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justsmile

20
Jun18

Vamos abolir os estágios profissionais

(Imagem retirada daqui)

 

       Durante os anos em que estudei apenas vi vantagens nos estágios curriculares. Estávamos em contacto com a profissão que viríamos a ter e estar no terreno era uma das maiores vantagens que poderíamos ter. Sem dúvida alguma que os estágios me ensinaram muito mais do que alguma vez poderia aprender sentada numa cadeira. No meu curso, tive estágios desde o primeiro ano de faculdade, nem sempre fáceis, por vezes com orientadores complicados, mas a verdade é que aprendi imenso com cada um deles. Via nos estágios todas as vantagens e mais algumas. Agora já não tenho essa perspectiva.

        Terminei o meu curso há cinco anos e apesar de trabalhar há dois, a tempo inteiro, fora da área em que me formei, a verdade é que nunca deixei de procurar um lugar para fazer aquilo que realmente gosto. À noite, já sentada no sofá, rara é a vez em que não vou ver os anúncios de emprego e é aqui que aumenta um bocadinho a minha revolta contra o mercado de trabalho na área da saúde (ou até nas outras áreas, como se tem verificado). A procura incessante por candidatos para estágios profissionais é absolutamente ridícula. Raros são os anúncios, de profissões para licenciados ou até para pessoas com cursos profissionais, em que as palavras "estágio profissional" não estejam associadas. Se me dissessem que são empresas que querem novas pessoas, que querem primeiro ensinar e depois enquadrar a pessoa na empresa, eu aceitaria a opção. Pareceria-me mais que lógico, mas a verdade, é que com tanta procura para estágios profissionais a única coisa que me vem à cabeça é a descartabilidade dos profissionais. Os estágios profissionais não são propriamente bem remunerados (quer dizer, se for a pensar bem eu até ganho apenas isso), mas a uma primeira vista pareceria normal, afinal é alguém que ainda vai aprender, que vai entrar no mercado do trabalho. O problema é quando as empresas usam e abusam deste termo e a culpa está também no nosso sistema e no próprio IEFP que os deixa abusar de uma forma desmedida no enquadramento de estagiários. As empresas têm recorrido a este título absurdo para conseguirem trabalhadores empenhados, com qualificações, mas a baixos custos e quando um termina outro entra. E como sei? É fácil, basta acompanhar diariamente os anúncios de empregos para compreender que de tempos a tempos as mesmas empresas procuram candidatos com as mesmas características que nove meses antes o tinham feito. A minha área de trabalho é bastante reduzida e isso ainda é mais notável.

       Nunca fiz o estágio profissional, no meu primeiro emprego essa era a promessa, mas o patrão não podia aceder a essas ofertas do IEFP e andei meio ano de olhos tapados e ilegal. Depois disso nunca mais me surgiu essa oportunidade, passei pelos recibos verdes durante mais tempo do que o esperado e depois fui 'obrigada' a abandonar a minha área se queria ter um salário (mesmo que próximo do mínimo), mas com um contrato. O ridículo surge quando, ao fim de cinco anos de estar no mercado do trabalho, ainda ver anúncios para estágios profissionais e que ainda pedem a experiência! Ainda há dias me ligaram a perguntar se era legível para estágio profissional, ao fim de cinco anos! Se os estágios profissionais surgiram como uma boa forma de levar os jovens para o mercado do trabalho, neste momento podemos ter até quarenta anos que ainda achavam que deveríamos ser legíveis para estágio profissional. O que poderá algo ter começado como uma boa iniciativa tornou-se rapidamente num uso excessivo das entidades patronais para conseguirem contratar a baixos custos e sem qualquer tipo de preocupação com vínculos com a empresa.

        Isto torna-se de tal forma ridículo, absurdo e até abusivo que sou completamente a favor da abolição dos estágios profissionais. Se o IEFP não tem a capacidade de controlar as empresas, se o estado não protege os profissionais e se as empresas apenas utilizam esses recursos para pouparem uns trocos, não consigo encontrar vantagem nenhuma nestes estágios profissionais. Os estágios profissionais fizeram dos recém chegados ao mercado do trabalho em profissionais descartáveis que deixam de ser necessários após o primeiro estágio, fizeram do mercado do trabalho uma procura incessante por pessoas que possam realizar os estágios profissionais e todos os outros, por muito bons que sejam, não compensam os custos. Por isso: ABAIXO OS ESTÁGIOS PROFISSIONAIS! Talvez assim conseguisse um emprego a tempo inteiro na minha área...

