Tudo tem o seu tempo, tudo começa a ter o seu lugar
(Imagem retirada daqui)
Tenho dado por mim a compreender que só tenho partilhado com vocês coisas da minha gravidez, eu que me tenho queixado que ultimamente esse é o único tema das minhas conversas. Tenho compreendido que me tenho afastado deste cantinho e estado mais nas redes sociais, por ser algo rápido e pouco explorado a nível de escrita. Tenho até compreendido que o mundo da blogosfera também tem andado com muita gente desaparecida, porque apesar de não escrever, este é um lugar onde passo diariamente. Tenho aprendido, a seu tempo, e com algumas dificuldades, que tudo tem o teu tempo e o seu lugar.
Terminei o primeiro ano de mestrado, com bastante custo, devido a um défice de atenção que surgiu com a gravidez. Tive de reflectir e compreender que não estava ao nível de iniciar a minha tese, senti pela primeira vez na minha vida que desistia de algo. Incongruente, visto não prejudicar em nada o meu ano lectivo e não ter qualquer interferência com a minha passagem para o segundo ano do mestrado, mas ainda assim o meu inconsciente persistiu que era uma espécie de "desistência". Foi então que compreendi que tinha de definir prioridades e, acreditem, mudar as prioridades na nossa cabeça não é tão fácil como verbalizá-la na teoria aos sete ventos (vejo isso numa amiga que está a passar por um processo semelhante ao meu). No entanto, considero que terminei o ano lectivo com sucesso, custou, demorou, inúmeras foram as vezes que pensei "como raio me fui meter nisto", "pobre criança que trago em mim que tem que levar com isto", mas ficou feito. No dia em que recebi a última nota, depois de ter reprovado no teste e de ter ido a exame, senti-me quase invencível. Se consegui fazer o primeiro ano de mestrado, mais de metade dele a trabalhar demasiadas horas por semana, grávida e a construir uma casa, acho que a partir de agora consigo fazer tudo. Se o ideal teria sido fazê-lo noutra altura? Talvez, mas nunca saberei a resposta e a verdade é que agora que o tenho feito, ando a tentar não pensar muito em como se vai proceder o segundo ano. Na minha cabeça só surge a frase "uma coisa de cada vez".
(Imagem de Just Smile)
A casa espera agora a sua última especialidade, a carpintaria. O marido continua a ter a casa como a sua prioridade, acabando por nunca estar em casa. Os dias e fins-de-semana são com eles passados entre a obra e outras actividades, o que durante este processo de gravidez, por vezes, me faz sentir um bocadinho ressentida, mas também tenho de compreender a necessidade de nos mudarmos pouco tempo depois da nossa Ervilhinha nascer. Mas quanto à casa, depois de a ver pintada com o primário admito que me senti bastante feliz. Antes de pintar, a casa parecia-me escura, não me parecia acolhedora e agora sinto-a como a minha casa. Começo a ficar ansiosa para que fique terminada, para que as nossas mudanças comecem em poucos meses e que comecemos a viver na nossa "forever home". Estou ansiosa para que as madeiras comecem a entrar para começar a ver o produto final, estou ansiosa por decorar o quarto do nosso filho (que palavra ainda tão estranha na minha cabeça) e para voltar a ter as minhas coisas, visto tantas estarem neste momento encaixotadas. Tem sido um processo demorado, este da construção da casa, mas cada vez mais sinto que no final irá valer a pena.
(Imagem de Just Smile)
E depois ainda tenho esta Ervilhinha dentro de mim, que está prestes a chegar. Aliás, agora poderá vir quando quiser e tiver vontade de conhecer a mãe e o pai. Nos últimos tempos tenho dado por mim a pensar na mãe que quero ser. Um dos meus maiores receios, talvez por todos os dias trabalhar com crianças, é ser demasiado rígida, com demasiadas regras, simplesmente porque não quero que o meu filho seja como tantas crianças que conheço. O tipo de mãe que quero ser tem surgido muito na minha cabeça, sei que vou falhar, sei que não vou acertar à primeira, mas também sei que tenho um coração cheio de amor para lhe dar e espero que isso venha a ser suficiente. A ansiedade em o conhecer começa a crescer, não propriamente com o momento do parto, mas com tudo o que implica em ter um filho. Receio o meu pós-parto, não por ele, por mim. Receio as hormonas, receio o lidar com opiniões e situações que não aprovo, receio o cansaço, receio perder-me de mim, receio não conseguir dar conta do recado. Tento manter um espírito descontraído e talvez até me sinta assim a maior parte do tempo, mas depois surgem estes receios. Penso que seja normal (mas digam-me vocês, mães com experiência), que faça parte do caminho e nem por um segundo isso faz com que a vontade em conhecer o meu bebé diminua.
No final disto tudo, com o tempo que tenho tido para reflectir na minha solidão, apercebo-me que tudo tem o seu tempo e o seu lugar. Poderá não ter sido o que eu planeava, desejava já estar na minha casa e que o mestrado estivesse mais avançado quando engravidasse, mas se calhar tudo aconteceu para compreender que afinal sou capaz. Se calhar tudo aconteceu assim para compreender, mais uma vez, que sou forte, que consigo. Se calhar tudo surgiu desta forma para aprender a redefinir prioridades, para compreender que a vida não é só trabalho e que há algo maior que eu, que o trabalho. Se calhar tudo teve a sua razão de acontecer, poderei saber os seus motivos ou nem tanto, mas garanto uma coisa, termino sempre o dia com uma enorme sensação de gratidão no peito. Uma gratidão enorme por tudo, pelas oportunidades que me vão surgindo, pelas conquistas, mas principalmente por estar a criar esta vida dentro de mim.
P.S.: É sensação minha ou este post foi uma salgalhada de coisas?