Os primeiros passos no Minimalismo
Desde que me dediquei a ler, a interessar-me e a envolver-me pelo minimalismo que tenho sentido que criei à minha volta uma pequena bolha das coisas que me fazem bem. Tenho conseguido pensar nas coisas com mais clareza, mais tranquilidade e até tenho sentido uma paz interior que me preenche de felicidade. Eu, tão céptica como sou, tenho-me deixado envolver por um 'rótulo' que me tem trazido, aos bocadinhos, uma qualidade de vida melhor. Impressiono-me como é que coisas tão simples, que nem me pareciam incomodar, me têm feito tão bem. Tenho lido, todos os dias um bocadinho das experiências dos outros sobre o minimalismo, sobre como alterou as suas vidas e tenho conseguido rever-me nas suas palavras, noutros casos simplesmente pretendo alcançar o que aquelas pessoas alcançaram. Parecem estar de tão bem com a vida, tão em paz consigo mesmo que lhes invejo essa capacidade. E aos poucos, sem dar por isso, tenho sentido essas mesmas sensações em mim. Como é que algo que me parecia tão abstracto me tem feito tão bem?
Deixei o minimalismo entrar na minha vida por hábitos antigos, mas ultimamente, com uma ambição e consciencialização de melhorar a minha qualidade de vida. Sentia-me cansada, esgotada e sem conseguir gerir todas as minhas responsabilidades, queria simplesmente conseguir organizar-me e sentir-me melhor com aquilo que a vida me dava. Decidi então começar por algum lado e se a parte que nos leva a poupar já estava implementada, comecei a tentar implementar tudo o que o minimalismo defende, mas a nível mental. Tenho aprendido e compreendido que o minimalismo é muito mais do que nos separarmos das coisas físicas, mas também organizar e limpar a nossa mente. A transformação em mim tem sido muito ao nível da mente, de como lidar com o stress e de como me conseguir organizar, do que simplesmente arrumar, limpar e poupar. Compreendo que talvez todos os passos anteriores me tenham ajudado nas transformações mentais, mas tenho a certeza que estas têm sido as mais evidenciadas e as mais sentidas no meu corpo. Numa sociedade que nos impinge horários rigídos, que nos obrigada a correr a toda a hora, a lidar com o descartável em tudo o que são bens materiais, eu tenho tentado lidar com isso mas de uma forma mais serena. Não deixo de ter horários, problemas e frustrações, mas lido com elas de uma forma muito mais suave, dando-lhes menos importância e focando-me no que realmente já tenho e me faz feliz. Focando-me naquilo que sei que me trará a felicidade e ir atrás dela. Mas que passos dei eu para deixar o minimalismo entrar na minha vida?
1. Ler sobre o minimalismo. Antes de fazer o que fosse, depois de me ter deparado com um artigo sobre as pessoas minimalistas, decidi que queria saber mais. Queria saber em que consistia o minimalismo, quais os seus objectivos e compreender se algum dia o conseguiria adaptar à minha vida. Afinal eu não queria ir viver para uma roulote com meia dúzia de objectos, nem queria largar o meu emprego a tempo inteiro, apesar de admirar muito quem o fez. Investiguei, li muitos testemunhos e só depois comecei a compreender os passos que queria dar, passos que fui dando ao meu ritmo sem ninguém me impôr. Afinal o minimalismo não é um conceito rígido e é isso que tanto aprecio, é um conceito que se adapta às necessidades de cada um, o objectivo final é simplesmente ser-se feliz. (Estes foram alguns dos blogs que comecei por ler.)
2. Reorganizar o guarda-roupa, pareceu-me ser um dos passos mais simples desta caminhada. Em todos os blogs, em todas as descrições, um dos primeiros passos que vejo as pessoas a darem é reorganizar o guarda-roupa. Faz-se uma selecção daquilo que se pode dar, do que devemos deitar ao lixo e fica-se apenas com o que realmente gostamos e que está em bom estado. Para mim foi simples, pois todos os anos acabo por fazer uma selecção da roupa que tenho no armário, mas acredito que para muita gente seja um passo complicado.
3. Destralhar as áreas da casa, ainda vivo com os meus pais e por isso apenas fiz este passo com as minhas coisas e acreditem que já foi muito. Limpei tudo o que encontrei e apercebi-me que se não usava há mais de um ano não valia a pena manter na minha vida. Mandei imensa coisa para a reciclagem e só dei coisas de crianças que tinha guardadas nos armários. De resto limpei os armários e dei-lhes um novo ar, mais espaço, menos coisas e menos pressão para arrumar as coisas.
4. Reorganizar as memórias, este foi um dos passos mais difíceis, mas que me fez muito bem. Partilhei com vocês esse momento aqui e a sensação de leveza que tive fez-me levar a um novo passo. Guardei para mim as coisas que realmente me faziam feliz e aquelas que não tinha outra forma de guardar. Enchi uma pequena caixa com essas memórias e todas as que já não me faziam sentido foram enviadas para o lixo mais próximo.
5. Destralhar a vida social. Este foi um enorme passo e que me levou a remexer em coisas que não via à anos, nomeadamente a minha lista telefónica no telemóvel e o Facebook (aqui está esse passo). Fazer desaparecer da minha lista telefónica nomes de pessoas que não me diziam nada foi das sensações mais libertadoras que tive. Senti-me mais leve, mais corajosa e com mais esperança. Havia nomes que apenas me traziam más memórias, maus agoiros e energias negativas. Basta olhar e ver aquilo que não é 'usado' há mais de um ano.
Estes foram os primeiros cinco passos que dei, coisas que se prendem mais aos aspectos materiais mas que sem dar por ela nos libertam a vida. Ficamos com mais espaço na casa, nos armários, mas também na mente. Deixamos de nos sentir atolados, pressionados pela rotina e até pelas coisas. Hoje olho orgulhosamente para o armário, para a estante e para a minha vida e vejo apenas as coisas, as pessoas e as situações que valem a pena. Gradualmente fui-me libertando das energias negativas das coisas que me faziam mal (ainda esta semana falei disso aqui). Fui deixando mais espaço para as coisas boas. Inevitavelmente o que me era mau, o que estava a mais foi-me saindo da vista e do pensamento, dando-me mais tempo para ler, para cuidar de mim e para estar com quem amo. Trago em mim uma leveza que pouco conhecia. Tenho em mim uma tranquilidade, apesar de tudo o que anda à minha volta, que não esperava ter nesta altura do campeonato e só me sinto bem. Porque o minimalismo é isso mesmo, é estarmos bem na nossa pele.