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justsmile

04
Jun20

Depois deste tempo todo, voltar à rotina

 

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(Imagem de Just Smile)

         Depois de quase três meses em casa, a rotina fora de casa voltou de forma inesperada e completamente absurda. Gostava de acreditar que o confinamento tinha mudado a mente das pessoas, que toda a situação actual do mundo fizesse com que as pessoas aprendessem a valorizar o trabalho e não levarem a avante simples caprichos. Que o mundo empresarial tivesse compreendido que tem bons funcionários e que o teletrabalho nunca fez parar o serviço, nem por um segundo. Pois, enganei-me. Acreditar no crescimento da humanidade nas pessoas é das coisas que mais me faz ficar desiludida quando caio na realidade. De um dia para o outro, sem qualquer tipo de argumentação a não ser um simples "porque sim" (conjunto de palavras com as quais sempre tive bastantes dificuldades em aprender a lidar) tivemos de voltar às escolas, onde não há crianças, onde continuamos a dar teleconsultas e onde, simplesmente, o fundo do ecrã mudou. Deixei de ter o meu candeeiro, as minhas cortinas e a parede branca como fundo das minhas sessões, para passar a ter uma cadeira desconfortável e uma parede amarela e suja. Porque o eu quero, posso e mando ainda persiste no mundo empresarial. Porque o bem estar dos funcionários continua a não ser uma prioridade, mas sim os caprichos de quem tem o poder nas mãos. Continuo sem perceber porque voltei, mas a verdade é que voltei.

         Ontem foi o meu primeiro dia de regresso às escolas, não ao trabalho porque nunca deixei de o fazer (até foi redobrado), mas ao local onde seria de esperar estar cheio de crianças, barulho, correrias e campainhas. É estranho voltar a uma escola fantasma, amaldiçoada por um silêncio surdo que nos faz relembrar a todo o momento que o que vivemos é novo para todos nós. Cada um de nós fecha-se nas suas salas, distanciados uns dos outros e voltamo-nos para o computador, onde é passado o resto do nosso dia entre teleconsultas, preenchimento de documentos e preparação de materiais. No fundo tudo o que fazíamos em casa, mas num contexto estranho, vazio e vagamente triste. Custou-me voltar a levantar uma hora mais cedo para fazer tantos quilómetros, quebrou-me a alma ter de preparar a marmita para voltar para um sítio que não era o que recordava dele, mas voltei a sentir que o tempo me iria começar a escapar das mãos. Isso sim, foi a sensação mais estranha que tive. O corpo também estranhou as calças de ganga e as sapatilhas por mais de uma hora, assim como o maior controlo dos horários. Todo este regresso tem sido estranho, obrigou a uma nova reorganização de horários, sem qualquer tipo de necessidade, à elaboração de uma nova rotina e até a novos hábitos de higienização que nunca me tinham passado pela cabeça.

           Em mim está a estranheza dos novos tempos. Em mim continua a questão do porquê de ter de cumprir com o capricho de alguém. Em mim continua a sensação de que tudo mudou e ao mesmo tudo permanece igual. Em mim está uma ambiguidade de pensamentos e sensações.

22
Mai20

Férias por um canudo

(Imagem retirada daqui)

         Nos dois últimos anos temos conseguido planear um bom tipo de férias, em locais com água quente e de papo para o ar. O tipo de férias que Ele adora, comer, beber, dormir e apanhar sol. Temos ido para fora da Europa, México e Marrocos, para aproveitar as águas quentes e os pequenos paraísos da terra. Este ano, tinha conseguido convencê-lo a passarmos férias pela Europa num dos países que mais gostava de conhecer, Itália. Ele já se tinha mentalizado que não iam ser umas férias de papo para o ar, mas eu andava desejosa por fazer uma viagem em que o maior prazer seria conhecer uma nova cultura e aumentar os meus conhecimentos sobre um país tão rico. Andei imenso tempo a investigar qual a melhor maneira e forma de conhecer Itália e, claro está, a mais económica. Queria mesmo, pela primeira vez, fazer uma verdadeira roadtrip e conhecer um dos países que mais me chama à atenção. Sabia que ia ser cansativo, Ele também, mas iríamos ter tempo para descansar quando chegássemos das férias. Compramos a viagem de ida para Roma em Setembro e em Fevereiro a de vinda de Milão, sempre para aproveitar os preços mais baratos. Tinha já tudo imaginado na minha cabeça e planeado no mapa. Os hotéis já estavam marcados em Roma, Toscana, Florença, Veneza e em Verona, íamos fazer uma roadtrip de uma semana por Itália, e até já tínhamos conseguido acertar o orçamento para tal viagem. Ia realizar um dos meus sonhos este verão durante as férias de Julho, até que... Chegou o Covid-19.

