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justsmile

02
Ago21

Vou voltar à escola, loucura?

(Imagem retirada daqui)

         Quando terminei o curso, em 2013, sabia que queria tirar o Mestrado. Não de imediato, pois queria experimentar o mercado do trabalho, mas que algures antes dos 30 anos gostava de ter isso realizado. Na minha cabeça, antes de casar, antes de ter uma casa e até antes de ter filhos. A verdade é que os planos nem sempre saem como imaginamos, as prioridades trocaram e apesar de se ter mantido um desejo meu, o Mestrado foi ficando para segundo plano, para "um dia". O tempo foi passando e com tanta coisa a acontecer nas nossas vidas o Mestrado nunca foi uma prioridade, aliás, na minha cabeça até estava engavetado num armário qualquer, bem escondido. Durante uma das nossas noites de conversas, entre mim e o maridinho, daquelas em que falamos dos planos financeiros e que fazemos pontos de situação, apercebemo-nos que neste momento descontamos imenso para IRS e que no contexto escolar o grau de Mestrado começa a fazer-me alguma falta, nomeadamente para dar formações de forma autónoma. Foi quando Ele sugeriu para me candidatar ao Mestrado, em mim abriu-se aquela gaveta que estava fechada há tantos anos e fiquei a ponderar se não seria uma verdadeira loucura. Com uma casa em construção que acaba por nos tirar algumas horas de sono, com trabalho extra até dizer chega para conseguir dar resposta a todas as contas que a casa nos apresenta e ainda com uma vida doméstica, onde iria eu conseguir encaixar horas para estudar e para assistir a aulas? Se era algo que queria muito? Sim, sem dúvida. Algo que me faria crescer a nível profissional? Nem sequer o posso questionar. Então porque não? Porque aqueles receios do desconhecido, que há tempos aqui falei, voltam sempre.

           Inicialmente, Ele sugeriu que era a altura ideal, que se haveria alguém capaz de o fazer era eu, Ele simplesmente deu-me a força e a coragem que precisava para dizer que sim, talvez até fosse possível. Talvez não da forma que tinha idealizado, até porque trabalhar continua a ser uma prioridade e neste momento até uma necessidade, mas que haveria de conseguir, se não em dois anos, talvez em três ou quatro, mas que iria conseguir. Ele conseguiu acreditar em mim como eu não o tinha feito, apesar depois se ter questionado, como questionei a mim própria, se iria aguentar com tudo. E foi quando dei o salto de olhos fechados, vamos a isso! Preparei tudinho e lá me atirei do penhasco, para ver se havia rede no fundo. Não sabia se entraria, havia a grande possibilidade de tal acontecer, mas nada estava dado como certo e foi então que vi COLOCADO. E aonde? Questionam-se vocês. No mesmo sítio onde tirei a minha licenciatura, àquele sítio que um dia disse que não queria voltar, que não queria reviver. E foi aqui que a parte racional de mim teve de trabalhar, para conseguir combinar a área de estudo que queria, com o meu emprego, as minhas horas extras, a minha vida familiar e ainda um Mestrado, a localização era realmente essencial e por isso, mesmo não tendo sido a minha primeira escolha emocional, tive de escolher a opção racional e optar por voltar à casa onde nasci como Terapeuta da Fala.

          Voltar à casa onde conheci algumas das minhas melhores amigas, é agridoce, mas as memórias que acabam por me assaltar a mente são as menos positivas. Não fui uma pessoa que viveu o 'espírito do ensino superior' da melhor maneira, demasiado focada em acabar e em desejar terminar o curso, eram realmente essas as minhas prioridades e pelo caminho senti-me muitas vezes injustiçada, incompreendida, por outro lado sei que foram todas as adversidades que lá vivi que me fizeram ser a pessoa que sou hoje. E hoje irei regressar uma pessoa totalmente diferente, mais confiante de si mesma, com um auto-conhecimento de quem sou e do que quero muito mais consistente, uma profissional com experiência e já conhecimento, mas... Mas lembro-me daquela miúda que passou o 3º ano do curso a fazer-se de dura e a chorar às escondidas, que no dia em que 'queimou as fitas' chorou de alívio por ter terminado um percurso tão duro e que saiu de lá com a necessidade de se encontrar. Não era o meu sonho um dia lá voltar, mas hoje matriculei-me e espero que tudo seja diferente e que o sonho seja igualmente concretizado. A seu tempo, sem pressões, sem enlouquecer, mas com a vontade e o desejo de um dia vir a ser mestre.

           Desejem-me sorte, porque tenho a certeza de que vou precisar e muita!

 

21
Jan19

Da falta de educação

(Imagem retirada daqui)

        Pela primeira vez na minha vida profissional estou a trabalhar em contexto escolar, ou seja, vou às escolas dar Terapia aos miúdos que têm dificuldades de aprendizagem. Antes disso já tinha trabalhado com crianças em idade escolar, mas em contexto de gabinete, o que nos tapa a vista a uma realidade que tem sido um bocadinho assustadora para mim. Ao longo dos últimos anos como Terapeuta da Fala, que não são muitos (admito) tenho verificado que o comportamento da maioria das crianças (não vou generalizar, porque há sempre agradáveis excepções) tem modificação de uma forma extremamente negativa. Eu, sem ser mãe, sei que estou aqui a colocar-me a jeito para levar uma chibatada de todos os pais e mães que irão ler este texto, mas venham de lá elas!

