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justsmile

31
Mar22

Ambiguidade de mãe vs trabalho

       

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(Imagem de Just Smile)

        Desde o dia em que descobri que estava grávida que me começaram a chamar de mãe. Demorei imenso tempo a processar a informação, 'mãe' é uma palavra tão séria e não me sentia como tal. Foram as enfermeiras, os médicos e até a família, a verdade é que ainda estava num processo de negação quanto ao que ainda estava por vir. Sempre quis ser mãe, não com a veemência de algumas amigas, mas era algo que tinha em mim. Este bebézinho foi planeado e sei, por observação de familiares próximos e dos meus sobrinhos, o que implica ser mãe, mas no momento da verdade parece que tudo desaparece do nosso cérebro e chamarem-te de 'mãe' é algo completamente surreal. Foi só neste segundo trimestre de gravidez, depois de alguns meses de negação e sem sentir um entusiasmo gigante, que compreendi o que é ser mãe, ou pelo menos uma pequenina amostra disso. No dia em que fui às urgências do hospital por causa de ser uma grávida com covid-19 vi o meu bebé mexer-se pela primeira vez numa ecografia, foi quando percebi que o que tenho dentro de mim é real, foi quando o meu cérebro se começou a moldar à possibilidade de ser mãe. Foi quando compreendi que agora tenho uma prioridade maior na minha vida, proteger este meu bebé, esta minha Ervilhinha que cresce de dia para dia à velocidade de um raio.

        No entanto, apesar de ser mãe, nunca deixei ou se quer pensei em parar de ser terapeuta da fala. A possibilidade nunca me tinha passado pela cabeça, por isso continuei a minha vida normal, a trabalhar as 50h por semana, mais o mestrado, mais a casa e mais a rotina do dia-a-dia. Ele de vez em quando dizia que se calhar era melhor diminuir o ritmo, se calhar precisava de mais descanso, mas passei o primeiro trimestre a sentir-me bem e iniciei o segundo a achar que ia ser a mesma coisa. "O segundo trimestre de gravidez é caracterizado por um 'boom' de energia" li algures, ora, se me sentia bem ainda me iria sentir melhor. Errado. Esqueci-me que neste processo de ser mãe somos todas diferentes e eu sou diferente de todas as pessoas com quem tenho falado, o segundo trimestre atingiu-me de forma arrebatadora com uma redução de horas de sono gigante que me faz chegar ao final do dia sem querer fazer rigorosamente nada (nem comer, nem tomar banho, nem nada que se lhe pareça). Se já diminui o meu ritmo de trabalho? Não... E ainda sem a criança ter nascido já começo a sentir a ambiguidade de ser mãe e de ser profissional. "Mas o bebé é a tua prioridade", "Tens de cuidar de ti", "Tens de reduzir o trabalho", "Se calhar é melhor vires para casa", "Como te consegues levantar do chão com essa barriga?", "Trabalhas demasiado, isso não é bom", são estas as palavras que ouço há três meses e eu sei tudo isso, no meu consciente sei que todas as pessoas que o referem têm razão e se o dizem é para meu bem, mas... Mas sinto-me falhar, algo que nunca me tinha passado pela cabeça. Sinto-me falhar enquanto profissional, enquanto terapeuta e para com as minhas crianças e famílias. Sinto-me falhar, sinto que o meu corpo não está a conseguir acompanhar o meu desejo de trabalhar sempre até ao fim desta gravidez. E surgem as lágrimas, o aperto na garganta, porque sei que preciso de diminuir este ritmo louco da minha vida para o bem da minha Ervilha, mas não consigo calar este meu inconsciente. Nunca me tinha sentido assim, a falhar, a sentir-me pouco profissional e ainda tento calar esta voz que teima em fazer-se ouvir na minha cabeça, mas torna-se complicado.

        É então que tenho compreendido que não existem Super-mulheres. As imagens que vejo no Instagram de mulheres que fazem tudo bem a serem mães e profissionais, que conseguem ser óptimas em tudo e ainda em conseguir dar resposta a todas as outras milhentas coisas que surgem, são só imagens. Se calhar até são assim, mas não somos todas assim. Eu não me sinto uma Super-mulher, muito pelo contrário, sinto-me ridiculamente cansada, frustrada por ter de deixar as minhas crianças, mas sabendo dentro de mim que é necessário e que tenho de dar prioridade a esta vida que quero trazer ao mundo. O que não sabia? Que esta batalha interior entre ser mãe e ser profissional iria iniciar tão cedo, que somos obrigadas a tomar decisões que nunca pensamos ter de tomar e que dar prioridade a nós mesmos é tão difícil. Se calhar é a sociedade que nos incute este desejo de sermos Super-mulheres, se calhar são os "falsos testemunhos cor-de-rosa" que por aí andam que nos tentam eludir, se calhar não sou a única a viver esta batalha interior, se calhar ser mãe não é aquele mundo perfeito que vem naturalmente por instinto. Muita gente lerá isto e dirá "que rículo", outros dirão que sou maluca e que o meu bebé é a pioridade e que nem sequer devia pensar no resto, outros que mulheres e profissionais não combinam na mesma frase. A verdade é que esta batalha tem sido muito real para mim e mais do que alguma vez poderia imaginar.

03
Set18

O início de uma nova aventura

(Imagem retirada daqui)

 

      Hoje começa uma nova aventura na minha vida.

