O sonho e a realidade são diferentes
Há, precisamente, quatro anos terminou a minha caminhada no Ensino Superior, não sei se lá voltarei, não sei se esse capítulo da minha vida termina por aqui, mas a verdade é que não há nada que me faça arrepender dos passos que tomei. Quando terminei o curso pouco sabia de como viria a ser o meu futuro profissional. No entanto, inocente e inconscientemente, projectei na minha mente um futuro que se realizou, mas apenas temporariamente. Quando terminei o curso sabia as dificuldades do mercado do trabalho, contudo imaginava-me a trabalhar em vários locais a recibos verdes, sempre com trabalho em mãos e a cidade do Porto sempre no meu cenário. Vila Nova de Gaia ou o Porto, pensei que fossem as cidades que estariam sempre na minha história do passado e do presente. Não sei porquê, mas sempre imaginei que o meu trabalho andaria em volta destas duas cidades, talvez por gostar do Porto, talvez por ter estudado em Vila Nova de Gaia ou simplesmente porque o Porto é a cidade do meu coração e nela esperava crescer profissionalmente. Sabia que não seria fácil, sabia que iria trabalhar em mais que um local, mas que estaria pelo Porto. Quem sabe, nesta altura do campeonato já estivesse a terminar o meu mestrado.
Quatro anos depois de ter terminado o meu curso superior, dou por mim num local que nunca imaginei. Se há quatro anos me tivessem dito que era aqui que viria a estar em 2017, eu diria impossível. A vida deu-me as voltas, deu-me realmente o cheirinho do que era atravessar a ponte todos os dias para trabalhar em Vila Nova de Gaia, pelo menos durante um ano. Durante um ano a ponte da Arrábida voltou à minha vida e todos os dias ia trabalhar na minha área, a recibos verdes, está claro, mas parecia ser a vida que tinha planeado para mim e assim era feliz. A vida deu-me uma amostra daquilo que tinha imaginado para o meu futuro, aquilo que tinha, inconscientemente, idealizado para mim. Mas depois retirou-me esses planos. A vida deixou-me no desespero do desemprego, tirou-me a cidade dos meus olhos do meu campo profissional e ainda me obrigou a mudar de profissão. Depois de sentir o sabor do que sempre tinha imaginado, senti-lo desaparecer doeu mais do que imaginava.
Hoje, hoje olho para trás e vejo como era ingénua, como apesar de sempre me ter considerado uma racional, estava a deixar envolver-me pelos meus desejos e pelos meus sonhos. A realidade voltou a trazer-me à terra e mostrou-me que nem sempre os sonhos são da maneira como os imaginamos. Não sou infeliz, nem lá perto, sei adaptar-me a novas realidades e ser feliz com isso, mas trago sempre em mim a mágoa de não ter conseguido concretizar uma das coisas que mais gostava. Tenho a pena de não ter conseguido manter aqueles planos que tanto idealizei, que tanto lutei e que a vida não me quis conceder. Sei que ainda não é impossível a concretização de cada um desses sonhos, mas parecem-me cada vez mais distantes e, infelizmente, a esperança de concretização dos mesmos vai morrendo aos bocadinhos.
Os sonhos por vezes não se concretizam como os imaginamos, transformam-se, mas sabemos sempre que um dia estiveram lá e que a realidade apenas nos trouxe novos caminhos. Nunca me arrependerei dos passos que dei.