Eu e o meu ar de jovem
(Imagem retirada daqui)
Apesar dos meus 26 anos, ninguém é capaz de me dar a idade que tenho. Tenho uma pele ainda jovem, sou magrinha e apesar da minha altura toda a gente acha que ainda tenho 18 anos. Quando comecei no mercado do trabalho, muitos eram aqueles que achavam que no máximo eu teria 18 anos. Tenho uma voz aguda e pouco envelhecida, apesar de com o tempo ter um ou outro traço de rouquidão, e este corpo de lingrinhas com poucas curvas, juntamente com as jeans e as sapatilhas, dá-me sempre um ar bastante juvenil. Se tento demonstrar o contrário? Desisti de me dar a esse trabalho, sou o que sou e não preciso de viver com o que os outros acham e esse factor nunca importou na minha procura de trabalho. No entanto, tenho-me apercebido que ao longo do tempo as pessoas interpretam este meu ar simpático, sorridente e jovem como sinal de ingenuidade. O que para estes lados é algo completamente incongruente, se há coisa que não sou é ingénua.
Tenho passado algumas situações um tanto ou quanto caricatas nos últimos tempos em que tenho aprendido que as pessoas assumem em primeiro lugar que sou ingénua. Ou porque acham que não sou capaz de manter uma posição ou porque acham que não sei tomar decisões ou porque acham que tenho poucos conhecimentos legais ou até mesmo que não me apercebo quando me tentam fazer de parva. Se até hoje achei que este meu ar jovem apenas colocaria os meus pacientes em dúvida quanto à minha experiência (dúvidas que sempre foram eliminadas), hoje apercebo-me que o meu sorriso transmite, num primeiro impacto, algo que definitivamente não sou. As pessoas têm-se baseado no meu rosto para acharem que sou de fácil manipulação, que não consigo bater o pé ou que não percebo os passos importantes que estou a dar na minha vida. Simplesmente porque me tento manter simpática, porque tento sempre mostrar um sorriso e porque evito conflitos, mas nenhum dos argumentos anteriores quer dizer que não sei a realidade das coisas. Pensam que como sou jovem não me sei defender (basta pensar no meu rico primeiro patrãozinho ou no segundo) ou porque sou magrinha não tenho força para carregar isto e aquilo ou até porque não tenho uma personalidade forte. Pois bem, se este é o primeiro impacto de dou a verdade é que se têm apercebido aos poucos que não sou bem assim. Chegando já a ter ouvido comentários de 'não sabia que eras assim tão teimosa, ' tens uma tatuagem? Mas como? Tens um ar tão, tão...', tem também chegado ao cúmulo das pessoas alterarem versão e mais versão quando se apercebem que não sou a ingénua que pensavam, quando argumento e demonstro que sei mais do que pensavam. Não sei se é por ser jovem, se é este meu ar de santinha, mas não gosto que me tentem fazer de parva. Não gosto que numa primeira instância me considerem ingénua. Sei que não o sou, sei que já aprendi muito com a vida, mas era bom ter um traço em mim que o pudesse mostrar aos outros para não me tentarem enganar logo no primeiro impacto, pois o segundo impacto torna-se bem menos agradável que o primeiro.
Será que ser-se jovem é uma desvantagem na sociedade de hoje?