         Com a chegada do Covid-19 as férias foram por água a baixo, aqueles planos que estavam tão bem definidos na minha cabeça desapareceram e o cancelamento dos hotéis começou. Admito que quando tudo começou ainda pensei "Oh, em Julho já vai estar tudo bem!", mas há medida que o tempo foi passando comecei a perceber que tal coisa não iria acontecer com tanta facilidade. Comecei a desmotivar e compreendi que a coisa mais acertada a fazer era realmente começar a cancelar as férias deste ano e a tirar da minha cabeça os planos que já estavam feitos. Eu, que anseio todo o ano pelas férias e por novas aventuras, senti-me desiludida, quase ultrajada por toda esta situação do Covid-19, mas compreendi a necessidade de tudo ser cancelado. Ciao bella Itália!

         "Oh, mas podes ir de férias cá dentro", pois, mas admito que sou uma mariquinhas (assim como o maridinho) e ainda não estamos com coragem de fazer seja o que for e onde for. Eu sei que haverá segurança, eu sei que precisamos de voltar a dinamizar a economia, mas a verdade é que tenho de ir dando passinhos de bebé e não me imagino a entrar na mesma piscina que tanta gente, mesmo sabendo que é seguro ou até a ir à praia com tanta facilidade como iria noutra altura qualquer.

           Por isso lá se foram as férias de 2020... Serei a única a pensar assim?

 

03
Out17

Na política e no futebol não há racionalidade

(Imagem retirada daqui)

 

      Agora que já passaram dois dias das Eleições Autárquicas, penso que é seguro vir aqui falar sobre as últimas tendências. Talvez ainda não seja muito seguro, mas ainda assim venho falar daquilo que anda na minha cabeça há dois dias. Se repararem bem, raramente, a não ser que o tema já tenha sido muito falado e continue a estar como acontecimento do dia, falo de política. Também raramente, se virem bem, falo de futebol. Aliás, acho que há mais de nove anos que tenho este blog nunca falei de futebol e se falei duas vezes sobre política foram muitas. Normalmente não falo sobre estas temáticas por duas razões, não são temas que me apaixonem, não aprecio muito um, nem outro. E depois, não falo muito sobre estas temáticas porque por muito que fale unicamente da minha opinião vai haver sempre alguém a criticar, a falar mal daquilo que digo e, no seu limite, insultar-me. Sei bem como as coisas funcionam e como nunca apreciei confusões, gosto simplesmente de me manter à margem das situações de confusão. Mas desta vez será diferente, falarei porque pela primeira vez envolvi-me na política.

      Não sou uma pessoa com um partido definido, não me guio por cores, mas sim pelas pessoas e pelas propostas e ideias que defendem. Este ano um amigo, já envolvido na política, convidou-me a fazer parte da sua lista, como amiga e como voluntária das suas muitas actividades realizadas na freguesia aceitei. Aceitei mesmo não gostando da política, coisa que lhe deixei bem clara desde o início. Aceitei porque me senti na obrigação de apoiar um amigo, porque sei que era e continua a ser um excelente Presidente de Junta e como nunca vi nenhum igual (o homem até apanhar lixo da estrada e meter paralelos faz, mesmo sento empresário independente). A verdade é que o seu partido é o partido mais defendido na minha família, o partido oposto ao da nossa Câmara e até um partido com quem ultimamente não simpatizo muito. No entanto, volto a reforçar, aceitei porque é um amigo. Contudo, apesar de nunca ter gostado muito de política meti-me à séria na coisa, afinal quando me meto seja no que for não gosto de me envolver por metades, dou tudo de mim e levo tudo até ao fim (sou assim com tudo e acho que quem me conhece sabe perfeitamente disso).

