Como manda a tradição aqui de casa, este ano voltamos à Feira do Livro do Porto. No últimos anos temos ido sempre no primeiro fim-de-semana da Feira, por uma simples razão, conseguir comprar os melhores livros em segunda-mão nos alfarrabistas. Nos últimos anos tenho encontrado verdadeiras pechinchas a bons preços, tenho vindo sempre com uma sacada de livros a bons preços, apenas porque vou nos primeiros dias da Feira. Este ano achei que iria acontecer exactamente a mesma coisa, mas errei.
No ano passado, quando fui à Feira do Livro do Porto, admito que estava receosa, era o primeiro evento com muita gente que ia desde a presença do Covid-19 nas nossas vidas, mas correu tudo tão bem que achei que este ano ainda fosse sentir-me mais à vontade, afinal as regras tem vindo a ser diminuídas com o tempo e eu tenho tentado implementar na minha vida alguma normalidade. BIG MISTAKE! Fomos no primeiro sábado da Feira, por norma não costuma ter muita gente de tarde e ao final da tarde (mesmo em tempos considerados normais), mas o nosso erro foi considerar que as coisas iriam estar iguais ao ano passado ou a uma 'época de normalidade' anterior. A verdade é que estava imensa gente. Na entrada vimos o limite máximo de 1000 pessoas no espaço e entramos imediatamente, achando que iríamos encontrar a tranquilidade que conhecíamos, mas não. Estava imensa gente, quando digo imensa refiro-me a mesmo muitas pessoas nos espaços e bancadas de livros. Tentamos começar o nosso percurso, mas em qualquer espaço as normas de distanciamento, de percurso e até de educação não estavam a ser mantidas. Era praticamente impossível chegar às bancas, mesmo daquelas editoras tão pouco conhecidas, e quando chegávamos existiam encontrões e uma falta de respeito enorme. As setas no chão para a direcção pouco eram respeitadas e mesmo ao tentarmos pagar as pessoas não se mexiam, fosse para chegarmos ao vendedor, ou até para pormos o código de multibanco.
Ao fim de quatro bancadas, uma tentativa inútil de ver livros nos alfarrabistas e com poucas compras desistimos. A confusão de pessoas, os empurrões e a falta de respeito começou a desenvolver em mim uma ansiedade que me provocou dores de cabeça (e não tenho dores de cabeça com frequência). Ou sou eu que já não sei estar no meio de tanta gente, provavelmente também é verdade, ou as pessoas perderam totalmente a noção do que são as boas regras de educação e cidadania. Não sei se era por estar mau tempo para as pessoas irem para a praia, se por ser o final do mês, se os últimos dias de férias de alguns por que a li passavam ou até se a pandemia levou tanta gente a começar a ler, mas a verdade é que nunca, NUNCA tinha visto tanta gente numa Feira do Livro. De uma forma a despachar os livros do dia que tinha visto no Facebook da Feira, dirigi-me às duas editoras que procurava e vim-me embora.
Nunca tinha trazido tão poucos livros da Feira do Livro e só dois deles foram realmente a um bom preço, os outros vieram porque me chamaram à atenção e por pura "gula", até porque nem tive oportunidade de procurar as minhas pechinchas de 5€. "A Amiga Genial" e "A Arte Subtil de Saber Dizer que se F*da" já há algum tempo que os desejava e estavam como livro do dia nas suas editoras (se virem bem aqui só estão duas editoras) e por isso foram uma boa poupança, mas tirando isso não aproveitei rigorosamente nada. Uma das coisas que mais gosto de fazer na Feira do Livro é encontrar essas pechinchas, passar por todas as bancas, conhecer novos autores, mas a verdade é que não encontrei nem vi nada, simplesmente porque não tive a oportunidade.
Se poderia voltar à Feira? Poderia, mas senti-me tão desconfortável (e Ele também) que ao fim de uma hora viemos embora, desiludidos e sem vontade de voltar a repetir a proeza. Por momentos, se não fossem as máscaras, pensava que o Covid-19 tinha totalmente desaparecido, que em seu lugar tinha apenas ficado um egoísmo que esqueceu as regras básicas da boa educação e que me impediu de dar um dos passeios que mais gosto, percorrer a Feira do Livro. Ao vir embora vimos que a Feira tinha fechado a entrada devido a ter enchido a totalidade de pessoas no espaço, a fila já era enorme para entrar e eu só pensava em quantas pessoas se teriam arrependido de lá pôr os pés, tal como eu.
Para o ano haverá mais Feira do Livro do Porto, certamente, só espero que compense a desilusão deste ano.