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justsmile

18
Set20

Dia de Regressos Inimagináveis de uma Terapeuta da Fala

(Imagem retirada daqui)

          Jamais, em toda a minha vida, pensaria num regresso às escolas como o de hoje. Desde que me formei em Terapia da Fala, já lá vão 7 anos, que o contexto escolar era o meu objetivo. Adoro apanhar os miúdos na fase de aquisição da Leitura e Escrita e estas acabam por ser as minhas áreas de intervenção preferidas, juntamente com a Linguagem. Sempre desejei, como terapeuta da fala, trabalhar a tempo inteiro numa escola, em 2018 tive essa sorte e concretizei um dos meus objetivos e até hoje digo que estou no meu ambiente natural e onde gosto mais de trabalhar, no meio (também) natural das crianças. No entanto, este ano foi um regresso bastante diferente às escolas, um regresso como numa tinha imaginado na vida.

         Após 6 meses longe das crianças, após 6 meses do encerramento das escolas o regresso aconteceu e apesar do entusiasmo e o desejo de voltar, a verdade é que o receio veio sempre aliado a todos os outros sentimentos. A chegada desta pandemia, de uma forma tão inesperada e tão intensa fez com que tudo à nossa volta tivesse de mudar, mas o que mais mudou foi a forma como as crianças vêem o mundo e como terão de lidar com ele. As mil e quinhentas regras que lhe estão a ser impostas, o distanciamento social, as máscaras e até o facto de lhes terem tirado os intervalos como os conheciam fará com que as crianças cresçam de forma condicionada. Estamos a transformar as nossas crianças, sei que é necessário, que no fundo é tudo por uma questão de saúde pública, mas fico triste por eles, até porque as regras não foram feitas a pensar neles. Em que mundo dez minutos de intervalo é saudável para crianças entre os 6 e os 10 anos?

      Até a terapia teve de ser transformada, eu que me sentava lado a lado com eles, como se fossemos companheiros da aprendizagem já não o poderei fazer, os jogos que não podem ser desinfectados já não poderão fazer parte da nossa rotina e o mais difícil de tudo? Os abraços, os miúdos adoram abraçar, nem lhes pedia, tomavam sempre essa iniciativa e agora? Agora ensinamos-lhes que não pode ser, que não se deve fazer isso, que tudo à nossa volta é diferente. Sinto uma ansiedade em estar com os meus meninos, mas ao mesmo tempo uma tristeza por as coisas não poderem ser como já foram. Para mim irá ser um desafio profissional, mantê-los motivados sem contacto, sem trocas de materiais e com inúmeras regras, mas para eles? Para eles a terapia nunca mais será a mesma, a escola nunca mais será a mesma e receio, receio o tipo de imposições que lhes estamos a colocar e as suas implicações no futuro.

          Este é sem dúvida um regresso muito desejado, mas com um sabor agridoce. Que pelo menos seja um bom regresso para todos!

21
Jan19

Da falta de educação

(Imagem retirada daqui)

        Pela primeira vez na minha vida profissional estou a trabalhar em contexto escolar, ou seja, vou às escolas dar Terapia aos miúdos que têm dificuldades de aprendizagem. Antes disso já tinha trabalhado com crianças em idade escolar, mas em contexto de gabinete, o que nos tapa a vista a uma realidade que tem sido um bocadinho assustadora para mim. Ao longo dos últimos anos como Terapeuta da Fala, que não são muitos (admito) tenho verificado que o comportamento da maioria das crianças (não vou generalizar, porque há sempre agradáveis excepções) tem modificação de uma forma extremamente negativa. Eu, sem ser mãe, sei que estou aqui a colocar-me a jeito para levar uma chibatada de todos os pais e mães que irão ler este texto, mas venham de lá elas!

         Tenho visto a evolução do comportamento das crianças de perto, seja em contexto clínico ou em contexto escolar, mas admito que se tem tornado um bocadinho mais assustador no segundo ambiente, talvez por ser o contexto natural da maioria das crianças. Os comportamentos das crianças têm sido cada vez mais agressivos, cada vez mais egocêntricos e sem nenhum tipo de respeito pela autoridade, aliás, acredito perfeitamente que nem percebam o conceito "autoridade". Quando era miúda era impensável contradizer a professora ou dar um pequeno 'piu' depois de um grito, hoje? Hoje a professora pode berrar o que quiser para os miúdos se sentarem e estarem calados que haverá sempre algum com a vontade de contradizer ou simplesmente ignorar tais ordens. E o comportamento contrário da professora, de calar-se e observar, está longe de ter um efeito. Já para não falar da hipótese de os miúdos dizerem "estou no meu direito de falar" (e sim, já ouvi estas palavras). As crianças estão cada vez mais focadas em si próprias e em seguirem as suas próprias regras, se elas existirem, em vez de ouvir um adulto ou sequer fazer o que ele diz. Vejo a luta diária dos professores e vejo os seus desesperos em pleno ensino primário! Contudo, já não é só na sala que isso acontece. É difícil controlar os seus comportamentos no intervalo, em sessões de Terapia comigo o desafio também tem aumentado de uma forma significativa.