03
Nov17

Uma jovem com religião

(Imagem retirada daqui)

 

      Em 2012 considerava-me uma descrente na religião, fosse ela o cristianismo ou outra qualquer. Era completamente descrente em algo superior, a vida até ali tinha-me mostrado que acreditar em algo que nunca tinha visto era simplesmente ridículo. Tinha crescido no seio de uma família católica, tinha percorrido todos os passos do catolicismo, mas simplesmente tinha deixado de acreditar. As idas à igreja eram nulas, quando necessário saia de lá ainda com menos convicções e dizia a todos e a qualquer um que só acreditava na ciência e nada mais. É claro que em determinado momento da minha vida tinha sido praticante, por obrigação, por vontade dos meus pais, mas a partir do momento em que tive uma palavra a dizer desliguei-me da religião. A vida não corria bem, parecia simplesmente complicar ainda mais e como poderia eu acreditar em alguém que nos ajudava, quando na verdade só via as coisas a piorarem?

      No final de 2012 fui fazer um estágio curricular de três meses para o maior hospital da zona Norte. Cruzei-me com alguém que levava a religião de uma forma leve, que andava sempre com um terço no bolso e que mais do que seguir regras, acreditava piamente num ser superior que a guiava. Ao início tudo me pareceu absurdo, principalmente vindo de alguém culto, de alguém da ciência e de alguém que via desgraças todos os dias. Mas foi durante esses três meses que percebi o porquê dessa sua forma de ser, dessa sua fé e dessa sua confiança e à-vontade em falar em Deus. Durante este estágio assisti a cenas muito complicadas, jovens com doenças terminais, crianças com doenças congénitas que nunca iriam melhorar, pessoas com uma vida perfeitamente normal até 'ontem' e que de repente se viram privadas de serem elas próprias. Ali, compreendi que nunca me poderia queixar da vida que tinha. Ali aprendi que não posso ser egoísta, que não posso queixar-me quando há pessoas que simplesmente têm a vida em risco e que a única coisa que as pode ajudar é a Fé. E foi aqui que compreendi o porquê da religião, o porquê de se acreditar em algo superior. Por muito desgraçadas que fossem aquelas vidas, por muitos problemas de saúde e familiares que tivessem, por muito que estivem mais perto da morte do que da vida, estas pessoas tinham uma Fé que me impressionou, que me inspirou. Aprendi ali, em três meses, que as pessoas que melhor lidavam com a situação, que melhor recuperação tinham e que mais sorrisos mostravam eram aquelas que acreditavam em algo superior, em algo maior que elas próprias. Esta Fé, esta esperança dava-lhes vida, dava-lhes conforto. Foi então que percebi que para lidarmos com este mundo era realmente necessário acreditar em algo para nas horas de sufoco termos ao que nos agarrar.

     Sei que acreditar em algo abstracto é complicado. Sei que parece absurdo a muitos, como a mim também já me pareceu, mas ao fim de três meses a lidar com o sofrimento dos outros compreendi que eu só podia agradecer por aquilo que tinha. Compreendi que para sobreviver, para ultrapassar a dor e os desafios da vida, era necessário acreditar em algo mais do que estava à vista dos nossos olhos. Era, simplesmente, preciso ter-se Fé. Foi então que ali renovei a minha crença em algo superior. Em apenas três meses recuperei aquilo que tinha perdido durante anos, deixei-me de porquês e comecei a acreditar que é preciso ter-se Fé, mais que numa religião, do que num Deus, era simplesmente preciso ter-se Fé, para agradecer, para pedir, para viver. Aquele foi um ano de transformação para mim e aos bocadinhos dei por mim a sentir a necessidade de ir à missa, a necessidade de agradecer no final de um dia, a necessidade de acreditar que há uma razão para tudo, mesmo que eu a desconheça. Hoje sinto-me mais próxima da religião do que algum dia estive, aprendi que é preciso enquanto ser humano termos algo. Não acredito em muito do que a Bíblia diz, o que se reforçou com a leitura do livro de José Rodrigues dos Santos, não acredito num Deus que queira o nosso amor total, mas sim dividido. Nem sequer acredito num Deus que não defende a mulher, que gosta que as pessoas sofram e que até nos castigue. É que nem acredito muito no céu e no inferno. No entanto, acredito em algo e é por vezes na igreja, nas minhas conversas surdas com Deus que me sinto bem. É nas horas de sufoco que o procuro, mas também nas horas de alegria em que agradeço pelo que tenho. Acredito plenamente na ciência e na evolução e nem vale a pena tentarem contradizê-lo, mas mais do que tudo isso acredito que o ser humano precisa de Fé, precisa de Acreditar. A mente é uma coisa muito poderosa e que nos ajuda a curar. Acreditar apenas nos dá a força que por vezes precisamos.

