(Imagem retirada daqui)
Nestes últimos dias os meus pais têm estado de férias e enquanto a filha fica a trabalhar eles vão passear com tios, amigos e até ao cinema vão. Parece coisa simples, mas para os meus pais, passear autonomamente e sem os filhos ao fim de tantos anos, é uma verdadeira novidade (lembrem-se, sou a mais nova de três filhos com mais de dez anos de diferença deles).
Quando vou de férias a minha mãe costuma-me ligar pelo menos uma vez, o que normalmente até sou eu a fazer. Não se preocupa em demasia e sabe que me desenrasco bem, seja no que for. Ora, o mesmo não acontece quando os meus pais saem de casa para sair. Acabo por ficar sempre num nervosinho miudinho de preocupação por eles ‘será que sabem o caminho?’, ‘será que não se esqueceram dos telemóveis?’, ‘será que perceberam bem o nome do sítio?’. Nos últimos anos eu era o apoio deles, a guia, a que procurava no GPS as localizações, a pessoa que procurava horários e lhes dava as indicações. Até no supermercado eu era uma mais-valia, ia sempre às compras com a minha mãe e eu é que estava atenta a promoções, preços mais baratos e marcas brancas, na hora de pagar eu é que me preocupava com os cupões e até era eu que colocava o código. Já para não dizer que controlava as contas de luz e telefone lá em casa, não fossem eles não repararem. Desde que comecei a trabalhar neste novo emprego que os meus pais têm partido à descoberta de como fazerem as coisas sozinhos e de todas as vezes vêm com histórias que me fazem pensar ‘Porra, já não se sabem desenrascar sozinhos.’, ou porque se perderam, ou porque não se lembravam do código do cartão ou até porque se tinham esquecido de carregar o telemóvel. Andei de tal forma a servir-lhes de apoio nos últimos anos que parecem andar a aprender a fazerem as coisas sozinhos, novamente. Se normalmente as mães é que são galinhas, aqui a galinha sou mesmo eu, a filha. Que se preocupa sempre com eles, para que se tenham lembrado disto ou daquilo. Quando vão de fim-de-semana sou eu que lhes ligo mais que uma vez e não o contrário. Quando se começam a atrasar muito na chegada a casa, sou eu que fico preocupada e não eles. E é nessas alturas que penso ‘Arre que agora sou mãezinha dos meus pais.’. Aos poucos tenho- me tentado desligar desse papel, aos poucos a minha mãe vai contando as suas aventuras das idas ao supermercado e dos passeios em que nunca encontram o caminho certo à primeira tentativa ou que se esquecem de trazer o detergente. Aos poucos os meus pais estão a voltar a aprender a serem dependentes e eu? Eu estou a tentar deixar de ser a filha galinha que anda sempre preocupada com eles.
Desde quando é que estes papeis se inverteram? Nossa!