Orgulho Asteca (9/25)
(Imagem retirada daqui)
A Magda, como já dei a entender por estes lados, desencaminha-me imenso no que toca a comprar livros. Há imenso tempo que me deparava com o título deste livro como sendo um dos preferidos desta viciada em livros. Aos pouquinhos, com tanta invocação ao livro, comecei a ficar curiosa. A curiosidade foi-se aguçando e numa promoção da Saída de Emergência, em que os dois livros da saga ficavam por 12€, decidi adquiri-los (não fosse a promoção apresentada no meu Facebook pela Magda). Chegaram os livros e já não tendo muitos na prateleira para ler (vá, de momento 4) comecei a ler este enquanto não chegava o final da trilogia do Záfon.
De início foi complicado apanhar o ritmo da leitura (este ano isto acontece-me muito e não sei porquê), não só pela minha preguicite aguda, mas também devido aos nomes complicados das personagens que surgiam dos livros (em que uma pessoa poderia ter mais de um nome) e dos locais representados. Tanto nome esquisito e com X e T confundia-me os locais, as personagens e até os Deuses. No entretanto, comecei a estudar as Leis para o concurso público e ficava tão esgotada em perceber linguagem legal que à noite nem me apetecia tocar no livro, tendo demorado pouco mais de um mês a ler o livro.Não entendam o prolongamento da minha leitura do livro com a história, pois o livro não tem duas coisas que se podem pensar ao demorar tanto tempo a ler: não é aborrecido e não é mal escrito. Posso dizer exactamente o oposto, é um livro entusiasmante, cheio de aventuras e histórias que são descritas de uma forma precisa e envolvente. As descrições são prolongadas, mas nada semelhante a Eça de Queirós, são continuas e activas, por várias vezes pensei em como era possível descrever de forma tão real e colorida uma paisagem, como o autor fez. O livro está cheio de natureza, seja ela da terra como humana, e isso torna o livro tão interessante como a sua própria história.
'Orgulho Asteca' fala dos anos 1500, época em que os espanhóis declaram a Nova Espanha no continente Americano, em que um grupo de escrivães anota as vivências de um Asteca para enviar ao seu Rei de Espanha que se mostra muito interessado na vida do velho. Mas a história não é de um velho, mas sim da tua vida até se deparar com os espanhóis. Sete flor, Nuvem Escura, Mixtli, Záa, é um homem com mil e um nomes que conta a sua infância, adolescência e juventude num relato preciso de tradições, viagens, aventuras, experiências, batalhas e infortúnios, tudo de forma a dar a conhecer ao Rei de Espanha a sua história. É um jovem que vive mil e um problemas, mas que arranja sempre forma de se safar. Um jovem com mil e um trabalhos, mas que aumenta o seu cargo à medida do tempo e que relata todas as suas experiências, sejam profissionais, sejam de sacrifícios aos Deuses, como experiências sexuais com mulheres e homens, virgens e prostitutas. Por diversas tive de parar, respirar antes de continuar a ler, pois se as descrições das paisagens são idílicas, as descrições de sexo e sacrifícios são carnais e sem qualquer tipo de embelezamento. Há sangue, há prazer, há mutilações, há mortes constantes para oferecer aos Deuses e situações que fazem qualquer estômago remexer. Há cenas inconcebíveis há minha compreensão, como a oferta da vida aos Deuses, oferta de crianças, virgens e jovens ao longo de todo o livro, com tudo a normalidade de tudo isso faz compreender uma civilização completamente diferente da nossa que vive em função dos Deuses e das suas ofertas. É difícil de compreender, mas ao longo do livro comecei a aceitar todas essas crenças como aceito uma religião qualquer. Parece horrível, mas se olharmos para o nosso passado, como os espanhóis 'partilhavam' o cristianismo, não éramos assim tão diferentes. Mixtli fala de todas as raças, cidades, línguas e religiões, por onde passa, o que o faz ver a vida de uma forma de igual para igual.
É um livro duro, que acredito que muita gente poderá não apreciar, mas é dos livros que mais me tem ensinado nos últimos tempos sobre uma cultura e uma civilização que tão pouco conhecia. A verdade é que já estou ansiosa por começar 'Sangue Asteca'.
"Assim que a alvorada dava lugar ao dia, avançávamos por qualquer tipo de terreno. Umas vezes era uma floresta tão luxuriantemente coberta de frondosas folhas que impedia o crescimento de outros arbustos; e o seu solo estava atapetado de erva suave, onde os troncos das árvores estavam tão primorosamente espaçados como se um mestre jardineiro os tivesse plantado no jardim de um nobre. Outras vezes atravessávamos por um mar frio de fetos semelhantes a penas; ou, sem nos vermos uns aos outros, passávamos por canaviais dourados e verdes ou ervas verdes e prateadas que cresciam mais altas que as nossas cabeças."
P.S.: Se 'As 50 sombras de Grey' geraram alvoroço pelo seu teor sexual, nem queiram pensar se mais pessoas lesse 'Orgulho Asteca'.