A Presidente do Conselho Nacional de Educação
(Notícia lida aqui)
Não sei se estão a par do ensino em Portugal, eu vou estando, principalmente nesta fase da vida em que trabalho em contexto escolar com alunos que tenham dificuldades ao nível da Leitura e Escrita, assim como de Fonologia. A realidade que vejo no 1º ciclo é que muitos são os miúdos que passam para o 2º ano sem saberem ainda associar o som à letra. A realidade que vejo no terreno é que os alunos chegam ao 4º ano sem saberem escrever um texto com sentido. A realidade é que no 1º ciclo a dificuldade em reprovar um aluno é enorme, aliás, é impossível pois alunos do 1º ano não podem reprovar e os restantes evita-se ao máximo por causa da idade, por causa de estatísticas ou até do conselho directivo. Reprovar é cada vez mais uma ilusão, por muito que um aluno não adquira conhecimentos não reprova e temos miúdos que transitam para o 5º ano sem saber ler e escrever minimamente em condições. Com jeitinho, chegarão ao 12º ano sem saberem conjugar verbos, sem saberem escrever palavras que não fazem parte do seu quotidiano ou até sem saberem interpretar um texto. Esta é a minha realidade, o meu dia-a-dia e a culpa não é sempre (só mesmo às vezes) dos professores. Nota-se o desespero deles quando os miúdos não conseguem aprender, nota-se as dificuldades que têm ao tentar proporcionar-lhes os devidos apoios, ao tentarem fazer-lhes chegar a aprendizagem. E as reprovações? Como podemos passar os alunos senão sabem ler nem escrever? Como se pode validar a passagem de um aluno que não adquire conhecimentos? Muitas vezes nada tem a haver com problemas de saúde ou psicológicos, mas sim com a falta de trabalho, de maturidade, de regras e de motivação. A escola é cada vez mais desvalorizada em alguns meios e com todo o facilitismo que tem existido cada vez menos as crianças vão compreender que os seus actos têm consequências, cada vez menos vão ter de lidar com a frustração e de compreender que a vida não é sempre como querem.
Não estou a falar só da minha opinião, estou a argumentar com a minha experiência no campo, com aquilo que vejo todos os dias nos locais por onde trabalho. Assusta-me a forma como o ensino está a ser desvalorizado, assusta-me a forma como estamos a ensinar uma sociedade que não se precisa de esforçar para alcançar qualquer tipo de objectivos realistas (lamento, mas todos os meus miúdos do sexo masculino não poderão ser futebolistas). Esta é a realidade que vejo lá fora. Se o ensino fosse diferente? Talvez realmente as reprovações não fossem a melhor opção, talvez cada aluno deveria ter um currículo diferente, de acordo com as suas capacidades depois de ter aprendido o Ensino Básico, talvez o ideal era conseguirmos ter um ensino autónomo e com base na experiência. No entanto, o ensino nacional, não sendo o melhor e estando longe disso, é como é e deteorá-lo, facilitá-lo só irá impedir de formarmos uma sociedade com responsabilidade, com bom senso e com o mínimo de Educação. Se queremos mudar o ensino, algo que estou a favor, temos de começar pela base e não saltar degraus em busca dos números e do famoso "sucesso escolar" que não passa de estatísticas ilusórias.