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justsmile

06
Out23

Será um regresso?

        Nos últimos tempos tenho dado por mim a pensar neste espaço, nas saudades que tenho em escrever, nas saudades que tenho de conseguir exteriorizar os meus pensamentos, as minhas emoções. Na sequência para o regresso entra na equação o tempo, a mente, o espaço e até a capacidade para voltar a conseguir escrever.

        O tempo continua escasso, com um mestrado em mãos, um bebé em casa e um trabalho a tempo inteiro (entre escola e clínica) esse teimoso continua a tentar escapar, entra numa espiral que não pára e parece que nunca consigo arranjar o tempo para conseguir escrever seja o que for (para além de relatórios, emails e coisas da tese). Montes de tarefas acabam por se sobrepor e os momentos livres tento desligar o cérebro e deixar o corpo vegetar um bocadinho.

       A mente tem também divagado mais facilmente, ser mãe diminuiu a minha capacidade de atenção e concentração (apesar de estar melhor desde que comecei a trabalhar), mas pareço ter uma constante lista de coisas a fazer a pairar sobre os meus ombros, impedindo-me de avançar de forma efectiva. A mente está também cansada e pede imensas vezes o "turn off", acabando por deixar coisas que gosto de fazer para trás, como ler, escrever e ver filmes.

      O espaço é também uma velha questão, quando me lembro de escrever ou até parece que tenho algo para dizer, estou sentada no sofá e não quero ir buscar o computador. Sou da velha guarda e não consigo escrever longos textos no telemóvel, será uma questão de espaço ou de vontade? Agora fiquei na dúvida, se calhar a mente aqui também é metida ao barulho e acaba por ter um maior peso na decisão do que propriamente o espaço.

       E por último, a capacidade de voltar a escrever. Sinto que as palavras me fugiram, que os temas que me pairam pela cabeça não têm interesse, que a maioria são coisas corriqueiras do dia-a-dia ou desta minha nova vida de ser mãe. Sinto que a minha capacidade para escrever, para ser eloquente tem desaparecido gradualmente e que faço um esforço enorme para me conseguir exprimir da forma correta ou adequada. Não sei se foi o cérebro que "encolheu", se foi o cansaço ou o facto de ainda não conseguir fazer tudo aquilo que quero incluir na minha rotina.

        Isto tudo para dizer que tenho tido vontade de regressar a este espaço, de voltar a escrever mais do que o mero banal para a vida profissional. Não sei se hoje será o primeiro passo para o meu regresso ou não, mas aqui fica o meu registo de como desejo cá voltar.

30
Jan23

O regresso ao trabalho depois de ser mãe

         

(Imagem retirada daqui)

      Depois de ter sido mãe pensar em voltar ao trabalho parecia-me algo irreal, algo que não seria capaz de fazer. Durante quatro meses não quis pensar em regressar ao trabalho, era impensável deixar o meu filho ao cuidado de outra pessoa e acabava por sofrer por antecipação com esses pensamentos. Defendia, e ainda defendo, que a mãe deveria estar o primeiro ano com a criança ou pelo menos seis meses, até porque se a Organização Mundial de Saúde defende a amamentação exclusiva até aos seis meses de idade, porque raio temos de ir trabalhar mais cedo? Durante mais de metade da minha licença achava impossível deixar o meu filho, de forma confortável com outra pessoa, mesmo que fosse o pai (em quem confio a 100% para cuidar dele). Contudo, entre o quarto e o quinto mês algo mudou. O stress provocado pelas mudanças para a nova casa, a ansiedade em deixar a casa organizada, a chuva que não me permitia sair com o pequeno e o facto de não conseguir extrair leite para preparar o meu regresso começou a deitar-me a baixo. Não conseguia relaxar e comecei a sentir-me presa, como até ao momento não tinha sentido. Sentia o peso do mundo nos meus ombros, sentia-me abafada e de cada vez que saía a ansiedade dominava-me. Bati no fundo, senti-me desesperar e nunca, nunca foi por causa do meu filho, foi toda a envolvente e o facto de me sentir dependente de alguém para fazer as minhas coisas (desde o mais básico banho a conseguir arrumar a casa). Sei que não é bonito de se dizer, mas senti-me sufocar. De repente, voltar ao trabalho era o meu maior desejo, precisava de ser algo mais do que mãe, precisava de sair de casa (onde tem sempre coisas para arrumar) e precisava de ter um momento meu, nem que fosse nas viagens de carro para o trabalho. 

