Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

justsmile

11
Mar21

Um ano em que tudo mudou e em que tudo parece igual

(Imagem retidada daqui)

       Lembro-me como se fosse ontem, estava preocupada com a minha mãe, ela tinha ido para o Hospital de São João com o meu pai e estava na fila do Hospital de Campanha da Cruz Vermelha. Tinha febre, tosse, estava ligeiramente desorientada e nessa semana, o segundo caso de internamento no Hospital de São João tinha sido o pai de um aluno meu. Lembro-me perfeitamente de toda a preocupação, das vezes que estive ao telefone para saber como estava e até do dia de sol quente que se mostrava em Braga. Lembro-me também da minha coordenadora ter dito que a partir de segunda-feira ficávamos em casa, que as escolas iam encerrar, mas nem me preocupei com isso, só pensava na minha mãe. A minha mãe afinal tinha 'apenas' uma pneumonia e ficamos mais aliviados, afinal o desconhecido era bem mais assustador naqueles dias e na segunda-feira seguinte ficamos todos em casa a ser bombardeados com trabalhos absurdos.

      Lembro-me como se fosse ontem, todas as incertezas que estávamos a enfrentar, mas a verdade é que naquela altura não imaginava que ficássemos tanto tempo confinados, achava que em dois/três meses as coisas ficavam resolvidas. Só no verão me comecei a convencer que nada de bom viria até ao verão de 2021. Hoje, acho que vamos ficar com este vírus o resto dos nossos dias e que a vida nunca mais será a mesma. E a verdade é que já passou um ano desde que tudo começou no nosso país e a sensação que tenho é de que tanta coisa mudou e ao mesmo tempo que nada mudou. As cidades ficaram desertas, na rua poucos carros passavam e o receio de contacto com desconhecidos aumentou exponencialmente. Tudo nos deixou com receio, o saco do pão, as compras que chegavam a casa e até as cartas, hoje já nada disso nos faz medo, mas há um ano tudo isso era considerado um problema. E apesar de agora sabermos (mais ou menos) com que vírus lidamos a verdade é que tenho a sensação de que tudo está igual, o egocentrismo das pessoas que no início foi substituído por uma enorme onda de solidariedade e com aplausos aos profissionais de saúde, agora voltou ao que era. A estupidez do mundo, que parecia ter desaparecido nas duas primeiras semanas desta pandemia, voltou e ainda de uma forma mais persistente, com o recurso a frases impossíveis pagmaticamente (como o uso recorrente de 'os meus direitos' que normalmente não encaixa no contexto do resto da frase proclamada). As notícias continuam a abrir com o covid-19, mas já não demoram horas sobre o assunto. Muita coisa mudou ao longo do último ano, voltamos a confinar dando a sensação que o mês de Março de 2020 nunca deixou de desistir, parecendo quase o mês mais longo das nossas vidas, pois a verdade é que em Março de 2021 nos encontramos na mesma situação com ligeiras nuances. As pessoas já não receiam tanto o vírus e começaram a desconfinar ainda antes de lhes ser permitido, os passeios nas marginais ao domingo parecem manter-se na rotina e convívios clandestinos continuam a acontecer. Tanta coisa mudou e tão pouco mudou efectivamente.

         A minha vida mudou, definitivamente, não consigo pensar em férias para o verão apesar de as desejar ardentemente. Não faço reuniões de amigos e família há demasiado tempo, tenho umas saudades do tamanho do mundo. Aprendemos a aceitar o distanciamento social, apesar de nos doer, aprendemos a conviver com as novas tecnologias como se fossem uma parte de nós e a nossa casa tornou-se o nosso mundo, quase de forma literal. Se houve coisas boas? Sem dúvida alguma, esta pandemia permitiu a muitas pessoas reformularem as prioridades da sua vida, a outras permitiu ver e aproveitar os pequenos prazeres da vida e até a desacelerar o ritmo da vida. Permitiu às famílias ficarem-se a conhecer, no verdadeiro sentido da palavra, e a casa tornou-se o porto seguro, quando para muitas pessoas era apenas um local para dormir e mudar de roupa. Acho que muita coisa boa este último ano acabou por trazer à vida daquelas pessoas que o permitiram, a outras as coisas serão sempre negras. Muita coisa má aconteceu ao longo do último ano, é impossível ficar-lhe indiferente, mas continuo a preferir focar-me no que de bom nos trouxe.

        No fim de contas, ao final deste ano de covid-19 nas nossas vidas continuo com a sensação de que tudo mudou e que tudo parece igual, mas a verdade? É que efetivamente a nossa vida foi mudada para sempre.

13
Fev21

Estes fins-de-semana de confinamento

(Imagem retirada daqui)

       Desde Março de 2020 que os fins-de-semana têm sido passados em casa, uns com obrigatoriedade outros com uma obrigatoriedade intrínseca e outros com pequenos passeios (esses já devem ter sido no verão...), mas sempre sem amontoados de gente, sem planos em família e sem ajuntamentos de amigos. Estar em casa nunca foi um sacrifício, mas os fins-de-semana, ao fim de quase um ano, têm sido uma espécie de monotonia de relaxamento em que descanso o corpo e a mente e me permito a coisas que durante os dias laborais é completamente impossível. Os fins-de-semana em casa têm sidos passados com doces caseiros, com comida gostosa e novas receitas, mas com o sabor de aconchego nestes dias frios e chuvosos.

