E o ritmo da vida desacelerou
(Imagem retirada daqui)
Há anos que vinha a falar pelo blog da necessidade da sociedade e de eu própria desacelerar a minha vida. Fui sentindo, ao longo do tempo, que de uma forma ou de outra conseguia alcançar alguns momentos da minha vida em que conseguia viver mais calma, mais lenta e mais relaxada, sem ter de recorrer à velocidade acelerada da vida. Fui lendo sobre o 'slow living' por aqui e por ali e fui desejando isso para mim, contudo, a rotina e os horários tiram-nos essa qualidade de vida que tanto desejamos e que por mais que tentemos o tempo acaba por nos escapar por entre os dedos. Seja no meio do trânsito, por responsabilidades, pela necessidade de trabalhar mais horas ou simplesmente por ter de limpar a casa no único dia de folga.
Este teletrabalho e esta quarentena conseguiram trazer-me um bocadinho dessa sensação de 'slow living'. Tenho vivido a vida numa velocidade mais lenta e tenho conseguido apreciar algumas coisas que me havia esquecido na correria do dia-a-dia.
- Apercebi-me que o tempo poupado em trânsito e em viagem para o meu local de trabalho tem sido compensado em mais uma hora de descanso na cama e em ter a oportunidade de dedicar mais dias da semana à prática de exercício, nunca fiz tanto exercício (talvez na adolescência) como o que tenho feito agora.
- Tenho-me apercebido que o prazer em cozinhar é ainda maior, já não penso só em comidas rápidas e práticas para fazer, mas vou tendo a opção de experimentar novas receitas ou até de fazer com mais calma cada uma das nossas refeições. Os docinhos já têm estado mais presentes na nossa dieta, mas o que gosto mesmo é de os fazer e pelo menos uma vez por semana isso tem acontecido.
- Consigo dedicar alguma parte do meu tempo a ler, mas também a ver séries. Até não tenho jantado a horas muito decentes, pois Ele anda a estudar e ainda há dias que vai para o local de trabalho, mas já não tenho a necessidade de controlar de forma tão precisa o meu horário de deitar pelo simples facto de andar mais relaxada e de saber que no dia seguinte não tenho de conduzir. O tempo que realmente poupo no trajecto para o trabalho tem-me feito aproveitar mais o meu dia, deixando mais tempo para as coisas que mais gosto na vida. Isso sim, é qualidade de vida.
- É mais fácil manter a casa arrumada, sem ter que correr para arrumar a louça da máquina da louça porque já se quer encher outra ou ter de fazer a cama mesmo antes de deitar. É muito mais fácil ir arrumando as coisas ao longo das minhas pequenas pausas do teletrabalho. É claro que o meu 'escritório' fica sempre o caos, mas o resto das tarefas vão sendo feitas sem grande cansaço.
- Aproveitei também para voltar às caminhadas pela terrinha e pelo meio do monte, há quantos anos não fazia uma coisa dessas? Provavelmente ainda antes de casar. Com esta necessidade de ficarmos em casa e por perto acabo por fazer as minhas caminhadas por locais da minha infância, pelo meio da natureza e de forma completamente segura. Já não me lembrava da tranquilidade que tenho aqui na terra e esta quarentena fez-me relembrar do porquê de querer ficar aqui para sempre.
A quarentena não trouxe só receio, a obrigação de ficar em casa e o distanciamento social. A verdade é que trouxe também coisas boas ao nosso dia-a-dia, para quem as consegue ver, tudo na vida tem um lado positivo. Não é fácil e há dias em que sinto que vou enlouquecer, mas começo a habituar-me a esta tranquilidade (apesar de continuar a não gostar do teletrabalho) e a esta falta de correria, mesmo não tendo tanto tempo livre quanto isso, começo até a recear a altura em que tudo voltar àquela corrida louca em que vivia. A quarentena trouxe-me aquilo que andava a desejar há alguns anos, 'slow living'.