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justsmile

13
Jun17

E depois do fim de um blog?

(Imagem retirada daqui)

 

Já ando por estes lados há uns quantos anos e fui-me apercebendo que os meus blogs preferidos são aqueles que me fazem conhecer alguém, sem realmente conhecer essa pessoa (M.J. inspiraste-me para este post). Não sigo, nem tenho muita paciência para ler reviews (a não ser que sejam de filmes e livros) de cosmética e de produtos. Muito raramente participo em passatempos e se já fiz foi por pura simpatia e eu nunca fiz um passatempo. Nem blogs de moda gosto de seguir, lá de longe a longe paro num ou noutro, mas não sigo com a assiduidade que sigo outros blogs. Gosto de conhecer as pessoas, de perceber que não sou só eu com determinados pensamentos ou opiniões e até que aventuras vivem essas pessoas. Acabo por as ler como quem lê um livro, a cada dia um novo capítulo, a cada dia mais um pedacinho dessa personagem que está do outro lado do mundo virtual. No fundo, parecem-me por vezes personagens com história e não pessoas reais, simplesmente porque não as conheço.

No entanto, ao longo dos anos acompanhei imensos blogs, alguns deles que deixaram de existir depois de uma despedida aberta, outros simplesmente desapareceram. Por vezes dou por mim a pensar como estará a vida dessas personagens que já segui. Será que conseguiram conquistar os seus sonhos? Será que as mágoas que tinham desapareceram? Será que são agora mais felizes? Que teriam eles para contar hoje sobre os últimos anos? Acabo por me inteirar de tal forma sobre a vida dessas personagens que com os anos ainda me vou lembrando delas e questiono-me o que lhes terá acontecido. É tal como o fim de um livro em que o autor deixa o seu desfecho em aberto, nunca teremos a certeza do que terá acontecido depois, tudo o que nos venha à cabeça são suposições e só nós lhes podemos dar o final mais ou menos feliz que desejamos. No fundo, inconscientemente, acabo por fazer isso a todos os blogs que já acompanhei e que deixaram de existir. De certeza que a vida continuou para essas personagens, de certeza que continuaram a viver dia após dia, mas tudo o que tenho na minha memória é apenas trechos do seu passado, nada mais. E agora, como estarão? Há vida para além do blog, eu sei, mas não deixa de ser estranho deixar de saber sobre alguém que no fundo nos marcou por um ou outro motivo. Aliás, quando algum blog que sigo deixa de partilhar de si durante algum tempo, que não seja normal, já me questiono se estará tudo bem, se se terá passado alguma coisa, porque tal como um amigo, gosto de saber o que se passa e de ter a certeza de que está bem.

É estranha a forma como este meio virtual nos faz ligar tanto a alguém que não conhecemos. É estranha a forma como nos faz conhecer uma personagem e estranhar a sua ausência. E depois do fim do blog? As palavras das pessoas podem desaparecer e eu até nunca mais saber delas, mas ficarei com as suas histórias na minha memória, tal como um bom livro. Talvez os blogs que sigo sejam isso mesmo, bons livros, reais, com percalços e com muitas alegrias, mas bons livros. Talvez a vida seja isso também, um bom livro que fica sempre na memória de quem lê.

02
Mar17

Do desapego

(Imagem retirada daqui)

 

Tenho dado por mim, várias vezes, a pensar no desapego. No desapego das coisas, no desapego das pessoas e dos problemas. Tenho dado cada, vez mais, por mim a pensar que já me desapeguei de tanta coisa e com isso só me sinto mais leve. Desapeguei-me de pessoas que foram amigas e que só me transmitiam energias negativas. Só se queixavam da vida, com tão pouco para se queixar, só diziam que os sonhos não se concretizavam quando nem se mexiam para os verem realizados. Acabei por gradualmente ir diminuindo o meu encontro com essas pessoas até ao momento ser quase inexistente. Desapeguei-me de quem só criticava e em nada se envolvida, ou de quem se fazia de vítima para ser o coitadinho aos olhos dos outros. Já há muito tempo que me desapeguei dessas pessoas, mas em contrapartida apeguei-me aos que me fazem rir, aos que gostam de me ver feliz e àqueles que de longe a longe mandam notícias ou simplesmente a perguntar como estou. É um desapego bom, dei por mim a saber rodear-me de quem me faz bem, se calhar de um ponto egoísta e egocêntrico, mas que só faz bem.

Dei por mim a desapegar-me do que era velho, a querer deitar mais coisas ao lixo, a querer organizar os meus livros na estante, a querer guardar apenas as memórias que me fazem bem. Empacotei as memórias más e só não as deitei ao lixo porque não tive coragem, mas guardei-as lá num cantinho bem escondido para tão cedo não as encontrar. Dei por mim a deitar ao lixo aquelas calças já velhas, mas pelas quais era apaixonada. Dei por mim a dar aquela camisola que me tinham dado, que nem gostava muito, mas que estava lá guardada para qualquer eventualidade. Dei por mim a empacotar numa caixa de sapatos aquela bijutaria que todos os anos penso ‘não vou deitar fora que pode dar para o carnaval’.

