Do desapego
(Imagem retirada daqui)
Tenho dado por mim, várias vezes, a pensar no desapego. No desapego das coisas, no desapego das pessoas e dos problemas. Tenho dado cada, vez mais, por mim a pensar que já me desapeguei de tanta coisa e com isso só me sinto mais leve. Desapeguei-me de pessoas que foram amigas e que só me transmitiam energias negativas. Só se queixavam da vida, com tão pouco para se queixar, só diziam que os sonhos não se concretizavam quando nem se mexiam para os verem realizados. Acabei por gradualmente ir diminuindo o meu encontro com essas pessoas até ao momento ser quase inexistente. Desapeguei-me de quem só criticava e em nada se envolvida, ou de quem se fazia de vítima para ser o coitadinho aos olhos dos outros. Já há muito tempo que me desapeguei dessas pessoas, mas em contrapartida apeguei-me aos que me fazem rir, aos que gostam de me ver feliz e àqueles que de longe a longe mandam notícias ou simplesmente a perguntar como estou. É um desapego bom, dei por mim a saber rodear-me de quem me faz bem, se calhar de um ponto egoísta e egocêntrico, mas que só faz bem.
Dei por mim a desapegar-me do que era velho, a querer deitar mais coisas ao lixo, a querer organizar os meus livros na estante, a querer guardar apenas as memórias que me fazem bem. Empacotei as memórias más e só não as deitei ao lixo porque não tive coragem, mas guardei-as lá num cantinho bem escondido para tão cedo não as encontrar. Dei por mim a deitar ao lixo aquelas calças já velhas, mas pelas quais era apaixonada. Dei por mim a dar aquela camisola que me tinham dado, que nem gostava muito, mas que estava lá guardada para qualquer eventualidade. Dei por mim a empacotar numa caixa de sapatos aquela bijutaria que todos os anos penso ‘não vou deitar fora que pode dar para o carnaval’.
Até dos problemas me tenho desapegado. Com tanta coisa que me tem corrido na cabeça com futuras obras, casamento e o terreno, tenho tido a capacidade de me desligar. Tenho-me desapegado dos mil pensamentos que me correm na cabeça e conseguir deliciar-me com um livro, com uma noite entre amigos ou até com um filme. Dei por mim a desapegar-me do que me deixa irritada, com um nó no cérebro ou simplesmente preocupada. Não tenho fugido aos problemas, mas tenho-os organizado e apenas pensado neles na hora devida.
E tenho-me desapegado de determinados sonhos. Não que estejam eliminados da minha vida, nem lá perto. Mas não tenho vivido só para eles, tenho olhado para outros que estão ao mesmo nível e dado mais atenção aos que estão mais perto de concretização. Tenho tido a capacidade de fugir à frustração do sonho não realizado, tenho conseguido aos poucos aceitar o que tenho e conseguir agradecer o que surgiu no meu caminho.
Tenho nos últimos tempos lidado com o desapego cada vez de uma forma mais directa, mais frontal que apenas me transmite tranquilidade. Tenho vivido tão bem com este desapego que me preenche a alma, em vez de a encher com preocupações, frustrações e desilusões. O desapego não é mau, muito pelo contrário, é dar-nos a oportunidade de apegarmo-nos ao que realmente importa e dar espaço para aquilo que é bom na vida.
E vocês, de que precisam de se desapegar?