O Amante Japonês (9/20)
A primeira vez que li Isabel Allende ainda era uma adolescente. A Casa dos Espíritos tinha vindo parar às minhas mãos e nem sabia bem como. Li e não apreciei muito, não sei se da idade, se da maturidade, mas a verdade é que nunca li mais nada da autora. No entanto, quando saiu O Amante Japonês algo no livro me atraiu de imediato, sem saber bem explicar porquê decidi que era altura de dar uma nova oportunidade à autora. E assim fiquei a apaixonar-me por Isabel Allende, ou pelo menos pel'O Amante Japonês.
O Amante Japonês é um dos mais belos romances que li nos últimos tempos. Uma história de amor impossível, a história de uma família e a valorização do idoso como pessoa sábia e ainda com muito para partilhar. O Amante Japonês fez-me viajar a tempos da II Guerra Mundial e ver um lado diferente da guerra, um lado abastado, o lado de separação familiar porque tinham posses financeiras, mas também o lado da sobrevivência de uma criança, que apesar de não lhe faltar nada, sentia-se vazia sem a família. Alma pouco partilha da sua história com o agora neto, pouco partilha seja com quem for, Alma vive das suas memórias e de um amor impossível que lhe surgiu no caminho, mas que apesar dos oitenta anos teima em não esquecer, mas mais que isso, teima em viver. É ao pedir para organizar as suas fotografias, é ao neto querer escrever a biografia da vida de Alma que o passado se vai revelando pouco a pouco. É com fotografias e cartas antigas que o passado surge, não tão difícil quanto poderia ter sido, não tão doloroso, mas com uma história de amor em que o amor simplesmente não teve força suficiente para vencer sozinho. Foram as circunstâncias, foi a vida que o levou a perder-se pelo caminho, mas também a reencontrar-se. A história de Alma e Ichimei são a base deste livro tão bonito, Irina, a sua ajudante é apenas quem ajuda na narração de uma história de amor que durou uma vida. É um livro sobre aceitação, sobre conforto, sobre vários tipos de amor e amizade.
Fiquei surpreendida com este livro. Não sei porquê, esperava algo mais parado, menos sentimental, mas a verdade é que foi totalmente o oposto. Agarrei-me ao livro e li-o em poucos dias. Saboreei-o o melhor que consegui e cada vez que me lembro dele sinto um aconchego no coração. O Amante Japonês foi um dos melhores livros que li nos últimos tempos e apenas o consigo aconselhar e dizer que é muito bom.
Foi um excelente livro para estas férias de verão!
"...sentindo-se envelhecidos e contentes, perguntando a si mesmos porque é que se falava tanto de tristezas e de mal-estar e não da felicidade. «O que fazemos com esta felicidade que sentimos sem motivos especiais, esta felicidade que não exige nada para existir?», perguntou Alma. Caminhavam com passos curtos e hesitantes, apoiando-se um no outro, arrepiados de frio, porque estava a terminar o outono, aturdidos pela torrente de recordações intensas, recordações de amor, invadidos por aquela felicidade partilhada."