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justsmile

27
Nov20

Esta distância que mói

     

(Imagem retirada daqui)

       Esta distância começa agora a pesar-me na alma.

     Admito que não sou uma pessoa de grandes festas, de andar sempre em bares e cafés com amigos. Sou uma enorme apologista dos jantares caseiros com amigos e família, sou mais dada ao conforto da casa e aos serões com uma boa bebida e muita conversa. Sou daquelas pessoas que cada vez se foi ligando mais à família, aos sobrinhos, irmãos e primos. Sou uma fã incondicional da vida 'caseirinha' e sempre a apreciei, assim como continuo a apreciar. No entanto, esta coisa do distanciamento social começa a nutrir os seus efeitos, começo verdadeiramente a ficar cansada.

     No início de toda esta pandemia, quando ainda não sabíamos bem o que nos esperava, não senti na pele o distanciamento. Estive três meses em teletrabalho e, apesar de sentir a falta dos colegas de trabalho e da família, as coisas levaram-se muito bem. Durante o verão ainda estive uma ou outra vez, sem grandes abusos e sem grandes proximidades, com os meus familiares. Ainda tive oportunidade de aconchegar os meus sobrinhos, de ter o mais novo lá em casa a passar alguns dias e, apesar da vida não ser como era dantes (com agenda cheia para churrascos e para jantaradas), aceitei bem este distanciamento. Compreendia e ainda compreendo, mas agora a saudade começa a custar mais com estes afastamentos forçados. O sobrinho que nasceu em Agosto só conhece o colo da mãe e do pai, toda a restante família apenas através de um ecrã, estive com ele duas vezes e numa das vezes toquei-lhe num pé. Tenho saudades dos meus outros sobrinhos, de brincar com eles, de os esborrachar com mimo e de andar com eles à 'guerra' no sofá. Tenho genuinamente saudades dos almoços de família, com os meus irmãos, pais e sobrinhos. Tenho saudades de deixar as minhas primas entrarem em minha casa à vontade e de me sentar no sofá com elas a brincar. E dos jantares com os amigos em casa? Tenho saudades dessas noites que se prolongam nas horas e que trazem gargalhadas. Tenho saudades desse calor humano, desse convívio sem receios, sem consciências pesadas e de simplesmente estar bem com as pessoas que gosto.

       A verdade é que realmente começamos a valorizar ainda mais as coisas quando nos vemos privadas delas. Sempre gostei destes convívios com os amigos próximos e com a família, mas agora? Agora desejo-os como nunca, não sabemos como será o natal, não sabemos qual será a próxima vez a estarmos juntos e muito menos quando poderemos dar aquele verdadeiro abraço. É isto que mais me tem custado no meio de todas estas imposições. Não é o facto de me obrigarem a ficar em casa porque nunca o senti como uma obrigação, sempre tirei prazer de poder ficar em casa. Não é o facto de não poder ir às compras quando bem me apetece, porque se já o fazia muitas vezes online, agora é praticamente tudo online. Nem é pelo facto de não poder viajar, claro que gostava de o fazer, mas compreendo e não me custa minimamente aceitar esse tipo de condição. Mas é quando mexem com o meu coração que mais me custa, foi tirarem-nos estes pequenos prazeres da vida que mais me tem custado. É, neste momento o que mais me custa, estar longe de quem mais gosto e de estar a perder momentos preciosos com a minha família.

          Esta distância começa a moer e esta saudade já começa a doer.

28
Nov17

A influência dos irmãos na vida

(Imagem retirada daqui)

 

      Depois de ter lido este artigo da P3 fiquei a pensar na influência que os meus irmãos tiveram em mim ao longo da vida. A verdade é que não há ninguém em que confie mais do que eles. A verdade é que não há ninguém que me conforte, que me faça ver a realidade, que resmungue comigo, que me acarinhe como eles. Partilhei a minha vida toda com eles, cresci com dois adolescentes que no fundo deram muito de si à pessoa que sou hoje. Com uma diferença de dez e treze anos vejo em mim traços de cada um dos meus irmãos. Vejo a ambição, a persistência e os receios da minha irmã em mim. Venho a tranquilidade, a sensibilidade para a arte e o gosto pelo dolce far niente do meu irmão em mim. Olho-me ao espelho e consigo ver os seus traços em mim mesma, apesar dos nossos caminhos terem sido tão diferentes, por no fundo termos tido tratamentos diferentes por parte dos nossos pais e por termos optado por profissões diferentes, no entanto sinto-me um bocadinho deles. As minhas conquistas são as suas conquistas, os seus filhos são o brilho dos meus olhos, os meus sonhos são também um bocadinho deles e as suas visões da vida a minha ambição pessoal. Apesar de todos estes traços de si em mim, não poderíamos ser mais diferentes, nem no cabelo somos semelhantes. Contudo há algo que nos une, apesar da distância, apesar da diferença de vidas, apesar de não termos as mesmas opiniões, há o sangue que nos une, há o amor entre irmãos que nos faz aproximar. Reconhecemos os defeitos uns dos outros, sabemos dizer quando um erra e sabemos resmungar quando necessário, mas há em nós um carinho especial que não conseguimos partilhar com mais ninguém, está-nos no sangue.