         Tenho visto a evolução do comportamento das crianças de perto, seja em contexto clínico ou em contexto escolar, mas admito que se tem tornado um bocadinho mais assustador no segundo ambiente, talvez por ser o contexto natural da maioria das crianças. Os comportamentos das crianças têm sido cada vez mais agressivos, cada vez mais egocêntricos e sem nenhum tipo de respeito pela autoridade, aliás, acredito perfeitamente que nem percebam o conceito "autoridade". Quando era miúda era impensável contradizer a professora ou dar um pequeno 'piu' depois de um grito, hoje? Hoje a professora pode berrar o que quiser para os miúdos se sentarem e estarem calados que haverá sempre algum com a vontade de contradizer ou simplesmente ignorar tais ordens. E o comportamento contrário da professora, de calar-se e observar, está longe de ter um efeito. Já para não falar da hipótese de os miúdos dizerem "estou no meu direito de falar" (e sim, já ouvi estas palavras). As crianças estão cada vez mais focadas em si próprias e em seguirem as suas próprias regras, se elas existirem, em vez de ouvir um adulto ou sequer fazer o que ele diz. Vejo a luta diária dos professores e vejo os seus desesperos em pleno ensino primário! Contudo, já não é só na sala que isso acontece. É difícil controlar os seus comportamentos no intervalo, em sessões de Terapia comigo o desafio também tem aumentado de uma forma significativa.

        O comportamento das crianças tem sido uma coisa que me tem preocupado, vejo naquelas crianças um futuro adulto sem qualquer tipo de responsabilidades e a considerar que o mundo deve girar à sua volta. A educação, antes de vir da escola, tem de vir de casa e é isso que se tem perdido ao longo dos anos. Os pais não gostam de contradizer as crianças e aguentar uma birra é bem mais complicado do que entregar um telemóvel para acalmar qualquer tipo de contrariedade. As crianças não sabem lidar com a frustração, não só com as pessoas, com os próprios aparelhos tecnológicos e mudar de actividade é bem mais simples do que voltar a tentar e voltar a errar. Estão a ser criadas crianças sem responsabilidade, que se centram em si próprias e que não sabem ouvir um "não". Que futuro poderemos nós ter com estas crianças?

22
Nov18

A Presidente do Conselho Nacional de Educação

(Notícia lida aqui)

      Não sei se estão a par do ensino em Portugal, eu vou estando, principalmente nesta fase da vida em que trabalho em contexto escolar com alunos que tenham dificuldades ao nível da Leitura e Escrita, assim como de Fonologia. A realidade que vejo no 1º ciclo é que muitos são os miúdos que passam para o 2º ano sem saberem ainda associar o som à letra. A realidade que vejo no terreno é que os alunos chegam ao 4º ano sem saberem escrever um texto com sentido. A realidade é que no 1º ciclo a dificuldade em reprovar um aluno é enorme, aliás, é impossível pois alunos do 1º ano não podem reprovar e os restantes evita-se ao máximo por causa da idade, por causa de estatísticas ou até do conselho directivo. Reprovar é cada vez mais uma ilusão, por muito que um aluno não adquira conhecimentos não reprova e temos miúdos que transitam para o 5º ano sem saber ler e escrever minimamente em condições. Com jeitinho, chegarão ao 12º ano sem saberem conjugar verbos, sem saberem escrever palavras que não fazem parte do seu quotidiano ou até sem saberem interpretar um texto. Esta é a minha realidade, o meu dia-a-dia e a culpa não é sempre (só mesmo às vezes) dos professores. Nota-se o desespero deles quando os miúdos não conseguem aprender, nota-se as dificuldades que têm ao tentar proporcionar-lhes os devidos apoios, ao tentarem fazer-lhes chegar a aprendizagem. E as reprovações? Como podemos passar os alunos senão sabem ler nem escrever? Como se pode validar a passagem de um aluno que não adquire conhecimentos? Muitas vezes nada tem a haver com problemas de saúde ou psicológicos, mas sim com a falta de trabalho, de maturidade, de regras e de motivação. A escola é cada vez mais desvalorizada em alguns meios e com todo o facilitismo que tem existido cada vez menos as crianças vão compreender que os seus actos têm consequências, cada vez menos vão ter de lidar com a frustração e de compreender que a vida não é sempre como querem.

         Não estou a falar só da minha opinião, estou a argumentar com a minha experiência no campo, com aquilo que vejo todos os dias nos locais por onde trabalho. Assusta-me a forma como o ensino está a ser desvalorizado, assusta-me a forma como estamos a ensinar uma sociedade que não se precisa de esforçar para alcançar qualquer tipo de objectivos realistas (lamento, mas todos os meus miúdos do sexo masculino não poderão ser futebolistas). Esta é a realidade que vejo lá fora. Se o ensino fosse diferente? Talvez realmente as reprovações não fossem a melhor opção, talvez cada aluno deveria ter um currículo diferente, de acordo com as suas capacidades depois de ter aprendido o Ensino Básico, talvez o ideal era conseguirmos ter um ensino autónomo e com base na experiência. No entanto, o ensino nacional, não sendo o melhor e estando longe disso, é como é e deteorá-lo, facilitá-lo só irá impedir de formarmos uma sociedade com responsabilidade, com bom senso e com o mínimo de Educação. Se queremos mudar o ensino, algo que estou a favor, temos de começar pela base e não saltar degraus em busca dos números e do famoso "sucesso escolar" que não passa de estatísticas ilusórias. 

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