E o que os outros pensam?
(Imagem retirada daqui)
Desde pequena que os meus pais me incutiram valores e ideais que ainda hoje agradeço por aquilo que me ensinaram, pela educação que me deram. Durante grande parte da minha vida não me apercebi disso, mas foi com a maturidade, com a convivência com outras pessoas que me comecei a aperceber que talvez a educação que os meus pais me deram não foi assim tão semelhante à maioria das pessoas. Sempre vivi numa aldeia, ainda hoje é aonde permaneço e aonde quero construir a minha casa, e quando refiro que vivo numa aldeia as pessoas assumem imediatamente que toda a gente se conhece e que a galinha da vizinha é a mais cobiçada ou até, simplesmente, começam a falar da mentalidade antiga que ainda existe. Acredito que tal coisa aconteça na terra onde vivo, não o nego, mas a verdade é que tudo me passa ao lado. Se se ouve falar da vida de outras pessoas? Claro, como também vemos nos jornais e nas revistas, mas não acredito que seja diferente de outro qualquer lado. A diferença é que na aldeia há uma maior proximidade que na cidade, daí talvez existirem essas ideias pré-concebidas. É óbvio que sei que algures no tempo o meu nome foi falado por este ou por aquele, é claro que sei que a minha família já foi falada, assim como sei que há quem fale bem e quem fale mal, mas não é mesmo assim a nossa sociedade? Falarmos uns dos outros? Não vejo grande problema nisso, não me preocupa e muito menos vivo a minha vida a pensar no que os outros dizem dela, e é aqui que me apercebi que esta minha mentalidade vem da educação que os meus pais me deram.
Lembro-me de ser pequena e a minha mãe apoiar a diferença, nunca quis que eu simplesmente fosse como os outros. Lembro-me bem dos meus irmãos incentivarem o pensamento próprio, a minha própria personalidade e não simplesmente ir atrás de alguém apenas porque diziam para ir. Ensinaram-me a questionar isto e aquilo, ensinaram-me a viver a minha própria vida sem viver da influência dos outros nela. E esse foi um dos maiores valores que a minha família me deu e só hoje o consigo compreender. Choca-me pessoas adultas, independentes e sem terem que se justificar seja a quem for utilizarem frases como Andam aí a dizer na terra... Não fica bem fazeres isto ou aquilo... E o que os outros vão pensar? Fico sempre com um ar surpreso quando alguém utiliza tais frases e inicialmente nunca sei bem como reagir porque tais argumentos nunca tiveram qualquer peso nas minhas decisões, nas minhas crenças nos meus pensamentos e não o digo simplesmente para ficar bem, digo-o porque é verdade, porque foi assim que cresci. Os meus pais sempre me ensinaram que devia tomar as decisões de acordo com a minha consciência, com os meus valores e seguindo aquilo em que acredito, em momento algum me disseram Olha o que os outros vão pensar! Inclusive, quando a vida esteve mais difícil, quando o meu pai emigrou, nunca vi neles qualquer tipo de pensamento sobre o que os outros iriam dizer ou sobre o que se iria falar na terra sobre eles, apenas vi nos seus rostos o peso de uma decisão difícil e nunca os ouvi lamentarem sobre o assunto. Recordo-me de que quando comecei a conviver com as pessoas da terra, inclusive Ele, em que todos pensavam que a minha família estava bem, e essa nunca foi uma imagem que tentamos passar em tempos difíceis, mas era sim aquilo em que queríamos acreditar, que do pior nos estávamos a safar e apenas tínhamos de agradecer pelo que tínhamos. Os meus pais nunca quiseram viver num faz de conta, nunca quiseram parecer a família perfeita, mas também nunca quiseram viver preocupados com a aparência e nunca se preocuparam com a imagem ou com aquilo que diziam deles. Apenas quiseram viver de bem com a consciência e quando tal não acontecia, fazer o melhor para resolverem a situação, sem nunca pensarem nos outros, apenas neles e na sua família. E agradeço tanto isso aos meus pais, agradeço tanto este ensinamento, pois vejo que assim vivo mais feliz, vivo melhor comigo própria.
Quando ouço a frase e o que os outros pensam? digo vigorosamente que pouco me importa, apenas eu posso viver a minha vida, apenas eu posso tomar as minhas decisões e o que os outros pensam pouco me importa. Importo-me sim com a minha família e com a sua opinião, próxima e um pouco mais alargada, preocupo-me com a opinião dos meus amigos, mas não quer dizer que tome decisões apenas baseadas nos seus argumentos e preocupo-me comigo, com a minha consciência e com o meu bem estar. E os outros? Os outros estão fora desta bolha em que vivo e pouco me importa o que pensam, o que dizem ou o que fazem. Podem dizer o que quiserem, pois só eu sei a verdade da minha vida. Se todos vivessemos assim, apenas com o pensamento em nós próprios e nos nossos, não seriamos uma sociedade mais feliz?