1 ano de 'Administrativa'
(Imagem retirada daqui)
Há um ano a minha vida deu uma volta gigantesca. Deixei de ser desempregada a tempo inteiro, deixei o meu trabalho no armazém em que trabalhava em turno nocturno (há pouco mais de um mês) e vim para uma empresa da minha terrinha que nem sabia que existia. Depois de uma entrevista, um tanto ou quanto estranha, fiquei nesta empresa, onde hoje faço a primeira renovação de contrato da minha vida. Antes de para cá vir tive de fazer o luto da minha profissão de sonho, tive de pensar em primeiro na minha sanidade mental e nas minhas questões financeiras e só depois nos meus sonhos. Tive de compreender, consciencializar-me de que a vida nem sempre segue o caminho que imaginamos, que sonhamos ou planeamos e que por vezes é preciso dar um passo atrás para conseguirmos dar dois na direcção que tanto pretendemos. Sei que a nível profissional esta profissão não foi nada de encontro ao que imaginava para mim e até sei que não me assenta que nem uma luva, mas por incrível que pareça sinto-me bem. Não totalmente feliz, totalmente feliz sou ao sábado quando consigo ser terapeuta da fala a part-time, mas não sou infeliz no que faço. Por mais que me surpreenda, para já, sinto-me bem no que faço. Durante o último ano aprendi sobre contabilidade, gestão, organização e planeamento, se por um lado já tinha algumas competências, por outro todas elas foram reforçadas e ainda novas adquiridas, o que para uma terapeuta da fala pode ser insignificante, para mim tornou-se importante. Nunca na vida me imaginei rodeada de números, logo eu que odiava matemática, mas agora sinto-me confortável no meio deles e percebo mais de contabilidade do que Ele que tanto gosta de números. No último ano também aprendi que sou mais resiliente do que imaginava, sempre me vi como uma pessoa lutadora, mas é agora ao ver que mudei de profissão, ao ver que consegui pôr em stand-by alguns sonhos para dar atenção a outros, que compreendi que eu consigo sempre tudo. Basta meter alguma coisa na cabeça que mais tarde ou mais cedo, com mais percalços ou com menos, eu consigo sempre o que desejo.
Admito, não foi fácil. Ainda hoje tem dias em que não é fácil. Não foi fácil adaptar-me a estar sentada numa secretária o dia todo ou a estar permanentemente a um computador. Mas consegui e se ao início custou, hoje já passa o tempo sem dar por ela. O trabalho foi vindo a aumentar, a confiança em mim também e noto que o meu trabalho (apesar de não ser muito valorizado) é importante. Não é um mar de rosas, nada o é na vida, mas sinto-me bem e penso que isso é o mais importante. Desde que cá estou que já tive de recusar ofertas na área, não por não as querer, mas simplesmente porque 'ser escrava de recibos verdes' deixou de ser uma opção para mim. A verdade é que sempre desejei alcançar uma certa estabilidade financeira, talvez pelo meu passado e pelas dificuldades financeiras que passei, e hoje vejo essa estabilidade como uma das minhas prioridades em relação ao meu emprego de sonho. Posso estar incorrecta, posso mais tarde vir a pensar no que perdi, mas hoje sei que tomei a opção certa em negar voltar à área a recibos verdes para receber 3 ou 4€ à hora. Afinal foi esta sensação de estabilidade que me permitiu começar a pensar em casa, terreno e casamento, foi esta sensação que me permitiu avançar com a minha vida pessoal e o quão estava desejosa por isso!
Há um ano que sou administrativa. Há um ano que vi os meus sonhos começarem a ganhar movimento. Há mais de um ano que deixei de ser terapeuta da fala, mas para já, enquanto nada de melhor surge, sou feliz a ser terapeuta da fala a part-time.
A mim mesma, os parabéns por um ano de uma nova vida e uma nova profissão.