Aceitar o que não podes mudar
(Imagem retirada daqui)
Quando casei, pensei que o nosso primeiro ano de casamento fosse apenas um ano de adaptação a nós próprios, às nossas coisas, às nossas manias e até rotinas. Pensei que fossemos ter o chamado "período de lua-de-mel" em que pudéssemos concentrar a nossa atenção um no outro, continuarmos a fortalecer a nossa relação que de repente mudou. No meio destas minhas ilusões romantizadas ainda considerei que, após mudar de emprego, seria a altura certa para voltar a estudar, meti-me então numa pós-graduação. Contudo, toda esta ilusão, todo este sonho de quem acha que a vida pode ter alguns tempos tranquilos, durou muito pouco tempo, bastou chegar a casa da lua-de-mel. Desde então que não tivemos nenhum momento de descanso, nenhum momento em que não tivéssemos um problema sobre o nosso colo com o qual tivéssemos de lidar. Desde então que a nossa vida não conseguiu acalmar, criamos uma rotina sobre todas estas loucuras, em cima de todos estes problemas que ainda me consigo admirar de como conseguimos manter a sanidade mental. E sabem o melhor? Todos estes problemas são nos externos, não são problemas intrínsecos, não são propriamente problemas nossos, são problemas que nos relacionam, mas que não estão dependentes de nós para resolução. E isso? Isso é a pior parte. São problemas que nos tiram o sono, que mexem com os nossos sentimentos, mas que não conseguimos fazer valer a nossa opinião e que a decisão final nunca será nossa.
O primeiro mês aguenta-se bem, está-se com o coração nas mãos, mas aceita-se que o tempo irá ajudar a resolver a situação e tem-se confiança que a resolução estará para breve. O segundo mês já nos faz questionar mais um pouco, mas a paciência ainda lá está e é ao ver-se algumas melhorias que esperamos que a resolução esteja perto. Ao terceiro mês, quando vemos as coisas a piorarem, as nossas vozes a não serem ouvidas, o corpo a sentir o desgaste extremo das poucas horas de descanso, das preocupações constantes e do trabalho que não tem fim, as forças começam a desvanecer-se. A esperança começa a ser questionada e as lágrimas começam a sair esporadicamente e em silêncio. No início do quarto mês sente-se na pele o desespero de já não saber o que fazer para se ser ouvida, o cansaço já parece entranhado no corpo e a sensação de não se viver parece uma constante na mente. A sensação de estar compenetrada nos problemas surge e torna-se difícil de fazer desaparecer... Até que uma luz surge. O problema mantém-se, o cansaço também, o humor ainda não melhorou de forma significativa e até a rotina de problemas se mantém, mas começa-se a aceitar. E esta semana, cheguei a essa fase, aceitar. Aceitar o que realmente não posso mudar. Como Ele diz, não temos a capacidade de abrir a cabeça de ninguém e lhe incutir juízo, por isso só resta mesmo aceitar. Há poucos dias consegui começar a desligar-me um bocadinho do problema e aceitar que já nada posso fazer, depois de dar voltas e voltas à cabeça, depois de noites sem dormir, refeições sem apetite e a sensação constante de um peso nos ombros, começo finalmente a aceitar.
Compreendi que não tenho poderes mágicos, que ao contrário do que gostava de fazer, não consigo mudar o mundo e muito menos alguém. Aceitei que a resolução não está nas minhas mãos, mas nas mãos de outras pessoas e que, em nada, mais posso fazer do que já faço. Aceitei. Aceitar foi a parte mais difícil, porque achamos sempre que podemos fazer mais e melhor, mas por vezes a melhor solução para nós próprios passa apenas por aceitar que nada podemos mudar. Hoje, acredito, que aceitei aquilo que não posso mudar.