     Cada vez mais vejo que a família é a minha prioridade. Quero passar tempo com os meus sobrinhos, quero enchê-los de mimo e de beijos. Quero ver na minha mãe e na minha irmã os meus melhores amigos. Quero continuar a ter aquele porto seguro no meu irmão. E é isso que os meus irmãos me trazem, segurança, um porto de abrigo que aconteça o que acontecer, que por muito que falhe, que erre, que estarão lá para apanhar os meus pedaços e voltar a reerguer-me. Não só me deram de si ao longo do meu crescimento, como se tornaram na minha segurança. Lembro-me de quanto me custou cada um deles sair de casa para estudarem, lembro do quanto custou quando essa saída de casa se tornou definitiva, pois no fundo senti uma pequena quebra daquilo que tinha com eles, mas nunca, por momento algum deixei de ver neles os meus exemplos. Exemplos do que queria ser, do que não queria ser, mas mesmo assim os meus exemplos. Vi naquelas duas pessoas desde pequena os meus heróis, hoje podem até não ser nenhum tipo de heróis, podem até ser pessoas bastante comuns, mas continuo a olhá-los com admiração e como exemplos. Somos três filhos, dos mesmos pais, educados na mesma casa e com personalidades tão diferentes, no entanto, há algo que nos é comum, não é palpável, não é visível a olho nu, mas no fundo somos os três um bocadinho a mesma pessoa.

     Os meus irmãos foram sem dúvida alguma uma das maiores influências na minha vida e é a eles que devo muito daquilo que sou. É a eles que agradeço esta minha forma de ser, esta minha vontade de lutar, esta minha forma de ver a vida.

      Haverá melhores heróis que os nossos irmãos?

28
Ago17

Vamos dar o nó #8 O vestido de noiva II

      - Clementina? És mesmo tu? - questionou a costeira do outro lado da rua enquanto ainda estacionava o carro. Não, a observação não era para mim, era para a minha mãe, cuja costureira tinha feito o primeiro vestido de noiva há quase quarenta anos. - Como me podia esquecer de ti? Foste a primeira cliente depois de ter começado a trabalhar por conta própria, depois vieram as tuas irmãs. E como estão elas? E como está a tua sobrinha?

      Como já tinha partilhado com vocês aqui, se alguma coisa estava decidida quanto ao vestido de noiva era de que seria feito numa costureira para manter a tradição de família. Assim, antes de ir experimentar vestidos fui falar com a senhora, não fosse ela já ter entrado para a reforma ou simplesmente ter deixado de investir o seu tempo em noivas. Tive a sorte de ainda reconhecer a minha mãe, iniciando uma conversa fiada sobre as suas vidas, em que eu fui mera espectadora. Falou-se de tudo e mais alguma coisa e até de divórcio se falou, até que a minha mãe usou as palavras sábias e cheias de orgulho "e agora estamos aqui porque é a vez dela casar.". Cheguei lá com uma ideia mais definida do que queria, levei as minhas inspirações afirmando que achava que este era o estilo mais apropriado para mim e que uma das coisas tinha a certeza, eu queria renda! Mostrei-lhe as minhas inspirações (como podem ver aqui a baixo) em que o Pinterest foi o meu melhor amigo.

    A senhora disse-me que sim, que já tinha feito deste género e até me mostrou alguns modelos já realizados. Informei-a então de que antes de escolher um vestido iria a duas provas de noivas experimentar alguns modelos quando para minha surpresa disse aquilo que muitas de vocês me tinham dito "experimenta vários modelos!". Na minha cabeça, sabia que este modelo era mais a minha onda de simples, relaxado, divertido e tinha tudo a haver com a minha cara, no entanto disse que sim e na primeira prova de vestidos fiz exactamente o que me tinham dito."Vais ver que vais com uma ideia e vens com outra", dizia-me toda a gente, mas estava realmente confiante que já tinha decidido mais ou menos aquilo que queria.

