Perdida por Terras de Portalegre
Há muito que não íamos passear, os fins-de-semana têm sido passados entre trabalho e descanso no sofá. Depois a pandemia não ajudou em nadinha e nem férias tivemos no ano anterior, por isso este foi o nosso primeiro regresso à "boa vida" e o quanto precisávamos disso. Este ano Ele desejava desesperadamente o sossego e a inércia, eu gostava de um bocadinho de história e de estar longe de tudo. O último ano foi duro, com muitas mudanças, com muitas preocupações e adaptações, profissionais, pessoais e a construção da nossa casa que nos tem dado alguns cabelos brancos (a Ele, que eu ainda não tenho cabelos brancos!), por isso precisávamos mesmo de nos afastarmos da realidade. Mas esta vontade de nos afastarmos da realidade tinha de estar aliada a um grande pormenor, tínhamos um orçamento bastante reduzido até porque não podiamos despender muito dinheiro para as férias quando a casa nos está a "sugar" até ao último cêntimo. A este grande pormenor acrescentamos ainda a vontade de estar longe de multidões, devido a este bicharoco que continua a querer estar presente nas nossas vidas, e de nos afastarmos o mais possível de confusões. Parecem critérios simples, mas tirar férias em Agosto transforma esta check-list em algo bastante mais complicado do que parece, mas após pesquisas intensivas descobrimos Portalegre, mais precisamente Marvão.
Descobrimos no Booking um local que parecia um pequeno paraíso perdido na natureza, admito que quando reservamos parecia ser demasiado perfeito para o preço que nos pediam (barato, comparativamente aos outros locais que nos tinham surgido), mas decidimos experimentar e arriscamos. Após 3h30 de viagem, do Porto ao Marvão, com Ele sempre a receber chamadas de trabalho, chegamos a um local em que a rede começou a falhar e, inevitavelmente, o telemóvel dele foi-se calando. Deparamo-nos no GPS com uma rua que não era rua, com um caminho que tinha mais buracos e pedras que outra coisa qualquer e por momentos questionamo-nos se não estaríamos enganados. Mas não, deparamo-nos com um pequeno paraíso escondido no meio das árvores. As instalações do Lost Valley eram confortáveis, um espaço amplo com uma pequena cozinha, uma cama bastante confortável, um sofázinho, mas o que me encantou foi a varanda para uma paisagem sem igual (quer dizer, na minha futura casa a paisagem será um tanto ou quanto semelhante). Com uns pequenos atrasos logísticos, fomos muito bem recebidos, num ambiente familiar e o melhor de tudo? Com pouquíssima gente, a propriedade tem apenas cinco casinhas, não havendo uma lotação lotada, o que nos permitiu usufruir dos espaços exteriores e comuns sem qualquer problema, quando nos apercebemos estávamos só nós e mais dois agregados o que foi simplesmente fantástico. Desta forma conseguimos ter vários momentos em que estávamos sozinhos na piscina, aproveitando o verdadeiro silêncio do local. O silêncio era realmente quebrado pelo som dos pássaros e das folhas das árvores a moverem-se com o vento, transmitindo uma tranquilidade que nunca tinha experiênciado em outro local qualquer. A propriedade tem ainda um pequeno riacho, mantendo um som continuo da água a correr e que confunde com o som da água da piscina de água salgada. Foi realmente o local indicado para as férias que precisávamos, nunca imaginei gostar de estar num local tão calmo, tão isolado e tão tranquilo.
Contudo, no meio daquele paraíso decidimos ir conhecer um bocadinho da sua história. Fomos conhecer o castelo do Marvão, que do local da Portagem apresentava-se mais pequeno do que realmente parecia. Fomos conhecer e lembrei-me imediatamente de Óbidos, com ruas estreitas, casas pequeninas e todas seguidas, fazendo-nos recordar tempos da história que não vivemos, mas que tantas vezes nos foram apresentados em aulas, documentários e histórias. Conhecemos o castelo e torna-se quase impossível imaginar tempos em que não existia água canalizada, luz, em que ainda se usavam canhões e setas para defender o território. Antes de regressar a casa ainda passamos em Portalegre, a capital de distrito, pequenina (com obras, não fosse ano de eleições) e com um aspecto bastante acolhedor. Não visitamos muito, foi realmente de passagem, mas não me arrependo de por lá ter passado.
Para além do local onde passamos a maior parte dos quatro dias de férias, a zona da piscina do alojamento, uma paisagem invejável do lindo Alentejo que temos, a comida foi simplesmente divinal. Normalmente os nossos almoços eram saladas feitas por nós na nossa pequena cozinha, mas os jantares foram sempre em restaurantes. Não senti qualquer receio pois todos cumpriam as normas da DGS, com bastante higiene e distanciamento social, mas o melhor foi mesmo as delícias com que nos deparamos. As carnes do Alentejo são realmente boas e a doçaria é óptima para intolerantes à lactose porque é, normalmente, feita à base de ovos. Comemos muito bem por onde passamos e realmente não há país melhor para comer que o nosso Portugal.
Não foram as férias de sonho, de uma semana de papo para o ar, mas foram as férias que precisávamos à nossa medida. Descanso, boa comida e muita tranquilidade. Foi experienciar o paraíso no nosso país, mesmo que apenas por alguns dias,.
P.S.: Fotografias de Just Smile.