O drama das intolerâncias alimentares
(Imagem retirada daqui)
Se em pequena a minha mãe se queixava que era difícil dar-me de comer, desde que sou gente que gosto de comer. Comer é um dos prazeres da minha vida. Não sou pessoa de muitas esquisitices e só me recuso a comer três alimentos. Gosto de doces, de salgados, de legumes, de peixe, de carne, tudo o que vier é bom. Mas admito que tenho uma perdição maior por doces, adoro doces! E há alturas que simplesmente me apetece comer doces, seja por conforto emocional, seja por simples apetite. Então em festas é muito fácil perder-me pelas mesas dos doces, nos pudins, bolos, mousses e afins! Até ao dia em que fiquei intolerante à lactose. Não, não é desde sempre é apenas desde 2015.
Nos últimos três anos tenho aprendido a viver com esta intolerância que, desrespeitando esta minha dieta, me provoca imensas dores e crises intestinais terríveis. Há três anos que tenho aprendido a viver com estas minhas limitações alimentares que este problema me causou. No entanto, quando me perguntam como consigo resistir é fácil dar uma resposta. Normalmente olham-me com pena, com um ar de 'coitadinha', que nunca me agradou, mas que compreendo. E a resposta que tenho sempre pronta é a mesma, é fácil explicar que as dores provadas por esta intolerância são tão grandes, tão repentinas e tão duradouras que perco imediatamente a vontade de comer seja o que for que contenha qualquer coisa à base de leite. Há dias que são mais fáceis que outros, em festas de aniversários e casamentos custa-me imenso dizer sempre que não àquelas sobremesas com as quais sabia que me ia deliciar. Outros dias enche-me uma saudade enorme de comer gelados de pau, como Magnum, Cornetos e afins (os gelados já chegaram a ser o meu maior pecado). Tenho saudades de chegar a um restaurante e não ter de me preocupar com o que peço para comer ou deixo de pedir e até tenho saudades de não ouvir a típica piada 'Ah não quer sobremesa? Faz muito bem que é para manter a linha.' ou ainda 'Mas porquê? Não gosta de queijo ou de natas?'. Tenho até saudades de comer descansadamente um bolo de massa folhada e creme e não ter de me preocupar se terei algum tipo de reacção.
Apesar de todos os 'ses' que esta intolerância alimentar me trouxe, também fez com que aprendesse muito. Aprendi a confeccionar mais refeições e doces que contenham natas, molhos, e leite, para pelo menos me poder desforrar em casa. Aprendi a ter um maior auto-controlo no que como e apesar de às vezes pecar um bocadinho, tenho conseguido controlar mais ou menos as minhas necessidades e os meus limites. Aprendi que uma intolerância alimentar ainda é vista como uma 'esquisitice' ou mesmo uma mania. Aprendi ainda que nem os próprios funcionários de restaurantes sabem, por vezes, responder às composições dos pratos que servem. E aprendi que ser intolerante não é assim tão mau quando existem males bem piores por aí. A vantagem? Desde que assim fiquei que pelo menos têm sido criados cada vez mais produtos sem lactose, sorte que não tinha no início desta aventura.
Ter uma intolerância alimentar, seja ela qual for, é muito complicado. Tem de se ter muita força de vontade para nos auto-controlarmos quando vemos à nossa frente imensa coisa deliciosa em que nem podemos tocar, mas a verdade? As consequências da sua ingestão é tão grande que aprendi a controlar-me de uma forma natural. Volto a dizer, há dias mais fáceis e outros menos, mas no fundo é uma questão de auto-protecção e não de esquisitce!