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       Cheguei à primeira loja, onde fui super bem atendida, por uma menina extremamente simpática e ela própria sugeriu-me experimentar alguns vestidos fora da minha zona de conforto. "Tem de experimentar tudo menina" disse-me ela quando falou num vestido em princesa e até num véu. Esta insistência de toda a gente usar a mesma frase estava-me a deixar confusa, até porque se há algo que costumo ser é muito decidida. Lá concordei e experimentei o primeiro vestido de noiva, antes de mais, as sensações que me percorreram o corpo foram do mais estranho que podem imaginar "Eu? Just, de noiva? Sou mesmo eu?". Há primeira vista não me consegui reconhecer no espelho, aquela não era eu, metida num vestido justo, com uma cauda e de saltos altos. De repente, caiu-me nos ombros a realidade. "Estou noiva. Vou casar." e ali, pela primeira vez senti-me nervosa. Um nervosinho por imaginar a cara da minha irmã e da minha mãe quando abrisse a cortina. Um nervozinho por realmente me ir casar. E um nervosinho por imaginar o noivo ao ver-me um dia assim vestida. O misto de pensamentos e emoções que me percorreram foram tão estranhos que só sorri quando os olhos da minha irmã e da minha mãe brilharam ao me ver.

      Depois da consciencialização do que tinha vestido, depois de interiorizar um bocadinho à força de que estou realmente noiva (acho que pela primeira vez uso tanto esta palavra) é que comecei realmente a reparar no vestido. Tinha a renda, que tanto desejava, mas o resto nada tinha a ver com aquilo que estava semi-idealizado na minha cabeça. Tinha a cauda que sempre tinha negado e estava tão justo ao meu corpo que realmente não dava para disfarçar que sou magra. No entanto, para grande surpresa minha apaixonei-me pela silhueta. Um sorriso surgiu-me no rosto, a renda era simplesmente maravilhosa, tinha um encanto diferente no próprio vestido, algo de que não estava à espera e apesar de não gostar de um ou outro pormenor, o vestido encaixava no meu corpo bem melhor do que algum dia tinha imaginado. Experimentei mais um e mais uns quantos vestidos, mesmo aqueles que tinha levado como referência, mas nenhum me fez ter a sensação que aquele. Adorei dois que estavam dentro do meu estilo, mas o primeiro vestido ficou-me na cabeça. Foi então que o caos se instalou, aquilo que tinha imaginado para mim era giro, ficava-me bem, mas não me tinha atraído tanto assim. Contudo, teimosa como sou estava na dúvida daquilo que queria, estava indecisa, não propriamente entre vestidos, mas entre modelos.

      Saímos da loja para almoçar no Food Corner e depois da minha irmã gozar com Ele ao dar-lhe como resposta, à questão "como era o vestido", que iria usar calças e camisola , apercebi-me que estava realmente indecisa e que na prova da tarde queria tomar uma decisão. Lá fomos as três para uma famosíssima loja de vestidos de noiva, em que não apreciei tanto o serviço, e voltei a experimentar os dois géneros de vestidos e voltei a ficar no meio da ponte. Um era aquilo que toda a gente esperava de mim, que era completamente a minha cara, mas o outro era diferente, ficava-me lindamente e era mais inesperado. Após várias experiências apercebi-me que não conseguiria optar por um modelo, iria dormir sobre o assunto, como disse a minha irmã.

      Cheguei a casa desiludida, sempre achei que iria encontrar O vestido à primeira e que quando o tivesse no corpo que saberia que era O Tal. Isso não aconteceu e senti-me desanimada, seria por isso uma noiva diferente? Experimentei vários vestidos, gostei de me ver com alguns deles e no fim fiquei indecisa entre um da manhã e outro da tarde. Não me parecia certo, até porque cada um deles tinha coisas que eu gostava e que desgostava. Terminei o dia a dizer que não tinha escolhido nenhum vestido e que teria de ir novamente em busca do vestido perfeito.

      Na manhã seguinte, depois de uma noite em que cada vez que acordava pensava em vestidos de noiva, acordei com o meu sobrinho a fazer barulho e do nada sabia como queria o meu vestido. Na minha cabeça, numa questão de (praticamente) segundos tinha conseguido visualizar o meu vestido de noiva. Era sem dúvida o primeiro que tinha escolhido mas com menos renda aqui, menos cauda ali, as alças assim-assim e o resto exactamente como estava. De repente o meu vestido estava decidido. Falei com a minha irmã e a minha mãe, partilhei a minha ideia e ambas disseram que seria perfeito. E foi depois de uma noite mal dormida, depois de um dia de provas de vestidos de noiva, que consegui 'desenhar' o meu vestido de noiva. Fiquei mais que feliz com a minha decisão, senti-me leve e decidida. Tive a sensação de "menos um problema" e, ainda, que finalmente estava a sentir-me uma noiva.

      Hoje, mais de uma semana depois de ter feito esta decisão, fico feliz por nenhum vestido se ter encaixado naquilo que idealizava, assim quando a costureira o tiver feito, tal como eu o imagino, terei a verdadeira sensação de uma noiva de "este é O vestido". Agora? Agora é só ir partilhar esta minha visão com a senhora que há quarenta anos fez o vestido de noiva da minha mãe.

      Agora sim, sou definitivamente uma noiva.

 

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