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justsmile

17
Jun15

O medo de perder a memória

(Imagem retirada da Internet)

 

Sou esquecida de natureza. Se em tempos o fui menos, agora sou mais. Esqueço-me de horas, encontros, números e nomes. Apenas a memória visual me apoia em tudo e mais alguma coisa. Na família não sou a única esquecida e distraída, considero que já é algo que me está nos genes e entre nós comentamos e rimos desses momentos. De quando se esquece de ir buscar o filho. De quando se esquece a boca do fogão acesa e saímos. De quando se esquece do número do cartão de multibanco. Mas no fundo todos temos o mesmo receio, o receio de que essa perda de memória se agrave e se demonstre na doença de Alzheimer. Fazemos desse medo um tabu, não falamos sobre ele e o ideal é nem sequer pensarmos nele. Contudo, tornou-se impossível fazercom que a minha mente não pensasse na possibilidade de vir a perder a memória depois de ter visto o filme 'Alice'.

Sempre que pensamos no avô lembramo-lo cheio de vida e rimo-nos dos seus momentos provocados pela doença de Alzheimer. Falamos deles no Natal, na Páscoa, no seu aniversário e em todas as reuniões de família. Ele nunca é esquecido, com e sem a doença. Mas a verdade é que depois de ver o filme lembrei-me de tudo de mau que a doença provocou, em como o avô que conhecia foi desaparecendo e em como foi surgindo uma pequena criança que falava nos irmãos e nos pais, em vez de se recordar da esposa e das filhas que cuidavam dele. De como se esquecia de que a noite era para dormir e o dia para acordar. Da forma contínua como perdia as coisas e acusava alguma criança de as ter roubado. Pequenas coisas que nos foram fazendo perder a pessoa que conhecíamos, mas que nos seus momentos de lucidez nos brindava com um sorriso e um 'desculpa o trabalho' que nos deixava o coração apertado.

Ao ver o filme apercebi-me do medo que tenho de perder as memórias, perder parte de mim. Sempre as valorizei e sempre falei delas neste cantinho tão meu. Afirmei vezes e vezes sem conta que não quero esquecer nenhuma parte de mim, que são elas que me fizeram tornar na pessoa que sou hoje e que me orgulho por fazerem parte de mim. E a possibilidade de as perder aterroriza-me. Aterroriza-me perder-me de mim, da pessoa que sou. É uma doença ingrata, que nos tira tudo, até a nós próprios. E o filme fez-me lembrar tudo isso, todo esse processo de perda.

 Não quero saber se irei ter a doença, penso que de nada me servirá e fará mudar a minha maneira de ver o presente e o futuro, mas sei que não quero perder-me de mim. Não quero perder quem sou e apenas saber que essa possibilidade existe aterroriza-me.

3 comentários

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    Just_Smile

    18.06.15

    Eu não tenho medo do esquecimento referido por Augustus, acho que inevitavelmente ele irá acontecer, tenho muito mais medo de me esquecer quem sou e de perder a minha essência. É realmente um filme muito forte...
  • Imagem de perfil

    twilight_pr

    18.06.15

    Eu sou daquelas pessoas que faz trabalhos sobre morte mas que não gosta de falar sobre ela por causa desse meu medo.
    Mas sinceramente acho horrível estares ainda viva e esqueceres aos poucos das memórias...
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