Do estado de graça (#ounão) da gravidez
(Imagem de Just Smile)
Grávida de 25 semanas muitos continuam a dizer-me para aproveitar a gravidez. Quando ouço essas palavras nunca sei bem como as interpretar, o que é "aproveitar a gravidez?". Não me posso queixar muito desta fase da minha vida, não tive enjoos no primeiro trimestre (tirando uma necessidade absurda de comer de hora em hora para não ficar mal disposta), não tive sensibilidade excessiva a cheiros, não tive o sono repentino que tantas grávidas se queixam. Acho até que não tenho tido muitos dos habituais sintomas de uma grávida, o que tem feito com que esta gravidez esteja a ser bastante tranquila. Claro que tem os seus 'ses' e se o meu primeiro sintoma foram as insónias, a verdade é que estas se prolongaram para o segundo trimestre e têm-me deixado de rastos. É também verdade que já tomo três carteiras de magnésio por dia, que a barriga fica dura com mais frequência do que seria desejado. E é ainda verdade que a Ervilhinha está tão encaixada no fundo da barriga que o peso se torna maior, desconfortável e que as idas à casa-de-banho são uma constante, o miúdo lá acha que a bexiga é um bom colchão para se divertir.
Tirando isso tudo, principalmente a sensação de exaustão com que ando, não considero que a minha gravidez esteja a ser complicada, mas também não lhe consigo ver o estado de graça que tanta gente me tenta transmitir. É giro ver a barriga crescer, é bom (depois de compreendermos) sentir o bebé mexer dentro da nossa barriga e de perceber que é estimulável a determinados sons, alimentos ou situações, mas não consigo encontrar o mundo maravilhoso que tantas vezes me tentam vender. A gravidez, para mim, é acima de tudo um estado constante de desconforto. Ora são as costas, ora a necessidade de comer, ora a vontade de ir à casa-de-banho, ora as dificuldades em conduzir, ora uma enorme lista de pequenas coisas que não me deixam sentir este estado de graça tão proclamado por este mudo feminino fora. Se adoro saber que estou a desenvolver uma vida dentro de mim? Claro que sim, já lhe sinto um amor difícil de expressar, mas não vejo o mundo cor-de-rosa que muitos livros, artigos e colegas me vendem. E volto a referir, acho que tenho tido muita sorte por todos os meus sintomas serem leves, da minha perspectiva.
Sei que a minha realidade é diferente de muita gente, cada vez mais compreendo que uma grávida não é igual à outra e que o processo de gravidez é realmente muito diferente de mulher para mulher. Sei também que muitos dos sintomas são quase tabu e que só os passamos a conhecer quando os sentimos ou acabamos por confidenciar a alguém. Mas também sei que para mim a gravidez não está a ser com a sensação de "estado de graça", apenas está a ser uma fase da minha vida que me deixa imensamente feliz pelo que aí vem. E isso basta-me. Será que sou a única a achar que a gravidez não é aquele mundo cor-de-rosa que nos tentam vender?