Fecha-se uma porta, abre-se uma janela
(Imagem retirada daqui)
Nem sempre aquilo que sonhamos para nós é o melhor para atingirmos os nossos objectivos.
Quando terminei a faculdade não me imaginava a fazer outra coisa que não Terapia da Fala. Trabalhar sozinha foi uma das maiores realizações que senti, sem ter de dar contas a fosse quem fosse, a não ser aos meus pacientes, e de uma autonomia que toda a vida tinha ambicionado. Terapia da Fala tinha sido aquilo que desejava para mim, saúde, misturado com o contacto com as pessoas, com a minha necessidade de fazer o 'bem' e de interagir, mas sempre de uma forma autónoma sem ninguém me dizer como o deveria fazer. Durante dois anos trabalhei como terapeuta, apesar do trabalho precário, das horas mal pagas, do trabalho de casa que tinha e da carga de pacientes, achava que tudo isso compensava para fazer o que gostava. E bastou-me, até voltar ao desemprego. Durante o desemprego a escravidão na minha área profissional não era uma opção e procurei trabalho em fosse o que fosse. Mas não procurei simplesmente por procurar, eu desejava era mesmo um emprego, um trabalho em que me pagassem por aquilo que fazia. Procurei, aceitei um emprego temporário e foi quando aceitei um emprego a tempo inteiro fora da área que me apercebi: Nem sempre aquilo que sonhamos para nós é o melhor para atingirmos os nossos objectivos. Sempre sonhei com um emprego na área, mas também sonhei com a construção de uma casa, viagens e a progressão na minha carreira. No entanto, com as oportunidades que tinha tido em Terapia da Fala nunca na vida iria conseguir ter a estabilidade que queria para cumprir esses objectivos de forma independente. Foi quando deixei a minha área, totalmente de lado, há oito meses atrás que ponderei tudo isto e desde então que já neguei oportunidades de trabalho em Terapia da Fala simplesmente porque ia ganhar muito menos do que ganho agora e não ia ter segurança nenhuma (malditos recibos verdes). Nesse dia fiz o luto de um sonho, que ainda se pode vir a realizar, mas que parece cada vez mais distante.
Desse lado, e pessoas que me conhecem, questionam-me se continuo a procurar na área. E digo que sim, mas apenas boas oportunidades, e essas parecem não surgir. Na altura em que aceitei ser administrativa/assistente e semi-contabilista, vi-a as coisas negras para o meu futuro, o receio de não gostar, o receio de me conformar com o que tinha e deixar de investir em mim e outros tantos medos que surgem quando rumamos em direcção ao desconhecido. No entanto, ao fim de oito meses apercebo-me de uma coisa, fiz a opção acertada. É verdade que se fechou uma porta, uma porta que me parecia ser dada como garantida e o mais certo para mim, mas por outro lado abriu-se uma nova janela. Trabalhar noutra área tem-me ensinado muito, sobre adaptação, resiliência e aceitação do meu lugar, pois pela primeira vez desde que trabalho que tenho um chefe. É estranho, pensar que nunca quis nada disto para mim, mas agora que aqui estou gosto. Longe estou de odiar o que faço, mesmo que não seja Terapia da Fala. Longe estou de dizer que aceito ficar com recibos verdes para perder o que tenho neste momento. A verdade é que abertura desta janela na minha vida me está a dar oportunidade de pensar numa casa, num casamento e em viagens. Se por um lado me dói deixar de fazer aquilo que achava que me encaixava que nem uma luva, por outro lado penso que só assim estou a conseguir crescer em todos os outros aspectos da minha vida.
Se fico triste? Não, mas acho que por agora mantenho uma pequena mágoa por não fazer aquilo que realmente gostava, mas é uma mágoa que não é constante. Apenas surge quando estou com amigas da faculdade, quando falo ainda com antigos doentes, ou quando olho para trás e vejo que as minhas qualidades enquanto profissional de saúde foram reconhecidas, mas não aproveitadas. Contudo, do pior tive uma sorte enorme. Mas também lutei por ela, procurei, batalhei e trabalhei em coisas que nada tinham a haver comigo, mas finalmente sinto-me (quase) no sítio certo.
Fechou-se uma porta na minha vida, mas abriu-se uma janela para um novo mundo que nem sabia ser para mim, mas do qual gosto de fazer parte.
P.S.: A quem tem medo de procurar trabalho fora das áreas profissionais, arrisquem. Há sempre forma de voltar atrás e quem sabe essa janela não venha cheia de oportunidades num novo mundo.