Há festa na aldeia
(Imagem retirada daqui)
De manhã, logo pela manhã, os foguetes fazem-se estourar no ar. Está oficialmente aberto o fim-de-semana de romaria na terrinha. As primeiras barraquinhas de doces começam a montar as suas montras e as mulheres da terra vão assear as campas com as flores mais bonitas e as velas mais caras.
É com o som dos bombos que acordo, sei que estão prestes a chegar a minha casa e que a minha mãe irá a correr para o portão para atirar algumas moedas no saco vermelho sem fundo. É dia de festa e as cabeleireiras ficam cheias, há uma azafama no centro da aldeia, de senhoras para lá e para cá e cantores em cima do palco a experimentarem os microfones com 'um, dois, três, teste, teste'.
Os emigrantes já cá estão todos, com as suas matrículas coloridas a fazerem pandã com a roupa. Enchem a igreja na hora da missa como poucas vezes enche e são os primeiros na fila para assistirem à procissão das velas em honra da senhora. Uma procissão que trás luz às ruas com pouco movimento e que se ouvem as preces em voz alta de quem durante um ano andou a pedir milagres à senhora e agora os vem agradecer. Mas é depois da parte religiosa que a festa começa. Os mordomos da festa andam de um lado para o outro atarefados para que tudo fique perfeito. O povo cruza-se com amigos que não vê há anos. Há abraços sinceros de saudade, há sorrisos sentidos e puros e a conversa é colocada em dia enquanto o pé bate ao som da música pimba, que não pode faltar numa romaria. A noite termina com o tradicional fogo de artifício, apesar de pouco, enche o céu de cores e que faz as pessoas baterem palmas no fim.
A festa fica adormecida por poucas horas, de manhã cedo a banda filarmónica desfila nas ruas e a missa é transmitida em alto e bom som para toda a terrinha conseguir ouvir. Depois de um almoço farto e em família, os santos saiem à rua. Cada um mais bonito que o anterior e adornados com as mais belas flores, colorindo a festa e a procissão. As senhoras vestem os seus melhores vestidos que são só usados em dia de festa e têm o maior dos cuidados com os cabelos e os saltos altos nos paralelos. É no fim na igreja, quase vazia, rodeada de flores e de santos que me sinto tranquila, em paz e agradecida por mais um ano. É no fim que me lembro de que devido àquela festa eu e Ele nos cruzamos na vida. É graças a termos sido mordomos nesta festa que entramos na vida um do outro. Só por isso já tenho muito a agradecer à senhora.
Hoje há festa na aldeia!