isto que mais me tem custado no meio de todas estas imposições. Não é o facto de me obrigarem a ficar em casa porque nunca o senti como uma obrigação, sempre tirei prazer de poder ficar em casa. Não é o facto de não poder ir às compras quando bem me apetece, porque se já o fazia muitas vezes online, agora é praticamente tudo online. Nem é pelo facto de não poder viajar, claro que gostava de o fazer, mas compreendo e não me custa minimamente aceitar esse tipo de condição. Mas é quando mexem com o meu coração que mais me custa, foi tirarem-nos estes pequenos prazeres da vida que mais me tem custado. É, neste momento o que mais me custa, estar longe de quem mais gosto e de estar a perder momentos preciosos com a minha família.
Esta distância começa a moer e esta saudade já começa a doer.