         Nesta rotina de pós-confinamento e novo confinamento, aprendi que é essencial ter o fim-de-semana para os pequenos prazeres, para descansar o corpo e a mente desta nova realidade que vivemos. Aprendi a despachar as tarefas domésticas à sexta-feira e permitir-me a relaxar ao sábado e ao domingo. Tenho passado esses dias a fazer pequenas coisas que gosto, cozinhar com prazer e não só por obrigação, sentar-me no sofá a ver séries românticas sem Ele, porque Ele tem andado a viver para o trabalho, e tenho-me permitido desligar da realidade que está lá fora. Um livro, um filme ou até uma breve sesta de manta no sofá, quando o silêncio em casa se instala. Se estes fins-de-semana têm sido produtivos? Não, rigorosamente em nada, acabo sempre por fazer pequenas tarefas que se vão acumulando no dia-a-dia, organizar faturas, organizar documentos para a casa nova ou até limpar o faqueiro da gaveta que tanto precisava, mas permito-me a não fazer nada.

         Esta nova realidade, se por um lado alterou tanto a nossa rotina, trouxe realmente um bocadinho do conceito de slow living e gosto de o conseguir saborear. Gosto de, quando possível, ir dar a minha caminhada pela minha terrinha, gosto de me sentar à mesa ao sábado à noite com um copo de vinho e uma comida saborosa. Gosto de beber a minha meia de leite ao lanche com uma tosta mista caseira e até de deixar o telemóvel perdido pela casa e esquecer os grupos de Whatsapp e das redes sociais. Gosto desta forma lenta de passar o dia. É verdade que começo a necessitar mais de ar livre, tenho saudades do mar, tenho saudade dos parques e de simplesmente me sentar numa esplanada com uma bebida fresca. Sinto saudades dessas pequenas liberdades que nos eram permitidas, mas sei que hão de chegar. Anseio por elas, também é verdade, mas até lá vou permitir-me a saborear estes fins-de-semana caseiros.

            E como têm sido os vossos fins-de-semanas de confinamento?

 

21
Jan21

Uma apatia que mal consigo expressar...

(Imagem retirada daqui)

       É o que sinto neste momento.

       Estamos a breves momentos de vermos, novamente, o encerramento de todas as escolas e só me passa pela cabeça "o que vai ser destes miúdos?". Eu sei que é um mal necessário, que neste momento precisamos de controlar esta força invisível que tem consequências catastróficas na saúde e na nossa sociedade, mas não consigo tirar da minha cabeça estes pensamentos. Comecei a trabalhar em Novembro numa realidade diferente da que trabalhei nos últimos dois anos, deparei-me com uma pobreza maior, com um absentismo na escola enorme, com a falta de motivação para o contexto escolar e até para novas aprendizagens. Gostei do desafio que me veio parar às mãos, queria colocar o mais rápido possível 'as mãos na massa' e começar a trabalhar com os miúdos. Na minha mente tinha um plano bem traçado, um elevado número de tarefas e actividades para realizar, mas a verdade é que só em Janeiro consegui ter esse primeiro contacto. E as coisas estavam a correr bem, consegui captar a atenção da maioria dos alunos em intervenção, logo nas primeiras sessões e estava motivada para trabalhar, mas agora tudo volta a encerrar e volto a questionar-me, "o que vai ser destes miúdos?". A maioria não tem internet, nem computador, alguns nem electricidade têm em casa, o que irão eles conseguir acompanhar? Muitas vezes nem os próprios pais demonstram interesse nesses miúdos e muito menos nas aprendizagens que eles precisam de fazer, quanto mais a intervenção de uma Terapeuta da Fala.

        Sinto uma apatia no peito, por eles e até, de um modo um tanto ou quanto egoísta, por mim. Queria demonstrar a importância da minha profissão, demonstrar que tenho muito para dar e que é possível fazer a diferença com esses miúdos, mas tenho a sensação que me tiraram o tapete dos pés. Sei que terei de encontrar alternativas, encontrar novas formas de me envolver, de demonstrar que estou aqui para trabalhar e que não me importo de fazer seja o que for, mas tenho na boca aquele sabor amargo da desilusão.

      Sei que é extremamente necessário este confinamento, sei que as escolas têm sido lentamente afectadas e que neste momento não há margem de manobra, compreendo-o e nem é isso que me revolta. O que verdadeiramente me incomoda é a falta de noção da nossa sociedade para a realidade, a falta de consideração pelo esforço que os profissionais têm feito neste (quase) último ano e continuarem a fazer uma vida normal como se não houve-se uma guerra invisível lá fora. Custa-me imenso ver pessoas a fazerem ajuntamentos de amigos e familiares em casa, a continuar a ir passear para a marginal como se fosse um domingo como todos os outros e argumentarem-me que as pessoas estão cansadas de tudo isto não me convence e sabem porquê? Porque também eu estou cansada e continuo a fazer todos os esforços para me proteger e proteger os meus. Aliás, já passei a fase do 'estar cansada', estou neste momento 'esgotada' de tudo isto, mas não sou egoísta ao ponto de colocar tudo em risco. Estou só esgotada.

           Eu sei que deveria estar mais positiva, mas hoje sinto-me assim, apática.

Inspiração do Mês

Sobre mim

foto do autor

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Pesquisar

Segue-me ainda em...


Justsmile91's book recommendations, liked quotes, book clubs, book trivia, book lists (read shelf)

Nas páginas de...

2021 Reading Challenge

2021 Reading Challenge
Justsmile91 has read 0 books toward her goal of 12 books.
hide

Parcerias

Emprego em Portugal estudoemcasa-mrec