Tirar o melhor partido das coisas
(Imagem retirada daqui)
A vida surpreende-nos muitas vezes, umas vezes de uma forma positiva e outras de forma negativa. A vida nunca é 100% aquilo que planeámos, por muito que tracemos planos, que definamos objectivos e até que nos foquemos apenas neles, há sempre forma de a vida nos dar a volta. Nunca temos o controlo total sobre a nossa vida. É cheia de imprevistos, pequenas coisas que nos alteram o percurso e que fazem com que de uma forma ou outra tenhamos de nos adaptar às novas circunstâncias. Umas vezes a adaptação é fácil, rápida e imediata. Não é necessário processar a informação, lidar com sentimentos ou complicar. Outras vezes essa adaptação é mais demorada, é necessário incutir na nossa cabeça que o percurso foi alterado, sem saber a razão, motivo ou consequência, apenas sabemos que é necessário traçar um novo percurso e começar tudo do zero. E são estas alterações de percurso mais profundas, mais complexas que demoram mais a serem aceites, até porque muitas vezes, durante uma vida inteira, tentamos criar a passadeira para percorrer um único caminho para atingir um objectivo. Não é fácil mudar o caminho, é terrivelmente complicado perceber que encontramos um muro no meio e que não temos altura suficiente para o subirmos, dói perceber que temos de voltar para trás e procurar um caminho alternativo. Por vezes até é necessário fazer o luto daquele objectivo ou até mudá-lo de forma tão drástica que ao vê-lo já nem é o mesmo que um dia foi. Mas a vida é assim mesmo e o que digo para mim, acredito que cada um de vocês também poderá ter passado por algo assim. Acredito que nenhuma das vidas com que me cruzo na rua seja exactamente aquilo que um dia foi planeado.
É simplesmente o conceito de é a vida. Uns adoram esta imprevisibilidade, outros odeiam não conseguirem ter o controlo das suas vidas ou das suas opções, eu encontro-me no meio termo. O ideal é aprendermos a lidar da melhor forma com esta imprevisibilidade que a vida nos dá. Parece tudo muito idílico e poético, falar em aceitar a vida quando esta só parece complicar-se, quando esta parece estar rodeada de ondas de azar ou até quando a queda é tão grande que se torna difícil de levantar. Eu sei, eu compreendo tudo isso, já passei por lá, mais que uma vez até, mas tenho desenvolvido em mim uma coisa que há uns anos não conseguia fazer, aceitar e lidar com as coisas de frente. Se me dissessem aos 12 anos que os meus pais iriam fechar o negócio que mantinham há mais de 20 anos, se me dissessem que o meu pai iria imigrar ou que seria a última pessoa a ver a minha avó paterna viva, eu nunca iria acreditar. Se me dissessem que um dia iria trabalhar 9h por dia sentada a uma secretária em frente a um computador eu iria negar tal possibilidade e diria que estariam loucos. Mas a vida aconteceu, deu-me tantas voltas e aqui estou eu, com todas essas coisas ultrapassadas e se na altura não consegui, agora consigo atribuir lições a cada um destes acontecimentos na minha vida, acontecimentos que me fizeram cair, que me fizeram questionar, mas que no fundo me deram muitas lições e que me trouxeram à pessoa que sou hoje. Foi a vida. Não tenho a quem culpar, talvez um bocadinho da má sorte, mas hoje tenho a capacidade de compreender que de coisas terríveis, difíceis ou até de simples imprevistos conseguimos sempre tirar o melhor de cada acontecimento.
Este é também um pensamento que tenho tentado meter na minha cabeça. Não costumo fazer-me de vítima perante os outros, não gosto de demonstrar o quão em baixo algumas situações da vida me deixam, mas mentalmente (durante muito tempo) senti-me injustiçada, afinal nunca tinha feito tanto mal para receber tudo aquilo. Lidei com todas as situações de uma forma diferente, mas agora compreendo que aprendi com todas elas e que todas elas me ensinaram coisas que ficarão comigo para o resto da vida. É possível tirarmos algo bom das quedas, nem que seja para nos conhecermos melhor, para demonstrar o quão forte e corajosos conseguimos ser. Eu, a maior lição que tirei de todas as quedas que já dei, de todas as alterações que tive de fazer ao longo do caminho é que sou mais resiliente do que alguma vez pensei ser. Sou mais forte do que aquilo que pensava ser. Sou mais corajosa e desenrascada do que aquilo que transmito ser. Não é fácil, mas também nunca nos disseram que a vida é fácil e apesar de todos os percalços nunca tive a capacidade para dizer sou infeliz. E isso faz-me sentir orgulhosa, não só consegui ultrapassar a dor, o luto, o cansaço e a frustração, como consegui sempre encontrar algo de bom na minha vida. Vejo-me como uma pessoa com pouca sorte em alguns aspectos da minha vida, mas vejo-me como uma pessoa feliz. Nunca consegui deixar de sorrir, mesmo que o sorriso tivesse dias mais fracos e sobreposto com algumas lágrimas. Nunca deixei de ter um bocadinho de esperança em mim, por muito fraca que fosse. E nunca, mas nunca deixei de acreditar que tudo iria passar, mesmo que por vezes os dias parecessem infinitos.
Acredito que conseguimos criar a nossa própria felicidade, sou apologista da crença que só não somos felizes porque não queremos e acho que tirar o melhor de cada situação que a vida nos dá é o melhor caminho para a felicidade. É claro que nem sempre é fácil, é óbvio que há dias em que as forças nos faltam e que precisamos apenas de nos deixar cair, mas é quando nos decidimos levantar, quando deixamos a poeira assentar que conseguimos ver com maior clareza que apesar de tudo há sempre algo para estarmos gratos. A vida tem-me ensinado que podemos sempre aprender o melhor das piores situações possíveis. A vida tem-me ensinado que quando caímos, conseguimos sempre levantarmo-nos, mesmo que não seja da forma que idealizamos. A vida tem-me ensinado que aprender com ela é meio caminho andado para a felicidade.