      Antes de me envolver na política existiam algumas premissas que já sabia sobre o meu concelho, que apesar de não gostar e de não concordar com elas, sabia que eram uma realidade e que teria de viver com isso a minha vida toda. Nomeadamente "Somos um concelho que defende muito a cor e não a pessoa", "Somos um concelho que se preocupa mais com a imagem do que os bens básicos", basta dar-vos a conhecer que em pleno século XXI, a menos de 20 km do Porto somos um concelho que ainda não tem rede de água potável nas suas freguesias e nem o saneamento está todo feito (na minha rua tem coisa de sete anos), "Todos temos um favor a dever a alguém da Câmara" e entre outras questões que nem vale a pena nomear. No entanto, sempre acreditei na democracia, para o bem e para o mal, e meti-me na política na esperança que ao fim de mais de 40 anos o partido na Câmara mudasse. Sabia que era quase impossível, mas partilhei a informação, argumentei contra pessoas de outros partidos, defendi os meus ideais, falei das necessidades básicas que são mais importantes que festas e afins. Fiz o meu papel e achei que ia fazer alguma diferença, não muita, mas alguma, mesmo quando co-argumentavam sem argumentos decentes. Mas nisto tudo sempre mantive o respeito, a dignidade, a simpatia e nunca deixei de ser quem sou, nem de defender aquilo que me parece essencial.

      No domingo, como minha obrigação, estive o dia todo nas mesas de voto e tudo correu lindamente. O amigo ganhou a Junta, a pessoa que defendi para a Câmara ganhou na nossa terra, mas perdeu no concelho TODO. E não perdeu por meros números, perdeu por muito, o que me impressionou imenso e só apoiou as premissas que tinha referido anteriormente. Afinal tudo o que considerava sobre as pessoas do meu concelho estava certo. Fiquei desiludida, apenas porque sempre fomos e continuamos a ser um povo que apenas gosta de imagem e de festas, mas aceitei. Afinal foi a democracia a funcionar no seu total esplendor. Aceitei como cidadã, como pessoa e continuei em frente, também não havia nem há mais nada a fazer. São mais quatro anos do mesmo e só sonho em ter água da companhia na minha rua nestes quatro anos, senão lá teremos de fazer novo poço (continuo a duvidar que tal aconteça, mas pelos vistos só eu me preocupo com isso). Tudo na política do último mês, que me deixou sem tempo e absolutamente de rastos, correu quase como previa. O que não previa era o depois.

      O dia a seguir às eleições foi a demonstração do verdadeiro lado do ser humano. Eu sabia que era assim no futebol, sabia que quando se defende um clube perde-se a racionalidade. Que quando o Benfica ganha, adoram esfregar isso na cara dos Portistas ou que quando o Porto ganha adora mostrar isso aos Benfiquistas. Isto é apenas o lado mais calmo, pior é quando há insultos, ameaças e violência. Sabia que tudo isso acontecia no futebol e por isso acabo por desprezar um bocadinho esse desporto. As pessoas perdem a racionalidade, a dignidade e funcionam muitas vezes à base de insultos, o que no meu ver, é absolutamente ridículo, até porque não há um lado certo para estar, há apenas uma opinião, um gosto. O que não sabia é que isso se aplicava também à política. No dia seguinte às eleições, depois de termos perdido a Câmara (algo que previa, mas nunca com uma diferença tão grande) as pessoas perderam a racionalidade e foram para a Página do Facebook insultar o candidato. Não eram frases produtivas, nem apenas argumentação, eram insultos, rancor, vingança e tantas outras coisas negativas que fiquei espantada. Era realmente algo de que não estava à espera. As pessoas tinham simplesmente perdido a racionalidade, fosse para o lado vencedor, fosse para o lado perdedor, existiram centenas de pessoas a insultar os candidatos e quem defendia os mesmos. Disto não estava eu à espera. Não existem limites, a educação perde-se pelo caminho, as pessoas não param para pensar e apenas querem falar mal, insultar alguém que no fundo nunca lhes fez mal. Faz-me confusão esta mesquinhez, esta falta de empatia, seja em que lado for, mas pela primeira vez a vi na fila da frente e isso deixou-me desiludida.

      Com isto da política aprendi duas lições: a primeira, as pessoas são falsas, fazem-se de boazinhas para conseguirem brindes, festas e no dia viram as costas; a segunda, na política e no futebol não há racionalidade, não há dignidade, espezinhar e rebaixar o outro é motivo de orgulho. No fim a democracia ganhou, com prioridades diferentes daquilo que tenho, mas que tive de aceitar e nem por isso ando aí a insultar uns e outros. Posso não concordar, mas sei respeitar, algo que muita gente não sabe.

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