        O comportamento das crianças tem sido uma coisa que me tem preocupado, vejo naquelas crianças um futuro adulto sem qualquer tipo de responsabilidades e a considerar que o mundo deve girar à sua volta. A educação, antes de vir da escola, tem de vir de casa e é isso que se tem perdido ao longo dos anos. Os pais não gostam de contradizer as crianças e aguentar uma birra é bem mais complicado do que entregar um telemóvel para acalmar qualquer tipo de contrariedade. As crianças não sabem lidar com a frustração, não só com as pessoas, com os próprios aparelhos tecnológicos e mudar de actividade é bem mais simples do que voltar a tentar e voltar a errar. Estão a ser criadas crianças sem responsabilidade, que se centram em si próprias e que não sabem ouvir um "não". Que futuro poderemos nós ter com estas crianças?

23
Mar18

Pais, não façam isso aos vossos filhos!

(Imagem retirada daqui)

 

       Começo este post com o texto da praxe que muitas vezes sensibiliza pais e que demais: Não sou mãe, não tenho filhos, mas tenho uma opinião muito formada sobre o assunto porque trabalho com crianças, vejo as suas reacções e conheço-lhes os comportamentos. Tenho sobrinhos que adoro, tenho primos que estimo e adoro trabalhar com crianças na minha área de formação. Isto tudo porquê? Porque gostaria de fazer um apelo a todos os pais que por aqui passam, um momento de leitura e de sensibilização para alguns comportamentos que os pais têm perante os filhos que, inconscientemente, prejudicam uma criança.

       A chegada da Páscoa é também sempre altura de receber as notas de mais um período lectivo, não sou professora, até podia nem ser terapeuta, mas apercebo-me disso por uma simples razão, o Facebook enche-se de pais orgulhosos dos seus filhos e que partilham fotografias das notas das crianças. É claro que não vemos nenhum Satisfaz, nenhum Suficiente, mas sim Excelentes e Muitos Bons espalhados por toda a Rede Social. Eu sei que é um motivo de orgulho, até eu gosto de saber que há bons alunos por aí, sei que deve preencher o coração de um pai saber que o esforço do filhos está a ser recompensado, mas já tentaram pensar nas consequências desse comportamento de partilha? Cada vez mais me apercebo que os pais querem filhos com excelentes notas, com muito bons a tudo e mais alguma coisa, coisa que eles próprios nem um dia foram. A escola e os próprios pais estão cada vez mais exigentes, basta ver que inúmeras são as crianças que procuram um explicador ainda no ensino primário. Ao partilharem as notas dos vossos filhos nas redes sociais não só estão a mostrar o vosso orgulho, que nada de mal tem, mas estão a criar nas vossas crianças uma pressão totalmente desnecessária. É a pressão da perfeição que tanto estraga a auto-estima, a auto-confiança e a cada possível falha a uma descredibilização de si próprio. Eu sei que o fazem inconscientemente, que nunca sequer tinham pensado nas consequências de um acto tão banal como esse, mas a verdade é que tem repercussões negativas nos vossos filhos. É óptimo dar-lhes os reforços positivos, mas a família toda, o vizinho e até o gato não precisam de o saber. As nossas crianças já passam demasiado tempo na escola, já têm pouco tempo para brincar e até para estarem com os pais, não precisam de mais uma pressão em cima delas. Eu sei, eu sei, alguns estão aí a dizer que sou uma exagerada, que as crianças até ficam contentes de verem as notas no Facebook e que pode servir como o falado estímulo positivo, mas e depois? E quando a coisa descamba? É que não me parece que queiram colocar um Suficiente como capa de perfil ou até um Suficiente Mais. E depois as crianças vão  sempre tentar atingir aquele número perfeito que a mãe ou o pai publicaram no primeiro ano da primária e que nunca mais atingiram. As crianças vão tentar sempre agradarem, lutarem por aquele lugar, se para uns serve como motivação, para outros o descer de nível, de valorização só trará frustração e falta de confiança.

        Eu sei que não sou mãe, mas já vi estes casos com os meus próprios olhos e acreditem que tenho pena das crianças, pela pressão que têm aos seus ombros em serem os filhos perfeitos, em terem as notas perfeitas, apenas para serem iguais aos meninos cujos pais publicaram as notas no Facebook. É uma pressão colocada sobre as crianças totalmente desnecessária, que apenas surge na cabeça dos adultos como algo simples e sem valor, mas que fazem questão de partilhar com o mundo. Eu, tia, terapeuta e prima digo: Não façam isso aos vossos filhos, nada de bom vos trará.

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