O regresso ao trabalho depois de ser mãe
(Imagem retirada daqui)
Depois de ter sido mãe pensar em voltar ao trabalho parecia-me algo irreal, algo que não seria capaz de fazer. Durante quatro meses não quis pensar em regressar ao trabalho, era impensável deixar o meu filho ao cuidado de outra pessoa e acabava por sofrer por antecipação com esses pensamentos. Defendia, e ainda defendo, que a mãe deveria estar o primeiro ano com a criança ou pelo menos seis meses, até porque se a Organização Mundial de Saúde defende a amamentação exclusiva até aos seis meses de idade, porque raio temos de ir trabalhar mais cedo? Durante mais de metade da minha licença achava impossível deixar o meu filho, de forma confortável com outra pessoa, mesmo que fosse o pai (em quem confio a 100% para cuidar dele). Contudo, entre o quarto e o quinto mês algo mudou. O stress provocado pelas mudanças para a nova casa, a ansiedade em deixar a casa organizada, a chuva que não me permitia sair com o pequeno e o facto de não conseguir extrair leite para preparar o meu regresso começou a deitar-me a baixo. Não conseguia relaxar e comecei a sentir-me presa, como até ao momento não tinha sentido. Sentia o peso do mundo nos meus ombros, sentia-me abafada e de cada vez que saía a ansiedade dominava-me. Bati no fundo, senti-me desesperar e nunca, nunca foi por causa do meu filho, foi toda a envolvente e o facto de me sentir dependente de alguém para fazer as minhas coisas (desde o mais básico banho a conseguir arrumar a casa). Sei que não é bonito de se dizer, mas senti-me sufocar. De repente, voltar ao trabalho era o meu maior desejo, precisava de ser algo mais do que mãe, precisava de sair de casa (onde tem sempre coisas para arrumar) e precisava de ter um momento meu, nem que fosse nas viagens de carro para o trabalho.
Admito que soou estranho a muita gente o facto de um momento para o outro o meu maior desejo ser regressar ao trabalho, muitos me olharam de lado como se isso fizesse de mim má mãe, e acreditem que até eu própria o cheguei a questionar. Já não bastava não ter conseguido amamentar em exclusivo o meu filho até aos seis meses, como sempre tinha desejado, ainda tinha vontade de o deixar? Mas hoje, na minha terceira semana de trabalho, compreendo que foi o melhor que me aconteceu, pois consigo ser uma melhor mãe para o meu filho. Estranho? Talvez nem tanto, sinto que ao sair de casa, ao ter um outro objectivo que não manter a casa arrumada e cuidar do meu filho, recuperei parte da minha paciência, da minha atenção e da minha leveza. Claro que quero sempre regressar o mais rápido possível a casa, claro que quero receber mensagens do meu marido a dizer que o pequenino está bem, mas a verdade é que este meu regresso era mais do que necessário para a minha saúde mental.
Ser mãe é realmente das melhores coisas que me aconteceram na vida, aliás, efectivamente a melhor, mas também das mais desgastante e as condicionantes externas não me ajudaram em nada nos últimos meses. O meu regresso era a minha maior necessidade e sei que o meu filho está bem com o pai, que partilhou a licença comigo. Se o pequeno sentiu a minha ausência? Sem dúvida, durante este tempo todo fui a principal cuidadora e custou-me imenso saber que não pegava no biberão, que não fazia a sesta de manhã porque sentia a minha falta, mas a verdade é que acabou por se habituar e compreender que a mãe regressa sempre. E regressa com um enorme sorriso, com muitos beijinhos para dar e com a capacidade de o colocar acima de todas as tarefas domésticas, que as atrasa até à hora de ele dormir apenas para lhe poder dar toda a atenção que merece.
Ainda me sinto um ser muito estranho quando me questionam: "Deve-te estar a custar muito o regresso ao trabalho.", mas a verdade é que não. Talvez me vá custar quando não for deixar só com o pai, talvez mais tarde me vá custar mais quando o deixar na creche ou quando ele perceber que estou ausente e chorar, mas agora? Agora agradeço o meu regresso, precisava mesmo disto, de ser Terapeuta da Fala.