Capítulo II
A Passarada decidiu juntar-se e fazer um conto, pelos vistos uma história de natal, e calhou-me a mim fazer o capítulo II, depois de verem o capítulo I da Caracol dêem uma olhada ao II.
Luísa olhava para o cesto da roupa como quem olha para um montante enorme de dinheiro em cima da mesa, receosa de lhe tocar, mas com um ar perplexo de como raio tinha aquilo acontecido.
- Anda Luísa, tira-nos deste cesto sujo. Diga-se de passagem que tens mesmo de começar a lavar com mais frequência a roupa. – Debaixo daquela meia escura do cesto umas pequenas mãozinhas brancas e uns pezinhos enormes surgiam, agarrados a corpo que parecia do tamanho de um polegar.
Luísa esfregou os olhos, pensava estar a dormir. Só podia, não existiam no mundo seres minúsculos, de mãos brancos como a neve e pés enormes. Instintivamente voltou a fechar o cesto, como se isso apagasse da memória o que tinha acabado de ver.
- Raios Luísa, lá vou eu ter de gastar a minha energia a dar luz! - E novamente do cesto irradiava uma luz tão brilhante que lhe ofuscou a vista. Voltou a abrir o cesto e cinco seres pequeninos, que tinham estado escondidos debaixo das meias, saltaram para a bancada que estava mesmo ao lado.
- Vamos, não podemos estar o dia todo nisto. – Falou o pequenino que tinha na ponta do nariz uns óculos quase do tamanho de um amendoim.- Sim, nós existimos e somos pequenos seres que falam. Qual é a admiração? – Luísa começou a encostar-se à parede lentamente, tentando afastar-se daqueles pequenos ‘ratinhos’ conversadores. – Nunca percebi qual a admiração dos humanos ao ver-nos, mas adiante que não podemos perder tempo. Blá blá blá, somos duendes, sim ajudamos o pai natal, mas não temos nem gorros verdes nem o tamanho de anões, somos quase impercetíveis e andamos sempre no bolso do pai natal.
Luísa sentia-se atordoada. Aquela semana tinha sido esgotante, o Rui tinha saído de casa, a mãe não parava de lhe ligar e o patrão andava-se a fazer ao piso com toda a força. Agora tinha de certeza atingido o seu ponto máximo da sanidade mental e andava a ver coisinhas estranhas e seres falantes.
(vamos dar dramatismo à coisa senão isto parece um romance embelezado)
Levantou-se, com a cabeça meia zonza e a parecer estar com mil pensamentos de uma só vez a cruzarem-se numa autoestrada em hora de ponta, e virou costas à sua imaginação e foi para a cozinha pousar a chaleira.
- Ei! Onde pensas que vais? Não reparaste que somos pequenos? Tens de pegar em nós, é que nós irmos atrás de ti é como andarmos quilómetros a pé!
- Pezinho, acho que isto não está a resultar. – sussurrou o pequenote que tinha tido medo de se mostrar.
Luísa fazia de conta que não ouvia, mesmo entrando cada palavra no seu sistema auditivo. Devo estar maluca, só posso estar maluca. De certeza que é um esgotamento, a minha mãe sempre me disse que eu era fraca. Será que tenho algum calmante por aqui? Bem, se calhar é melhor é pegar numa garrafa de vinho, de ser mais eficaz. Falava ela consigo própria, como se estivesse em completo estado de negação.
- Olha que o vinho que está no armário de cima é um bocado pesado. – Respondeu alto mais um dos pequenotes que formava o grupo, este parecia um trapézio, uma barriga enorme e umas perninhas que pareciam não aguentar o peso
- Mas agora o meu inconsciente também me diz o que devo beber? – resmungou ela olhando para as suas miragens como se estivesse num deserto. Pegou no que tinha mais à mão, um pepino ressequido que estava na bancada há dois dias, e atirou-o ao grupo que estava na bancada da lavandaria.
Magda tu és a próxima na lista e aqui ficam as palavras que tens de usar: chocolate, porrada e sabão.
P.S.: Não se notou nadinha que me esqueci que tinha de usar as palavras trapézio, pepino e deserto, pois não?