          Admito que soou estranho a muita gente o facto de um momento para o outro o meu maior desejo ser regressar ao trabalho, muitos me olharam de lado como se isso fizesse de mim má mãe, e acreditem que até eu própria o cheguei a questionar. Já não bastava não ter conseguido amamentar em exclusivo o meu filho até aos seis meses, como sempre tinha desejado, ainda tinha vontade de o deixar? Mas hoje, na minha terceira semana de trabalho, compreendo que foi o melhor que me aconteceu, pois consigo ser uma melhor mãe para o meu filho. Estranho? Talvez nem tanto, sinto que ao sair de casa, ao ter um outro objectivo que não manter a casa arrumada e cuidar do meu filho, recuperei parte da minha paciência, da minha atenção e da minha leveza. Claro que quero sempre regressar o mais rápido possível a casa, claro que quero receber mensagens do meu marido a dizer que o pequenino está bem, mas a verdade é que este meu regresso era mais do que necessário para a minha saúde mental. 

         Ser mãe é realmente das melhores coisas que me aconteceram na vida, aliás, efectivamente a melhor, mas também das mais desgastante e as condicionantes externas não me ajudaram em nada nos últimos meses. O meu regresso era a minha maior necessidade e sei que o meu filho está bem com o pai, que partilhou a licença comigo. Se o pequeno sentiu a minha ausência? Sem dúvida, durante este tempo todo fui a principal cuidadora e custou-me imenso saber que não pegava no biberão, que não fazia a sesta de manhã porque sentia a minha falta, mas a verdade é que acabou por se habituar e compreender que a mãe regressa sempre. E regressa com um enorme sorriso, com muitos beijinhos para dar e com a capacidade de o colocar acima de todas as tarefas domésticas, que as atrasa até à hora de ele dormir apenas para lhe poder dar toda a atenção que merece.

        Ainda me sinto um ser muito estranho quando me questionam: "Deve-te estar a custar muito o regresso ao trabalho.", mas a verdade é que não. Talvez me vá custar quando não for deixar só com o pai, talvez mais tarde me vá custar mais quando o deixar na creche ou quando ele perceber que estou ausente e chorar, mas agora? Agora agradeço o meu regresso, precisava mesmo disto, de ser Terapeuta da Fala.

04
Jun20

Depois deste tempo todo, voltar à rotina

 

IMG_20200604_135656.jpg

(Imagem de Just Smile)

         Depois de quase três meses em casa, a rotina fora de casa voltou de forma inesperada e completamente absurda. Gostava de acreditar que o confinamento tinha mudado a mente das pessoas, que toda a situação actual do mundo fizesse com que as pessoas aprendessem a valorizar o trabalho e não levarem a avante simples caprichos. Que o mundo empresarial tivesse compreendido que tem bons funcionários e que o teletrabalho nunca fez parar o serviço, nem por um segundo. Pois, enganei-me. Acreditar no crescimento da humanidade nas pessoas é das coisas que mais me faz ficar desiludida quando caio na realidade. De um dia para o outro, sem qualquer tipo de argumentação a não ser um simples "porque sim" (conjunto de palavras com as quais sempre tive bastantes dificuldades em aprender a lidar) tivemos de voltar às escolas, onde não há crianças, onde continuamos a dar teleconsultas e onde, simplesmente, o fundo do ecrã mudou. Deixei de ter o meu candeeiro, as minhas cortinas e a parede branca como fundo das minhas sessões, para passar a ter uma cadeira desconfortável e uma parede amarela e suja. Porque o eu quero, posso e mando ainda persiste no mundo empresarial. Porque o bem estar dos funcionários continua a não ser uma prioridade, mas sim os caprichos de quem tem o poder nas mãos. Continuo sem perceber porque voltei, mas a verdade é que voltei.

         Ontem foi o meu primeiro dia de regresso às escolas, não ao trabalho porque nunca deixei de o fazer (até foi redobrado), mas ao local onde seria de esperar estar cheio de crianças, barulho, correrias e campainhas. É estranho voltar a uma escola fantasma, amaldiçoada por um silêncio surdo que nos faz relembrar a todo o momento que o que vivemos é novo para todos nós. Cada um de nós fecha-se nas suas salas, distanciados uns dos outros e voltamo-nos para o computador, onde é passado o resto do nosso dia entre teleconsultas, preenchimento de documentos e preparação de materiais. No fundo tudo o que fazíamos em casa, mas num contexto estranho, vazio e vagamente triste. Custou-me voltar a levantar uma hora mais cedo para fazer tantos quilómetros, quebrou-me a alma ter de preparar a marmita para voltar para um sítio que não era o que recordava dele, mas voltei a sentir que o tempo me iria começar a escapar das mãos. Isso sim, foi a sensação mais estranha que tive. O corpo também estranhou as calças de ganga e as sapatilhas por mais de uma hora, assim como o maior controlo dos horários. Todo este regresso tem sido estranho, obrigou a uma nova reorganização de horários, sem qualquer tipo de necessidade, à elaboração de uma nova rotina e até a novos hábitos de higienização que nunca me tinham passado pela cabeça.

           Em mim está a estranheza dos novos tempos. Em mim continua a questão do porquê de ter de cumprir com o capricho de alguém. Em mim continua a sensação de que tudo mudou e ao mesmo tudo permanece igual. Em mim está uma ambiguidade de pensamentos e sensações.

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