Perder-me na rotina do dia-a-dia
(Imagem retirada daqui)
Os dias são corridos. Dou por mim, vezes a mais, a comentar que o tempo voa. As noites passam demasiado rápido a dias, os dias a semanas e as semanas em meses. Quando dou conta já se passaram anos. E a vida não pára, não só a minha, mas a de todos à minha volta. E por vezes esqueço-me disso, que não é só o tempo que passa demasiado rápido para mim, mas para todos os que fazem parte da minha vida (e até para os que não fazem).
É fácil perdermo-nos na rotina do dia-a-dia e não darmos pelo tempo passar, os dias são corridos, os fins-de-semana são para relaxar um bocadinho, mas os dias contêm em toda a sua essência uma rotina que parece não ser quebrada. Gosto dessa rotina, gosto de ter as coisas planeadas e organizadas, principalmente depois de ter sido mãe, mas a verdade é que desta forma sinto sempre que o tempo me escapa. Sei o que vem a seguir, o que vem amanhã e depois, e parece que isso leva consigo o tempo e só reparo em pequenos fragmentos do tempo de longe a longe.
Numa dessas manhãs rotineiras, enquanto dava o pequeno-almoço ao pequeno, sentada no sofá da sala, com o sol ainda a nascer por entre as montanhas, dei por mim a compreender o quão saborosos são estes momentos. Estas pequenas rotinas. Consegui, seriamente, estar presente naquele momento, sem sentir que os minutos me escapavam das mãos. Ali, na nossa sala, com ele no meu colo, apercebi-me da sorte que tenho, daquilo que conquistei nos últimos anos. Entretanto o feitiço foi quebrado por uma qualquer epifania de que estava na hora de o enviar para a creche, mas aquele momento ficou na minha memória. Ainda ontem tive uma outra sensação gigante de gratidão, de conquista, de sonho realizado. Esperávamos em casa pela chegada do pai, por entre a chuva e o vento que observávamos lá fora, ele brincava com os carrinhos e eu acabava de preparar o jantar, como banda sonora tínhamos o Miguel Araújo a cantar "Dança de um dia normal". Aquele momento, aquela fotografia mental que gravei na minha memória, a letra daquela música fizeram-me todo o sentido. O coração encheu-se de amor e, mais uma vez, compreendi a sorte que tenho, por ter construido a minha casa, a minha família e por todas estas conquistas terem sido alcançadas.
Por vezes, talvez até demasiadas, tenho a sensação de que não páro para refletir na sorte que tenho, na gratidão que devo trazer sempre no peito. Tenho, demasiadas vezes, a sensação de que vivemos numa espécie de "piloto automático", em que os dias correm e somos levados pela corrente, esquecendo-nos de que a vida não é só feita de rotinas, mas de momentos que podemos saborear e guardar na memória, mesmo que sejam pequenos momentos como estes. A rotina é necessária na minha vida, agradeço-a, mas é também na rotina que me perco facilmente nos dias, por isso é nela que tenho de encontrar a minha "gratidão", os meus momentos de reflexão e de "raios, a sorte que tenho!".