      Tenho uma visão muito minha da religião. Sei distinguir o bem do mal e não foi pela religião. Mas acredito em algo superior. Eu, com 26 anos acredito num Deus, não sei bem como, nem porquê, apenas sei que preciso. O catolicismo apenas veio porque foi o meio onde cresci, mas digo-o e reforço-o, tenho uma visão muito minha da religião e digo abertamente, eu tenho uma religião.

15
Mai15

O adulto e a doença

(Imagem retirada da Internet)

 

Quando fiz estágio na faculdade apercebi-me que a minha área de preferência para trabalhar era com as crianças. Passei por uma escola em que adorei trabalhar e passei num hospital de grande nome no norte do país. Apesar de ter aprendido imenso neste último, apesar de ter aprendido a encontrar-me enquanto pessoa humana (podem ver aqui, aqui e aqui algo de 2012) apercebi-me da dificuldade de lidar com adultos doentes. Quando me questionam sobre se prefiro trabalhar com crianças ou com adultos, respondo rapidamente que com crianças. Argumento sempre que é mais fácil lidar com eles por serem mais fáceis de manipular (de uma forma produtiva, claro) e de ser criativa com actividades para a sessão, mas a verdade é que a verdadeira razão só a verbalizei uma vez.

No estágio curricular que tive há 3 anos aprendi que lidar com adultos é uma constante luta connosco próprios e com os nossos sentimentos, porque eu sou aquele tipo de pessoa que tem a capacidade de teoria da mente* demasiado desenvolvida. Por isso, quando me surgiu pela primeira vez um paciente adulto com a idade dos meus pais pensei 'e se fosse o meu pai?'. Quando me deparei com uma jovem de 20 anos em fase terminal vivi muito no pensamento como reagiria se fosse eu, se eu estivesse na sua pele ou se fosse a sua irmã e familiar. Este primeiro contacto com a doença e a morte obrigou-me a aprender a lidar com este tipo de situação, mas foi no final do estágio, porque nunca consegui desligar-me totalmente dos meus sentimentos (como 90% das pessoas que me conhecem pensam), que decidi que a minha área seria as crianças.

Em 2014 iniciei o meu trabalho numa clínica de reabilitação, quando fui aceite em vez de saltar de alegria chorei que nem uma madalena. Ninguém compreendia como é que eu não estava imensamente feliz por ter encontrado emprego. Mas só eu sabia a razão. Depois de ter lido o post da Helena e comentado voltei a pensar no porquê de, ao fim de sete meses de trabalho, continuar a preferir trabalhar com crianças.

Numa clínica de reabilitação, arrisco a dizer que 70% dos casos são adultos com problemas de mobilidade, e outras tantas consequências, provocadas por avc's. E inevitavelmente, cada caso que me vem parar às mãos (com problemas de deglutição e alimentação, de memória, de fala, de compreensão, respiratórios...) não pensar 'e se fosse o/a meu/minha pai/mãe?'. Consigo adaptar-me à situação, consigo separar as águas, mas custa-me sempre receber um novo doente com uma nova condição de vida quando até há dias ou meses atrás tinha uma vida tão normal quanto a minha. Até 'ontem' andavam e comiam, falavam e ouviam como eu e 'hoje' estão numa cadeira de rodas ou com uma sonda no nariz. E não é só no paciente que penso, penso naquela família que perdeu a pessoa que conhecia, que tem também de se adaptar a uma nova realidade e o que sofre com isso. Esposas que deixam de ter vidas e viram cuidadoras, filhos que vivem com a dependência dos pais e vidas que desaparecem e se desagregam. São todos estes 'ses' que me fazem preferir trabalhar com crianças, simplesmente porque elas nunca conheceram uma outra forma de viver e o 'não conhecer' é muito mais fácil do que o 'perder'.

Por isso sou tão radical quanto à opinião sobre o tabaco. Por isso tenho uma forma tão rígida de falar sobre a obesidade. Por isso revolto-me com o meu pai quando o vejo ter uma alimentação totalmente desadequada. Porque o problema não é só do paciente, é de toda a gente que o rodeia. E quando todos estes comportamentos de risco são por opção própria (como fumar, comer em excesso...), pois não se procura ajuda ou se considera imortal, eu me sinto tão revoltada e com a incapacidade de voltar a usar a teoria da mente para compreender o porquê da opção dessas pessoas com comportamentos de risco. 

Por isso parem e pensem, não somos imortais e se há o infortúnio de termos um problema destes, pelo menos que não tenhamos sido nós próprios a provocá-lo.

 

P.S.: Pela primeira vez escrevo sobre esta temática que tanto me toca, mas achei que seria importante para compreenderem determinadas opiniões que tenho.

 

*capacidade desenvolvida em criança para nos colocarmos na pele do outro para compreender as suas perspectivas e emoções, por exemplo, para a criação de empatia.

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