    Hoje começa uma aventura que há muito desejava, há anos que lutava por ela e finalmente surgiu na minha vida.

      Hoje volto a ser terapeuta da fala a tempo inteiro. Pelo menos essa é a esperança. Pelo menos espero que tudo corra melhor do que em todas as experiências anteriores. Pelo menos anseio que não haja tropeções. Pelo menos espero voltar àquilo que adoro fazer.

      Hoje começa um novo capítulo da minha vida profissional e o resto? O resto ficou para trás.

      Hoje volto a ser terapeuta da fala.

 

21
Mai18

E se não quiser ser Empreendedora?

(Imagem retirada daqui)

 

       Empreendedorismo é uma palavra cada vez mais utilizada no mundo profissional moderno. Com os incentivos do estado e dos bancos ouvimos que é necessário criarmos o nosso emprego, que é necessário arriscar para um futuro profissional brilhante. Hoje, se não tens uma mente empreendedora é porque vives no século passado, se não queres ser o teu próprio patrão é porque não percebes as maravilhas das coisas e se não queres arriscar é porque simplesmente és um medricas, ou afinal, não queres tanto assim trabalhar. Quando me deparei com o primeiro desemprego fiz notá-lo aos meus antigos professores, a pessoas da minha área de trabalho, de forma a espalhar a palavra de que procurava trabalho como terapeuta da fala, o que não esperava é que todas as respostas viessem aliadas às palavras inovador, empreendedorismo, negócio. Sem conhecerem o histórico profissional da minha família todos me diziam para arriscar a abrir um gabinete meu, um negócio próprio e que isso seria o meu futuro. Sem excepção, todos os que me ensinaram a profissão, e até quem não me ensinou, proclamavam a alta voz que a minha geração precisa é de ser inovadora, de empreendedores para criarmos o nosso próprio emprego neste mundo profissional tão instável. De forma a não me tornar num ser desagradável dizia sempre que iria pensar, mas no fundo toda aquela conversa irritava-me profundamente, como ainda hoje o faz.

      Adoro a capacidade da minha geração de criar pequenas empresas, adoro as ideias inovadoras que surgem em restaurantes e lojas e até fico pasmada como está de uma forma emergente o aparecimento de produtos completamente inovadores e que são realmente boas ideias. Admiro imenso todos esses empreendedores, essas pessoas que tiveram ideias brilhantes e que decidiram arriscar, fosse com incentivos do estado, com o próprio dinheiro ou até com o que não lhes pertencia. A sério que admiro imenso todo este dinamismo, admiro quem tem a coragem de abrir um restaurante ao lado de outros dez ou até uma nova pastelaria ao lado de outras vinte. Acho que a minha geração é a que mais teve de arriscar, dinamizar e até criar, mas a verdade é que não somos todos iguais e eu não quero ser empreendedora (ui que cai o Carmo e a Trindade, como não queres ser empreendedora? Que ridículo!).

        Como já referi anteriormente, os meus pais durante muitos anos tiveram um negócio próprio que, devido à situação económica do país fechou. Toda a minha infância e adolescência, lembro-me do negócio dos meus pais, da preocupação, do constante contar de dinheiro, dos telefonemas infinitos dos clientes a qualquer hora do dia (inclusive 7h00 da manhã e 23h00 da noite). Durante anos vi o stress de manter um negócio para manter uma família, um negócio em que os clientes não cumpriam com a sua parte, um negócio que não dava descanso e apenas preocupações. Esta foi a minha infância, é verdade que a sorte pode não ter estado do lado dos meus pais, mas esta foi a realidade que tive durante toda a minha vida sobre o que era ter um negócio próprio, o ser-se empreendedor. E nem sempre precisamos de aprender com os nossos erros, por vezes aprendemos com os dos outros. Nem sempre precisamos de experimentar para compreender que não é aquela a vida que queremos e é por isso que não quero ser uma empreendedora. Não só não quero, como tenho medo, receio o que não traria vantagem nenhuma para qualquer tipo de ideia que eu tivesse para um negócio próprio, nem para criar um gabinete privado de terapia da fala. Eu sinto que não nasci para ser empreendedora e isso nos dias de hoje é (quase) visto como um factor de falta de inteligência, afinal quem não quer ser o seu próprio patrão? Afinal quem não quer criar os próprios horários? Afinal quem não quer definir o próprio ordenado e ficar com os lucros? Eu. Eu não quero nada disso.

       Trabalhar a recibos verdes, a inconstância de trabalho dos mesmos, fez com que lhes ganhasse pavor e o mesmo acontece com um negócio próprio. Não consigo ser feliz, descansada, eu própria ao viver na inconstância de um salário, não consigo viver sabendo que no próximo mês posso ter uma afluência menor no negócio e não consigo viver com as contas da vida pessoal e da vida profissional. Eu não consigo viver nessa inconstância. Esse tipo de vida deixaria-me em sobressalto diariamente, não conseguiria lidar com esse tipo de stress e por isso admiro imenso quem o faz. Congratulo quem tem a coragem para o fazer, congratulo essas mentes geniais que andam por aí, apenas peço que não me digam para ser uma delas. O medo de reviver o passado no presente é demasiado grande e sei que não seria feliz com isso. Não digam que todos temos de ser empreendedores, não o devemos e nem podemos, eu prefiro ser a funcionária de alguém assim e enquanto isso não acontece continuo a enviar currículos, continuo a lutar por um bom emprego, mas não me peçam para ser empreendedora.

 

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