Até dos problemas me tenho desapegado. Com tanta coisa que me tem corrido na cabeça com futuras obras, casamento e o terreno, tenho tido a capacidade de me desligar. Tenho-me desapegado dos mil pensamentos que me correm na cabeça e conseguir deliciar-me com um livro, com uma noite entre amigos ou até com um filme. Dei por mim a desapegar-me do que me deixa irritada, com um nó no cérebro ou simplesmente preocupada. Não tenho fugido aos problemas, mas tenho-os organizado e apenas pensado neles na hora devida.

E tenho-me desapegado de determinados sonhos. Não que estejam eliminados da minha vida, nem lá perto. Mas não tenho vivido só para eles, tenho olhado para outros que estão ao mesmo nível e dado mais atenção aos que estão mais perto de concretização. Tenho tido a capacidade de fugir à frustração do sonho não realizado, tenho conseguido aos poucos aceitar o que tenho e conseguir agradecer o que surgiu no meu caminho.

Tenho nos últimos tempos lidado com o desapego cada vez de uma forma mais directa, mais frontal que apenas me transmite tranquilidade. Tenho vivido tão bem com este desapego que me preenche a alma, em vez de a encher com preocupações, frustrações e desilusões. O desapego não é mau, muito pelo contrário, é dar-nos a oportunidade de apegarmo-nos ao que realmente importa e dar espaço para aquilo que é bom na vida.

 

E vocês, de que precisam de se desapegar?

 

22
Jul16

Há entrevistas esquisitas

(Imagem retirada daqui)

 

A última entrevista que tive, apesar de ter sido a que me deu o presente emprego, foi das mais invasoras em que participei. Tinha ido a uma primeira entrevista, em que fui apanhada desprevenida para escrever e falar em inglês, mas na qual me senti super bem e a qual se tornou numa das melhores entrevistas que tive até ao dia de hoje (lembram-se das minhas entrevistas parvas, não se lembram?). A segunda entrevista, desta vez com a entidade empregadora, foi das mais invasoras, pessoais e esquisitas que também tive até aos dias de hoje.

Inicialmente, tudo completamente normal, dados básicos sobre a entrevista passada, informações sobre as funções, sobre a minha morada e a minha experiência. A partir daí só não disse o meu peso porque o patrão não pediu, senão até isso teria dito. A entidade perguntou-me quantos irmãos tinha, a idade deles, o meu percurso académico, a idade dos meus pais, se tinha carro, até ao momento em que me pergunta como paguei o carro.

"Não paguei, a minha cunhada ofereceu-mo porque tinha de comprar um porque ia ser mãe." - respondi eu com a maior naturalidade possível.

"Então a sua cunhada deve gostar muito de si." - responde-me o homem a sorrir e eu apenas confirmei que considerava correcta a afirmação. - "Então teve uma vida muito facilitada." - a esta questão respondi com a maior naturalidade possível, quase esquecendo que estava numa entrevista a um emprego.

"Facilitada? Nem por isso, sempre tive que lutar pelo que quis." - o sorriso foi inevitável e quase que demonstrei o quão absurda era a afirmação daquele homem.

"Então porquê?" - o ar de admirado dele impressionou-me, eu sei que tenho ar de menina, mas já não o sou há uns bons anos.

"Ora porque se estudei foi porque tive bolsa e lutei para sempre a manter. Se tenho carro foi porque a minha cunhada o deu, porque senão não teria carro e além disso ando a trabalhar à noite, por alguma razão há de ser. Além de que até já trabalhei na área da produção numa fábrica." - isto era eu, a tentar ser o mais resumida possível, mas o homem quis saber ainda mais e ainda perguntou:

"Mas porque isso aconteceu?" -  e lá tive eu de contar a lenga-lenga de que os meus pais tinham tido um negócio de muitos anos, que tinha ido à falência e que tinhamos ficado com dívidas até às orelhas e que por isso sempre tive de lutar para ter o que tinha, que a minha vida de facilitada nada tinha tido. E foi quando me apercebi que estava a contar àquele estranho a história da minha vida, aliás, pormenores da minha vida que nem amigos com quem convivi muito tempo sabiam. Numa entrevista de emprego dei por mim a ser questionada sobre a minha vida pessoal, sobre a minha história e sobre a pessoa que era. Bem sei que ele também tinha feito um resumo da sua própria vida, mas ainda assim saí de lá com a sensação de que tinha dito de mais, principalmente quando me questionou: "É saudável? Fica doente muitas vezes?", a esta questão nem falei das minhas alergias, da minha intolerância e muito menos das minhas faringites, apenas afirmei que sim, que era e sou uma pessoa saudável.

Apesar desta ter sido uma das entrevistas mais estranhas, hoje, conhecendo um bocadinho do meio em que me fui integrar, compreendo as questões daquele dia. O homem queria saber se eu me adaptava a uma nova profissão, se era apenas uma menina que queria ser adulta ou se realmente sabia o que era a vida. O patrão apenas queria saber se realmente era lutadora ou se me deixava ficar e se tinha a papinha sempre feita.

A verdade é que apesar da entrevista estranha, hoje estou lá a trabalhar e até estou a gostar (mesmo não sendo aquilo que idealizava para o meu futuro).

Há entrevistas estranhas, mas pelo menos esta teve um final 'feliz' 

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