Guerra e Paz II (5/25)
(Imagem retirada da Internet)
Depois de ter lido o volume I de Guerra e Paz fui obrigada a esperar pelo II volume, perdi-me um bocado a ganhar novamente o ritmo da leitura de Tolstoi e voltei a demorar a avançar no livro. Talvez porque as partes sobre a Guerra eram demasiado intensas, descritivas e demasiado palavreado técnico sobre estratégias de que nada percebo. Talvez porque a dramatização da Natacha me tenha irritado, ou a parvoíce de Pierre se meter num campo de batalha que não lhe dizia respeito. Ou até porque o ego de Napoleão era realmente uma coisa demasiado grandiosa. Não sei, mas a verdade é que demorei a agarrar-me no livro, mas depois de agarrar foi sempre a devorar. O mais giro? Enquanto lia acompanhava na RTP1 a série Guerra e Paz da BBC.
Este é um livro muito mais intenso, se o compararmos com Anna Karénina que é do mesmo autor. Há romance, há enredo, mas há também uma maior necessidade de critica ao czar, ao imperador e a todos os 'manda-chuvas' de uma guerra orgulhosa que ninguém consegue compreender. Uma guerra que parece apenas uma discussão entre dois miúdos mimados que se acham no poder de invadir o terreno um do outro, apenas porque houve um disse que disse mal interpretado. Paz e confiança não existem até ao final do livro, em que tudo é desconfiança, em que tudo é ganância e apenas a imagem de se ser importante é que chama a atenção.
Um livro em que vemos grandes famílias começarem vitoriosas, como os Rostov, mas que ao longo do livro se vão degradando e acabam na miséria. Um livro em que, por incrível que pareça, a personagem menos bonita é amada por um grande guerreiro e bonito e que terminam unidos. Um livro em que a personagem que comecei por odiar, depois amar, morre de forma parva, quase como um suicídio em plena batalha. Um livro em que mulheres se deixaram levar por uma desgraça criada por si próprias. Um livro em que as mulheres não deixam de ser a fragilidade dos tempos, mas que no fim se vêem a agarrar a vida e a lutar por ela. Um livro cheio de momentos, criticas e mil e um enredos, bem do jeito de Tolstoi.
Se gostei do livro? Não posso dizer que não, mas gostei mais de Anna Karénina. Compreendo que são livros totalmente diferentes, com visões da sociedade diferente, mas que no fundo se acabam por complementar e criar uma imagem completa de uma sociedade baseada na futilidade e na posição social. As críticas são fortes, fortíssimas e é tão fácil ainda as vermos nos dias de hoje. Por isso gosto tanto de Tolstoi, um visionário nos seus tempos, mas também um futurista dos tempos em que vivemos. No fundo nada mudou na nossa sociedade, muito pelo contrário, continuamos futéis e preocupados pela posição social. A diferença? Há mais gente a lutar contra a maré.
Um livro para quem gosta de sociologia, de livros complexos e que nos fazem pensar. Um livro que que vale a pena ler para se saber falar da sociedade.
"Espalhou-se imediatamente por Petersburgo o rumor, não de que Helena pretendia divorciar-se do marido (semelhante rumor teria levantado demasiada gente contra a intenção tão ilegal), mas muito simplesmente de que a infeliz, a interessante Helena perguntava a si mesma, perplexa, com qual dos dois devia casar-se. A questão não residia em saber em que medida isso era possível, mas somente em determinar qual dos dois partidos era mais interessante e como encararia a corte o assunto."